capitulo 1: Mon kanpiang

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Nunca alguém sequer me perguntou o que eu queria para a minha vida, não tive o poder de escolher nem quando eu me casei aos 15 anos com Nop. Perder minha virgindade com ele também não foi minha escolha eu apenas confiei na pessoa.

Em um momento ele era namorado perfeito e mesmo sendo mais velho que eu parecia respeitar meu tempo, em dois meses de namoro nunca me forçou a nada. Porem um dia em seu carro, após ele me buscar na escola e me levar para almoçar, eu inocentemente bebi de sua garrafa que estava no porta-luvas, algo que eu costumava fazer sempre mas estranhei o sabor do líquido, porém meu namorado disse que talvez fosse porque a água estava algumas horas ali.

Lembro que levou exatos 2 minutos para eu apagar e mais 2 horas para eu voltar à consciência e notar que estava no banco de trás do sedan. Quando questionei Nop ele apenas disse que eu adormeci e ele me ajeitou na parte posterior do veículo para eu descansar.

No primeiro momento eu acreditei, não estava sentindo nada e ainda estava grogue mas pensei ser pelo comprimido para enxaqueca que eu havia tomado. Naquela noite algo em minha mente me alertou, eu tinha marcas em meu corpo e um desconforto em minha intimidade, todos os sinais estavam claros para mim, mas eu me neguei a acreditar que Nop tivesse feito algo desse tipo.

Os dias passaram e algo estava errado comigo; sentia náuseas, cansaço e quase todas as noites sonhava com cenas e sensações estranhas. Minha mãe preocupada com minha saúde me levou ao hospital. Este foi o dia em que descobri que estava grávida e tambem foi o dia em que me dei conta que meu ''namorado dos sonhos'' se aproveitou de mim da forma mais suja possível. Meus pais entraram em desespero e eu fiquei horas em estado de choque, só chorava e me culpava pelo que aconteceu mesmo não sendo realmente minha culpa.

Meu pai logo chamou a família de Nop para contar o ocorrido e exigir satisfações mas Nop se mostrou muito solicito e disse que me amava e queria se casar porem em momento algum ele revelou a forma que o bebê que eu carregava foi concebido e, para falar a verdade, nem eu contei nada porque eu estava me sentindo usada.. Vazia. Nossas famílias trataram tudo sem que eu tivesse tempo de questionar, os pais de Nop eram membros da igreja da nossa cidade e meu pai dono de uma pequena loja de decoração. Por ser um homem simples e gentil ele não demorou a aceitar casar sua única filha em menos de 1 mês com o filho do reverendo afim de evitar fofocas.

Desde esse casamento infeliz até meu segundo mês de gestação, eu funcionei no automático. Como uma marionete nas mãos de Nop, ele não ousou me tocar mais e agia como se desejasse sempre ser pai, como se aquele filho estivesse em nossos planos desde sempre.

Em uma noite, como se eu finalmente tivesse acordado de um transe, confrontei o meu então marido quando ele estava em nossa sala estudando.

-Nop?! Quero que olhe pra mim e me responda; Como você pode fazer isso comigo? Porque? ...você faz ideia do que fez? Não seria mais humano você vir conversar comigo ao invés de me drogar para transar?

Ele parou o que estava fazendo e me encarou, seus olhos estavam vidrados e marejados e rapidamente toda a cor do seu rosto desapareceu.

-Eu nem consigo olhar para você e agora carrego um filho seu! me casei com você sem ao menos saber se era isso mesmo que eu queria.

O jovem homem se ajoelhou na minha frente, e podia ouvir que ele chorava como uma criança que caiu no balanço. Ele rastejou e se agarrou nas minhas pernas.

- Me desculpe Mon.. Eu sou um lixo! Eu não tenho perdão! Eu fui o pior tipo de ser humano com você ...eu agi sem pensar, apenas segui meu desejo sem ao menos questionar suas vontades. E no momento em que percebi o que tinha acontecido eu quis te contar, mas pelo efeito do remédio que te dei você não lembrava e eu pensei que tudo ficaria bem, até você ficar grávida e eu perceber que nada mais seria como antes porque você iria perceber o que eu fiz e jamais me perdoaria.

Me afastei dele, fazendo com que ele se desiquilibrasse e caísse com as mãos a frente do corpo.

