stone table

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AINDA cobrindo o rosto com as mãos, as meninas ouviram a voz da feiticeira:

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AINDA cobrindo o rosto com as mãos, as meninas ouviram a voz da feiticeira:

– Sigam-me todos e acabemos com o que resta da batalha. Não será difícil esmagar o verme humano e os traidores, agora que o grande louco, o gatão, está morto.

As três passaram por grande perigo. Pois, com gritos selvagens e som de trombetas, aquele restolho da criação partiu em disparada do alto da colina para a encosta, passando rente ao esconderijo. Os espectros foram como um vento gelado; o chão tremeu com o galope dos minotauros. Esvoaçou sobre as cabeças das duas garotas uma grande mancha imunda de abutres e morcegos gigantes. Em outra situação, teriam tremido de medo, mas agora tinham a alma tão cheia de tristeza, vergonha e horror pela morte de Aslam que nem tempo tiveram de ter medo.

Quando tudo se acalmou, Susana, Luna e Lúcia foram para o alto descoberto da colina. Ainda era possível distinguir, apesar das nuvens delicadas que ocultavam a lua, o vulto do Leão, que jazia morto nos grilhões.

As três se ajoelharam na relva molhada, beijaram o rosto frio de Aslam, acariciaram seu bonito pêlo – o que ainda restava dele – e choraram amargamente, até que não puderam mais. Olhando uma para a outra, deram-se as mãos, porque se sentiam sós, e choraram de novo. Depois voltaram a calar-se. Lúcia disse, por fim:

– Não suporto vê-lo com esta horrível mordaça. Conseguiremos arrancá-la?

Tentaram. Depois de muito esforço (tinham os dedos gelados e estava muito escuro) conseguiram, usando Primavera (espada de Luna). E ao verem o rosto de Aslam sem a focinheira, desandaram a chorar outra vez. E beijos. E carícias. Limparam- lhe o melhor que puderam o sangue e a espuma. Não tenho nem palavras para lhe contar a solidão, o desespero, a desolação daquele momento.

– Será que conseguimos também desamarrá-lo? – perguntou Susana. Mas os inimigos, só de maldade, tinham apertado tanto as cordas, que as meninas não puderam desfazer os nós.

A escuridão pesava sobre elas, sufocando-as em um abismo de desespero. Ouvindo a voz da feiticeira, seus corações afundaram ainda mais nas profundezas sombrias da tristeza. Os gritos selvagens e o tumulto da batalha ecoavam em seus ouvidos, mas nada poderia penetrar o véu de luto que envolvia suas almas dilaceradas pela perda de
Aslam.

Mesmo quando o perigo passou, não havia alívio, apenas o vazio gelado da solidão. Ajoelhadas na relva molhada pela chuva, elas choraram lágrimas amargas, beijando o rosto frio do Leão, suas mãos tremendo de dor e desamparo. A tentativa desesperada de libertá-lo das amarras só amplificou sua angústia, pois os nós eram um testemunho cruel da crueldade de seus inimigos. E assim, sob o céu escuro e implacável, elas enfrentaram a noite, envoltas na melancolia de um mundo despedaçado.

Passaram horas naquela calma absoluta, e nem notaram que estavam ficando regeladas. Mas Luna reparou em duas coisas: uma era que o céu sobre a colina estava muito mais claro do que antes, e a outra era que um movimento quase imperceptível percorria a relva a seus pés. A princípio não se importou: já nada importava agora. Mas viu que algo começava a subir pelas pedras verticais que sustentavam a Mesa de Pedra.

WAR OF HEARTS || Pedro PevensieOnde histórias criam vida. Descubra agora