wardrobe

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QUANDO o amanhecer chegou, uma chuva incessante caía do céu, tão densa que, da janela, quase não se podia ver as montanhas, os bosques ou mesmo o riacho que serpenteava pelo quintal

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QUANDO o amanhecer chegou, uma chuva incessante caía do céu, tão densa que, da janela, quase não se podia ver as montanhas, os bosques ou mesmo o riacho que serpenteava pelo quintal.

— Tinha certeza de que ia chover! - exclamou Edmundo, com um tom de desapontamento.

Após um café da manhã aconchegante com o professor, os jovens se encontravam na sala que lhes fora designada, um espaço amplo e sombrio, com quatro grandes janelas que deixavam entrar a luz cinzenta do dia chuvoso.

— Não fique reclamando e resmungando o tempo todo - repreendeu Susana, com um leve tom de exasperação. — Aposto que, daqui a uma hora, o tempo melhora. Enquanto isso, temos um rádio e livros à disposição.

— Isso não me interessa - disse Pedro, com uma centelha de determinação no olhar. — Vou é explorar a casa.

Os outros concordaram prontamente, e assim começou a aventura. A casa parecia interminável, cheia de recantos surpreendentes e misteriosos. As primeiras portas que entreabriram revelavam quartos desabitados, como já esperavam. Mas logo encontraram um salão repleto de quadros, onde também descobriram uma impressionante coleção de armaduras. A seguir, uma sala forrada de tecido verde, com uma harpa repousando num canto.

Depois de descer três degraus e subir outros cinco, chegaram a um pequeno saguão com uma porta que levava a uma varanda, além de várias salas, todas abarrotadas de livros de alto a baixo. Os livros eram quase todos muito antigos e volumosos.

— Desculpe - disse Pedro ao perceber que havia esbarrado em alguém. No chão, Luna fechou seu livro e, com um leve gemido, mencionou que o tombo doera.

— Tá ok, não é como se isso não acontecesse o tempo todo. Sempre tropeço em alguma coisa - ela respondeu, aceitando a mão estendida do loiro para se levantar. — Bom dia.

— Bom dia - respondeu Pedro, os dois se encarando por um instante, curiosidade mútua refletida em seus olhares, ambos ocultando seus pensamentos.

— Então, o que vocês estão fazendo? - perguntou Luna, desviando o assunto enquanto colocava uma mecha de cabelo atrás da orelha e dava um passo para trás.

— Sabe, explorando - respondeu Pedro, apenas então Luna percebendo que os outros irmãos também estavam ali. Lucy exibia um pequeno sorriso, Susana olhava curiosa, e Edmundo mantinha uma expressão de desagrado.

— Precisam de mim nesse caso - disse Luna, brincalhona, juntando-se aos irmãos Pevensie em direção às salas que ainda não haviam explorado, sempre compartilhando histórias e travessuras que fizera ali.

Pouco depois, espiavam uma sala onde havia apenas um imenso guarda-roupa, daqueles com um espelho na porta. Nada mais na sala, a não ser uma mosca morta no peitoril da janela. Enquanto exploravam, Luna e Pedro trocavam olhares e sorrisos discretos, uma tensão sutil e romântica pairando no ar entre os dois. Em um momento de descuido, seus dedos se tocaram levemente ao abrir uma porta, e ambos se afastaram rapidamente, com as bochechas coradas.

— Uhm, nunca havia entrado aqui. - murmurou Luna, olhando ao redor da sala e sentindo uma estranha familiaridade com o grande guarda-roupa.

— Você mora aqui desde bebê e nunca veio nessa sala? - perguntou Edmundo, com um tom levemente grosseiro.

— Você é sempre ignorante assim? - rebateu Luna, cruzando os braços e encarando o mais novo.

— E você é sempre tão irritante assim? - retrucou Edmundo, mas Luna foi interrompida antes de responder à altura.

— Bom, aqui não tem nada! - disse Pedro, e todos saíram da sala, deixando-a para trás.

— Estou aqui! - gritou Lúcia de repente, fazendo Luna franzir o cenho ao vê-la sair da sala ofegante. — Estou aqui de volta! Tudo bem.