- E me diz, você realmente acha que você merece meu perdão? Você acha que é digno dele?

Nop fez menção de se aproximar mas dei um passo pra traz e ele parou onde estava, apenas prosseguindo com seu patético pedido de perdão.

- Não ...eu não mereço nada de você Mon, eu sou um verme! Mas eu quero mudar e talvez ...esse bebe, o casamento, seja uma oportunidade para nós. Talvez um dia você possa tentar me desculpar por tudo o que eu fiz e tentar dar uma chance para eu te mostrar o quanto me arrependo. Mas agora pense no bebê que vamos ter, vamos tentar ser pais amorosos para ele, vamos dar a família que ele merece por favor Mon ...vou te suplico.

Não consegui responder ao homem aos meus pés, segui para o meu quarto que era separado ao dele e o deixei ali. Eu nem chorava há muito tempo, talvez porque lágrimas já não faziam sentido para o vazio que eu sentia ou porque já fazia algum tempo que eu não me sentia viva.

Acredito que o que me trouxe a vida novamente foi meu pequeno Benjamin. Quando senti seus primeiros movimentos dentro de mim... quando ouvi seu coração bater e quando ouvi seu choro pela primeira vez.

Enquanto o meu filho crescia, Nop se esforçava para ser um bom pai e um bom marido. Ele lutava todos os dias pôr o meu perdão e depois de um tempo eu passei a tratá-lo como meu companheiro.

No aniversário de 5 anos de Benjamin, Nop me pediu em casamento novamente. Para ele seria a forma de renovar os votos e virar uma página em nossa relação. Acabei aceitando o seu pedido e aparentemente eu me sentia feliz, parecia que a cicatriz dentro de mim finalmente estava parando de sangrar e, quando eu comecei a faculdade de fotografia finalmente eu me vi com um propósito novamente.

Nop terminou a faculdade de filosofia e aceitou ficar no lugar do seu pai como reverendo, realmente durante todos esses anos meu marido vem se dedicando a ser uma boa pessoa, um modelo para nosso filho e um bom marido para mim. Quando Ben estava com 8 anos, resolvemos tentar aumentar nossa família, estávamos em uma aparente felicidade conjugal e eu já me sentia pronta para ser mãe pela segunda vez, tentamos por meses e engravidei em dezembro. Estava feliz por poder acompanhar uma segunda gestação sendo que dessa vez eu era um pouco mais madura e com a cabeça no lugar. Aos 3 meses, assim que descobri que esperava uma menina, acabei tendo um aborto espontâneo. Os médicos disseram que eu não foi culpa e após alguns meses novamente o teste deu positivo. Eu tomei todos os cuidados possíveis e Nop se mostrou um homem bom ao me tratar como uma rainha, ele não me deixava fazer nada e fiquei quase o tempo todo de repouso.

Megan nasceu prematura mais saudável, foi uma alegria sem tamanho e eu vivi meses mágicos ao lado da minha garotinha. Mas como tudo em minha vida mais uma vez não tive o controle sobre o que iria acontecer... Minha bebê parou de respirar em seu berço aos 2 meses e meio. Dizer que fiquei devastada é pouco e, mais uma vez os médicos disseram que não foi culpa de ninguém.

A partir daquele momento eu percebi que eu não comandava nada na minha vida, eu estava em um casamento que embora estável se iniciou contra a minha vontade, eu tinha um filho que era o meu mundo, mas que veio de um ato que até hoje me causa pesadelos, eu não conseguia ter um segundo filho e não conseguia amar meu marido. Mas me conformei que talvez aquela fosse a felicidade que a vida me reservou e não tinha muito o que eu pudesse fazer.

Hoje, com 28 anos, tenho meu estúdio de fotos ao qual dedico todo o meu tempo livre, quando não estou monitorando meu adolescente de quase 13 anos e quando não estou nos sermões de fim de tarde na igreja do meu marido.

Há 2 meses, entrei na fila de adoção depois de muito discutir com Non pois ele acreditava que era um plano de Deus termos apenas um filho. Mas tem muitos meses que não ligo para o que ele diz.

Hoje à tarde tenho a primeira entrevista na agência de adoção e um sentimento diferente me acompanhou desde o momento em que adentrei local.

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