Cadou.

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Me vejo parada no meio da floresta, mas aquela não parecia eu.
Não.
Estava longe de ser qualquer coisa parecida ou semelhante a mim.
Eu sentia meu corpo quente, como se todo meu sangue estivesse fervendo.
Minha respiração doía com o frio.
Tento raciocinar aonde eu estava, eu não estava correndo minutos atrás?

Continuo a observar a floresta escura e vazia, até que escuto barulhos, observo minhas mãos, que pareciam estar distorcidas.
Até que percebo.

Aquilo tudo não era real, eu estava... Inconsciente? Em um sonho lúcido? Mas aquilo não era real.

Eu havia apagado sim...horas atrás na floresta escura, até que uma menina me encontrou...

Quem havia me encontrado...?

Eu tento relembrar... Mas não consigo lembrar seu rosto.

"Você não consegue lembrar o rosto dela?"-De repente, uma voz feminina e em um tom um pouco sarcástico me puxa de meus próprios pensamentos e hipóteses.

"O que? Quem é?"-Eu disse, não sentia medo, sabia que estava sonhando ou seja lá oque fosse tudo aquilo que estava acontecendo. Eu não enxergava nada a minha frente, apenas escutava os passos na neve.

"O rosto dela... Você não se lembra?"-Quando escuto a voz novamente, desta vez mais perto, me assusto um pouco, a voz era... Muito familiar... Quase como se fosse minha própria voz.

"Quem?O rosto de quem?!"

"Da rose."

Escuto meu coração, suas batidas acelerando, um arrepio percorrer minha nuca, o silêncio, apenas minha respiração e o vento assoviando, entregando uma atmosfera solitária e intensa.

"Rose..."-Eu repito, sentindo quase como se eu ainda pudesse sentir o calor de rose em meus braços... Quando ela era apenas um bebê e eu contava histórias todas as noites, quando eu cuidava dela enquanto Mia trabalhava...

Quando percebo... Ao tentar lembrar de Rose ou de qualquer outra memória minha antes de obter o cadou em meu corpo, eu não lembrava... Era como se tudo fosse um simples borrão... Ou um sonho que nunca deverá ser vivido.

Apenas uma realidade diferente da minha, quase como outra vida.

"Desde quando você se tornou tão distante a ponto de não lembrar o rosto dela?"

Eu sinto uma certa dor carregada nesta frase, respiro fundo, apertando meus próprios punhos.

"Não foi minha culpa, eu tinha que deixá-la ir. Eu tive que a deixar... Pelo bem dela."

"Eu sei disso. Mas isso não responde a minha pergunta. Desde quando esqueceu dela? Você a esqueceu tão facilmente?"

Fico em silêncio por alguns segundos, eu sabia a resposta... Ah sim eu sabia... Desde que o cadou tomou conta de mim, mas eu procurava palavras certas para responder.

"Desde que o cadou foi implantado em mim."

Eu espero por mais alguma resposta,qualquer coisa, seja uma pergunta, ou seja lá mais o que.

"Quem e você?"-Eu pergunto.

"Eu? Eu sou você."

"O que?!"-De repente eu começo a rir, quase que de nervosismo, a escuridão e o silêncio não ajudavam-"Isso é impossível."

"Eu sou você, antes do cadou."

Eu me ergo, quase que ainda incrédula, eu com certeza deveria ter batido a cabeça na queda, fico em silêncio, apenas deixando o vento falar por mim, eu me convenci que eu estava maluca, não tinha como aquilo ser possível.

O diabo em forma de mulher. Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora