Alerta gatilho: crise de ansiedade, se for sensível, não leia
— Pensa em alguma coisa, João! — disse para si mesmo
No estúdio sob a luz baixa e amarelada, Jão encara a tela do computador aberta em uma página em branco, pronta para receber novas palavras. Já fazem 10 minutos que ele está ali, em busca de ideias que nunca vinham, que pareciam estar reprimidas
— Qualquer coisa, porra, só escreve alguma coisa! — se forçava a escrever alguma coisa, mas nada vinha, o que já estava o deixando irritado
Seu bloqueio criativo ajudava a dificultar as coisas, há prazos que precisam ser cumpridos e ele precisa entregar as letras do novo álbum conforme o planejado, um atraso sequer e já será preciso refazer tudo, agora não é hora para bloqueio criativo e falta de ideias. Ele precisa entregar algo bom para seus fãs, precisa entregar algo, todos estão esperando por mais músicas, letras, ritmos e melodias diferentes, todos têm expectativas muito altas a respeito do cantor, portanto, ele precisa supri-las custe o que custar, é o que ele pensa
— Por favor, João, não decepcione todo mundo, você passou por tanta coisa pra chegar até aqui… — disse baixo, na tentativa de que seu cérebro entendesse a situação e começasse a lhe fornecer novas ideias
João Vitor recordara dos comentários maldosos que recebe todos os dias em suas mensagens diretas de todas as redes sociais, dos gritos de seus fãs ao cantarem uma música sua em um show seu, do quanto eles o amam e têm altas expectativas sobre o que está por vir. Também pensava em Pedro, Renan, Zebu, nos outros produtores e pessoas da equipe, como iria dizer a eles que terão de reformular o planejamento por causa de um maldito bloqueio criativo dele mesmo?!
— Não! Eu não vou fazer isso! Vamos, alguma coisa que já usei antes… — se propôs a pensar — Não, tem que ser algo original, como o Zebu disse. Mas… O que? O que de original eu vou fazer?
Colocou as mãos no teclado do notebook, se prontificando a fazer algo, mas não consegue digitar nada, nenhuma palavra sequer, nada vinha à sua mente, nem ao menos uma rima
Lembrara das tantas premiações que já havia ganhado, ganhar prêmios é bom, mas a parte que ninguém conta é da pressão que isso gera. A maioria das pessoas só enxerga o troféu, não o esforço, não a dedicação, as noites sem dormir e tantas feridas passadas que foram abertas para que ele sangrasse em música. O pensamento de sempre ser melhor do que antes já o estava destruindo por dentro, não queria competir com ninguém, mas não aguentava mais ter que competir com si mesmo
Sentiu os olhos pesados de água, mas tentou segurar, não pode chorar justo agora, seu foco deveria ser apenas na composição
— Alguma coisa, cria alguma coisa, qualquer coisa… — implorou uma última vez, mas sua voz saiu falha pelo choro que se aproximava
Então conformou-se que não iria conseguir escrever mais nada a essa altura do campeonato e apenas deixou que seus sentimentos transbordassem em finas lágrimas, que desciam pelos cantos de seus olhos. Tudo que passava por sua cabeça era o que as pessoas iriam pensar dele, se atrasasse as letras e deixasse se suprir tudo que esperavam dele, não poderia entregar letras rasas, mas não conseguia escrever nada
Aquilo lhe levou a um loop de pensamentos, cada um pior do que o outro, o medo de não ser bom o suficiente o afetava cada vez mais, assim como todas as suas inseguranças vinham à tona. O cantor sentiu suas mãos tremendo e suando frio, afastou-se da mesa e, ainda sentado na cadeira, tentou respirar fundo, mesmo sentindo certa dificuldade. De repente, o ar já não parecia mais circular ali, o que o fez se desesperar ainda mais, colocou as mãos no peito sentindo o coração palpitar fortemente, tentou de todo modo se acalmar, tentando regular a respiração, mas sendo em vão
A sala começou a girar, sua visão ficou turva e uma tontura cada vez maior começou a dar conta de seu corpo trêmulo, seus pensamentos estavam a mil, sua cabeça já doía de tanto chorar e não conseguir parar. Fechou os olhos tentando se acalmar e, quando os abriu de novo, percebeu todo o estúdio em horizontal, a cadeira em que estava sentado estava caída no chão, assim como seu próprio corpo— Certo, eu vou falar com os organizadores pra ver como dá para fazer — Pedro disse saindo da sala
— Tudo bem, depois você me dá um retorno? — Renan perguntou fechando a porta
— Claro, depois te falo tudo com mais detalhes
— Ok, então vou indo lá
— Ah, Renan! — o chamou, fazendo o sócio se virar
— Oi, que foi?
— Sabe do João? Não vi ele a tarde inteira
— Ele deve estar no estúdio, quando fui lá, vi ele com o Zebu
— Mas isso já fazem horas, ele ainda tá lá? — disse para si, mas seu colega de trabalho ouviu
— Não sei, vai lá dar uma olhada
— Vou fazer isso
— Tudo bem, então a gente se fala depois, até mais — sorriu e saiu andando pelo corredor
— Até mais — sorriu também e passou a andar, mas na direção contrária, indo até o estúdio
Só que algo estava errado, ele sabia, conseguia sentir, João não passava tanto tempo assim sem dar notícias, mesmo que esteja compondo
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Versos e acordes: um compilado de sentimentos (Pejao)
Fanfiction- Um compilado de oneshots individuais Pejão - Sem nsfw - Nada do que é escrito aqui é real - Isto é apenas para entretenimento público, não tenho a intenção de ofender ngm!!!! - História de minha autoria ⚠️ PLÁGIO É CRIME ⚠️