Capítulo 6

18 2 9
                                    

     Desde o acidente na Floresta Sombria, o clima na Academia Aurora havia fechado. Os Heróis Anônimos não haviam mais se reunido, e Laila se culpava fortemente por não ter conseguido proteger Gabriel. Ela se isolava dos outros alunos, evitando até mesmo seus amigos mais próximos, temendo que eles a culpassem tanto quanto ela se culpava.

     Surpreendentemente, os dons de Cura não puderam amenizar os ferimentos de Gabriel. Ele estava acamado, ardendo em febre e com diversos hematomas pelo corpo devido ao esforço extremo de seu poder.

    Praga intensificou os treinamentos de combate na última semana. Seu olhar duro acompanhado das palavras severas ecoavam pela Academia, estimulando o terror entre os alunos. "Vocês precisam estar prontos para enfrentar os perigos que estão por vir, ou serão dilacerados!", ele repetia incessantemente, como um mantra de sobrevivência. As palavras de Praga eram acompanhadas pelo olhar feroz e seu semblante transmitindo a urgência de seus ensinamentos. Cassius, seu braço direito na Academia, estava sempre ao seu lado, observando atentamente os alunos e corrigindo suas falhas com uma precisão quase militar.

     Os treinamentos eram intensos e implacáveis. Praga e Cassius haviam desenvolvido circuitos táticos para os alunos enfrentarem perigos e obstáculos ao redor da Academia e dentro da Floresta Boone, que era considerada mais segura que a Floresta Sombria — por enquanto. Esses circuitos incluíam desde emboscadas simuladas a confrontos diretos entre os alunos, tudo para preparar os estudantes para o que estava por vir.

     Em uma das alas do laboratório de Gaia, Dália segurava uma ampolha de sangue do garoto. Sua bancada estava organizada com béquers contendo diversas plantas e algumas ervas. Dália era uma das alunas mais estudiosas de Aurora e estava constantemente se aprofundando na botânica, buscando melhorar suas habilidades. Ela cultivava plantas criadas e modificadas por ela mesma com propriedades curativas e úteis. Após Cura não ter conseguido usar seus dons em Gabriel, Dália utilizou uma de suas ervas, a Erva Orquídea, nos ferimentos do garoto, o que fez a ferida cicatrizar rapidamente.

     — É um horror o que aconteceu com Gabriel — disse Dália com a voz concentrada, batendo com um dedo em um frasco.

     — De fato — comentou Gaia com a voz firme. — Mas sua Erva Orquídea ajudou muito, Dália. Gabriel se recuperou rapidamente.

     Dália sorriu, satisfeita, mas logo franziu a testa ao observar um painel holográfico.

     — Ei! Olha isso que apareceu — exclamou Dália, apontando para a tela.

    Gaia se aproximou, cautelosa diante do entusiasmo de Dália. A floracinética indicava uma série de dados que acompanhavam o DNA de Gabriel.

    — Os resultados estão diferentes dos dados que tivemos quando ele chegou aqui... — observou Dália.

     Gaia, agora genuinamente curiosa, se aproximou ainda mais, seus olhos fixos nos dados.

    — Nossa... Isso é realmente interessante — murmurou Gaia.

     Assumindo a frente da tela holográfica, Gaia começou a mexer com os dedos no painel, aprofundando-se nas anomalias.

     — Preciso falar com Praga — disse Gaia, a urgência evidente em sua voz.

     Assim que Gaia saiu apressada do laboratório, Dália continuou observando intrigada os resultados. Trocando as páginas no painel, ela parou em uma que continha dados da criatura que Lucas havia trazido. Alguns traços do genoma da criatura eram surpreendentemente parecidos com os de Gabriel que ela havia acabado de observar.

    A curiosidade de Dália aumentou. A criatura estava sedada em outra ala do laboratório, respirando com um som assustador que fazia seus lábios secos e rachados tremerem. O ambiente ao redor da criatura era sombrio e pesado, com uma série de equipamentos monitorando seus sinais vitais.

AuroraOnde histórias criam vida. Descubra agora