Marília Mendonça:
Sem muito o que fazer, em pleno sábado, marcamos um fut com a galera.
Tinha ido na loja de roupas e comprado um uniforme de jogo para aquela pequenininha e uma chuteira. Arrumei sua bolsa e arrumei ela. Penteei seus cabelinhos e calcei suas chuteiras. Tirei uma foto dela arrumadinha só pra ter o orgulho de dizer que fui eu quem arrumou.
Depois de nós duas estarmos arrumadas, peguei minha mochila, sua bolsa, montei seu carrinho e coloquei ela ali, prendendo o cinto.
- Viu, bebê, eu já estou aprendendo..
- Ma... Ma... Ma... - Ela diz com a mãozinha na boca e a outra batendo no carrinho.
Sorrio, sentindo meu coração transbordar. Bagunço seus cabelinhos e beijo sua testinha. Coloco minha mochila nas costas e penduro sua bolsa no carrinho, tranco a porta e vou para o elevador. Chegando no carro, coloco ela no bebê conforto e guardo nossas bolsas e seu carrinho na mala. Entro novamente e dou partida.
Ligo o som colocando umas músicas aleatórias e fui cantando. Ela me acompanhava, dando seus gritinhos e balançando seus pézinhos. Ali percebi que eu já tinha a melhor companhia que eu precisava.
Levei minha mão até o banco de trás, fazendo carinho em sua perninha, e ela colocou a mãozinha sobre a minha. Fiquei com a mão ali por boa parte do trajeto, mas quando precisei tirar, ela fez bico, quase chorando. Tentei acalma-la, mas não deu certo, ela começou a chorar. Estacionei o mais rápido o carro e sai, abrindo a porta e tirando ela do bebê conforto.
Ela só se acalmou quando pode deitar a cabeça em meu peito, escutando meu coração bater. Suspiro aliviada, fazendo carinho em suas costas.
- Eu estou aqui, bebê. Eu estou aqui. - Digo beijando sua cabecinha.
Fechei a porta e fui até a mala, pegando nossas bolsas. Tentei por ela no carrinho, mas não adiantou, ela não queria me soltar, então fui empurrando o mesmo e rezando para que ela não caísse dos meu braço.
Entrei no clube e fui ao encontro da galera. Todo mundo me olhou com os olhos arregalados.
- Uma bebê? - Murilo disse, espantado.
- Não é uma bebê, é a minha bebê. - Digo exibindo a chuteurinha que ela calçava.
Meus amigos correram para babar ela. E ela, muito animada, se exibiu. Começou a sorrir para todos. As meninas vieram e roubaram ela dos meus braços, e ela foi, mas não tirou os olhinhos dos meus.
Aproveitei para calçar minhas chuteiras, coloquei as bolsas dentro do seu carrinho e bebi um pouco de água. Todo mundo está ao redor dela, e isso me preocupa, tampa minha visão. Por algum motivo, me dá agonia não saber o que está acontecendo com a bebê, ou o que estão fazendo.
Para ela, são desconhecidos. Tem homens em volta e, por mais que eu os conheça, não conheço seus pensamentos e coração. Me apresso em ir até ela, entrando no meio da galera e pegando a bebê nos braços. Ela riu pegando meus cabelos.
- Oh, loira, deixa ela com nós. - Diz uma das meninas.
- Deixo nada. - Digo rindo, tentando disfarçar aquilo que eu sentia. Peguei uma bola, sentei ela no gramado e me sentei logo a sua frente.
Se Maiara estivesse aqui, iria me matar por deixar ela nesse gramado, mas ela tem que entender onde está e entender que eu amo essas coisas e que sempre vai vir comigo se Maiara não estiver em casa. Começo a jogar a bola pra ela, e ela joga de volta.
Babando naquilo, eu peço para uma das meninas gravar. Ela jogava rindo, desajeitada, mas empolgada. Até que a bola parou no meio do caminho, e ela apoiou os joelhinhos no gramado, apoiou suas mãozinhas e, meio receosa, veio até a bola.