Capítulo 1

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     Em uma tranquila cidade do interior, Louisville, situada em meio a riachos e cercada por uma densa floresta, a vida seguia seu curso sereno. Seu centro movimentado contrastava com a paz que pairava sobre os riachos calmos e as colinas verdejantes ao redor. Entre as montanhas que atravessavam a floresta, destacava-se uma peculiar estrutura, meio castelo, meio prédio, meio ginásio - meio alguma coisa -, a Academia Aurora, conhecida por seus alunos excepcionais e por não aceitar visitas.

     Na cidade onde todos se conheciam, os rumores sobre os alunos da Academia ecoavam pelos cantos, alimentando a imaginação dos moradores locais.

     — Meu marido disse que viu luzes estranhas vindas daquela Aurora — disse uma senhora enquanto regava as plantas e conversava com sua vizinha.

     A outra mulher, também uma idosa, com seus lábios rachados, expressou surpresa enquanto aguava as flores do seu lado da cerca.

     — Esse delegado não faz é nada. "Escola para alunos de elite"... Uma ova! — reclamou Dona Hera — O dia que o Griffins sair daquele escritório e bater lá, fecha é tudo!

     Enquanto as amigas de longa, longa — longa — data trocavam de assunto para a filha dos Johnsons que apareceu no baile da cidade com barriga e sem anel no dedo, de fato, um escândalo em Louisville, o riacho que passava atrás de suas casas, seguia lentamente seu curso para a Floresta Boone.

     Entre os pinheiros e as faias de Boone, o riacho assentava em um pequeno lago. A calmaria do Lago County contrastava com os agitados alunos de Louisville que iam lá para se aventurar — até demais.

    A muitos quilômetros da Floresta Boone, uma outra área repleta de árvores, carvalhos, a Reserva Glindslay, estava prestes a ficar inquieta como os alunos de Louisville quando iam para o Lago County, vorazes, sedentos e famintos.

    Um garoto com seus recém 17 anos estava sentado em uma toalha branca com desenhos do tecido em formato de coração. Seus cabelos pretos voavam velozmente na direção do vento com a mesma intensidade que daria seu último suspiro.

     Tony Willis movimentava seus braços e dedos junto com o vento, como se dançassem na mesma sintonia — e talvez estivessem —, enquanto assobiava uma melodia que sua avó cantava para acalmá-lo em noites ventosas.

     Nunca imaginaria nos braços de sua avó que se sentiria tão seguro nas garras do vento se perguntassem a ele com seus 6 anos enquanto tremia com o simples uivo da ventania que atordoava seus ouvidos.

     Tony erguia sua mão direita e pequenos redemoinhos de folhas pelo chão se formavam acompanhando o vento ao redor de seu braço. Ele estava em paz até que um som diferente entrou em conflito com sua canção de ninar. Um galho quebrando.

     Trocando a postura rapidamente, Tony se ergueu e olhou ao redor por entre os carvalhos. Sentia a vibração do ar se alterando à sua frente, mas não conseguia ver nada na direção. O vento se acalmou e apenas a sua respiração podia ser ouvida, Tony estava em alerta.

     — Quem está aí? — perguntou apertando os punhos, pronto para qualquer reação.

     — Haha! - uma risada rouca saiu dentre os carvalhos — Fique calmo, Tony Willis. Logo estará assobiando em sintonia com a vovó.

     Tony recuou, tropeçando nos pés ao ver olhos escuros e penetrantes se formando junto a um sorriso assustador nas sombras. O garoto ligeiramente levantou com a ajuda do ar. Ao ver a silhueta se aproximando, ergueu os braços na direção do perigo formando uma forte lufada de ar.

•••

    Ao chegar na cena do crime e ver os corações pintados de vermelho na toalha abaixo da vítima, o Delegado Mortis pegou seu bloco de anotações na esperança de ter um grande caso em suas mãos, esse seria seu momento.

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