— Do que você está falando, Lúcia? - perguntou Susana, com um olhar curioso.

— O quê! - exclamou Lúcia, admirada. — Mas vocês não ficaram preocupados?

— Então, você andou escondida, hein? - disse Pedro, com um sorriso malicioso. — Coitada da Lúcia! Ficou escondida e ninguém reparou! Você tem de ficar escondida mais tempo, se quiser que alguém se lembre de ir procurá-la.

— Mas eu estive fora muitas horas - insistiu Lúcia. Os outros se entreolharam, enquanto Luna mantinha uma expressão de curiosidade crescente.

— Sua boba! - disse Edmundo, batendo levemente na cabeça de Lúcia. — Completamente boba!

— O que você está querendo dizer, Lucy? - perguntou Luna, se abaixando para ficar à altura da garota.

— Exatamente o que eu disse. Entrei no guarda-roupa logo depois do café. Fiquei fora muito tempo, tomei chá... Aconteceram muitas outras coisas. — Luna arregalou os olhos, e Lucy a olhou confusa pela reação.

— Não fique bancando a boboca, Lúcia. - disse Susana. — Saímos da sala agora mesmo e você ainda estava lá.

— Ela não está bancando a boboca - defendeu Pedro. — Está imaginando uma história para se divertir, não é, Lúcia?

— Não é não, Pedro. É... é um guarda-roupa mágico. Lá dentro tem um bosque e está nevando. Tem um fauno e uma feiticeira. O nome da terra é Nárnia. Se quiserem, vamos ver. - Lúcia contou, e Luna rapidamente se levantou, acompanhando-a.

Luna lembrava-se vagamente desse nome, dessa terra, das histórias que ouvira. Mas, depois dos dez anos, nunca imaginou que Nárnia fosse real, ou que a passagem para lá estivesse bem debaixo do seu nariz. Ou, nesse caso, acima de seu quarto. Os outros não sabiam o que pensar, mas Lúcia estava tão agitada que todos a seguiram de volta à sala. Ela correu à frente, abriu a porta do guarda-roupa e gritou:

— Vamos, entrem, vejam com os seus próprios olhos!

— Mas que pateta! - disse Susana, enfiando a cabeça lá dentro e afastando os casacos. — É um guarda-roupa comum. Olhem: lá está o fundo.

Todos olharam, afastando os casacos, e viram – Lúcia também – um guarda-roupa completamente comum. Não havia bosque, nem neve, apenas o interior de um guarda-roupa, com os cabides pendurados. Pedro entrou e bateu com os dedos, certificando-se da solidez da peça.

— Boa brincadeira - disse Susana ao sair. — Você nos pregou uma boa peça. Quase acreditamos.

— Mas não é mentira coisa nenhuma! Palavra de honra! Há um minuto estava tudo diferente. Palavra que estava!

— Vamos, Lu. - disse Pedro. — Você está exagerando; já se divertiu muito. É melhor acabar com a brincadeira.

Lúcia ficou vermelha até a raiz dos cabelos. Assim que os Pevensie se viraram para sair, Luna olhou atenta para a mais nova, se abaixando novamente.

— Não acreditam em mim. - lamentou Lúcia, com as bochechas e o nariz vermelhos, claramente prestes a chorar.

— Mas quer saber? Eu acredito. - disse Luna, ganhando a atenção de Lúcia. — Não porque eu acho que, se eu acreditar, você vai continuar com a imaginação fértil - as duas riram. — Mas porque eu acredito que existem outros mundos que esperam ansiosamente as nossas mentes brilhantes.

A garotinha sorriu, um pouco mais feliz por ter ao menos uma pessoa acreditando no que ela dizia.

— Vem, vamos tomar um chocolate quente com marshmallow extra. - sugeriu Luna, levantando-se e segurando a mão de Lúcia. A garota fechou a porta, dando uma última olhada no guarda-roupa.

Se aquele lugar era real, por que eles não viram quando entraram lá?

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WAR OF HEARTS || Pedro PevensieOnde histórias criam vida. Descubra agora