Hypnotized

9 1 0
                                    


Apesar de ter saído do salão com a maior cara de choro do mundo, eu saí um pouco mais leve, eu estava precisando dessa conversa com a Pascale, tanto pra certificar de que, na medida do possível, ela estivesse bem, quanto pra me fazer bem, também na medida do possível; na minha caminhada de volta para o hotel, parei no Garden Perk, um café com uma leve temática de Friends, onde alguns pratos e bebidas levam os nomes dos personagens, além deles terem o melhor bagel que eu já comi, mas hoje só optei pelo Smoothie Monica haha, que é basicamente de frutas vermelhas e muitro gostoso, eu não estou com fome, mas meu corpo estava pedindo por alguma coisa refrescante, optei por pedir para viagem para que eu pudesse ir tomando enquanto caminhava até o hotel.

Quando eu cheguei no hotel, fui até a recepção para registrar mais uma noite, subi para o meu quarto e mandei uma mensagem para os meus pais avisando que voltaria no domingo de manhã e não mais amanhã de manhã, expliquei que a Pascale me convidou para o jantar na casa dela, só omiti o fato de que seria um jantar com a família da Coraline também, para evitar conflitos, com o tempo meus pais vão ver que a Coraline não é uma má pessoa, ela só estava muito quebrada, destroçada, destruída e acabou passando do ponto, mas ela está mostrando ser uma pessoa boa, a pessoa que eu sei que o Charles teria amizade, porque eu sempre me perguntei como eles podiam ser tão amigos com ela sendo uma mal educada de mão cheia, que mal olhava na minha cara quando eu entrei na Ferrari, talvez naquela época ela fosse mesmo e foi mudando, mas falando da Coraline de hoje, essa eu sei que não é uma má pessoa.

[...]

O luto é capaz de mudar completamente uma pessoa, eu estou trancado em um quarto de hotel vendo um filme em uma noite de sexta-feira linda em Monaco, com certeza se o Charles estivesse aqui, ele ia me arrastar para alguma balada ou para um iate com os amigos dele e algumas mulheres para curtirmos a nossa solteirice, mas ao invés disso, eu estou aqui, sem nem olhar pela a janela como está o movimento noturno, primeiro, eu não sinto vontade, pelo menos não ainda, segundo, eu tenho medo do que as pessoas vão dizer, do que vão comentar nas redes sociais, coisas como "olha lá, provoca um acidente e depois sai pra curtir a vida" ou "nossa, nem parece que perdeu o amigo", essa última frase eu já vi algumas vezes nos comentários das postagens da Coraline, o que as pessoas não entendem é que cada pessoa reage as fase do luto de um jeito, eu juro que eu queria conseguir sair, rir um pouco, me distrair, mas eu simplesmente não consigo, eu sei que não é bom ficar preso em um limbo, ficar trancado em casa e deixar o luto se tornar uma depressão profunda, mas hoje eu simplesmente não quero, hoje eu quero ficar quieto no meu canto, não quero lembrar do Charles em cada canto que eu olhar de Monaco, amanhã já vou lembrar dele o bastante na casa dos Leclerc, por hoje eu prefiro dar esse respiro pra minha mente, apenas dando risada do filme bobo de comédia romântica clichê que está passando na televisão, sem pensar em nada, ou pelo menos tentar.

[...]

Eu acordei cedo, coloquei uma roupa de academia, peguei meus fones de ouvido e fui correr um pouco pelas ruas de Monaco, o problema de Monaco é que é um lugar muito pequeno e muito ligado ao automobilismo, então quase todo mundo nas ruas sabe quem você é, mas o lado bom disso é que justamente por ser tão comum ver pilotos e até ex-pilotos pelas ruas Monaco, o assédio de fãs é bem menor, claro, sempre tem os turistas que pedem fotos ou tiram fotos de longe pra mandar para alguém falando "olha quem eu vi em Monaco" haha, então eu consigo correr sem muitas ou quase nenhuma interrupção, como está sendo hoje, está bem tranquilo, talvez seja pelo horário, são 8:15 agora, bem cedo, não tem muitas pessoas acordas essa horas haha. Eu corri por quase uma hora e meia, foi bom para esvaziar a mente, quando eu corro ou pedalo, dificilmente eu penso no que aconteceu, então estou fazendo isso com mais frequência ultimamente, na quinta de manhã eu conversei com a psicóloga e ela disse que isso pode me ajudar, só não posso fazer disso um vício, então me policio e controlo meus tempos de treino, pra não forçar o corpo e a mente.

Racing HeartsOnde histórias criam vida. Descubra agora