Zero - Epílogo

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Mudar de colégio não é algo que me agrada, em nenhum sentido.

Tem professores novos, pessoas novas, e leva tempo até que enfim esqueçam completamente de minha existência, fazendo com que eu me torne invisível novamente. Por isso odeio mudanças.

E principalmente, odeio pessoas que forçam mudanças, ou aquelas pessoas que são a causa dessas mudanças. E é exatamente por isso, que agora meu irmão está fazendo de tudo para que eu volte a falar com ele.

— Vamos B/N, quer tomar sorvete depois da aula hoje? De baunilha, o seu preferido. - Ele suspirou frustrado, quando não obteve respostas.

Nossa família não é comum, na verdade ela é bem estranha, a gerações cada membro da família que nasceu, acabou despertando uma habilidade especial aos 5 anos. Sim, nós temos poderes sobrenaturais, e como podem imaginar, temos que mantê-los em segredo dos seres humanos normais.

Mas o idiota do Kuroo, meu irmão mais velho, resolveu atacar um garoto com seus poderes, em um surto de raiva. Meu irmão consegue mover as coisas com a mente, sem precisar tocar aquilo, e ele arremessou um garoto em uma parede do banheiro masculino, só porque o maldito garoto riu de sua apresentação em sala.

Kuroo tem certos episódios em que sua raiva transborda e ele não consegue controlar suas atitudes, e bem, sendo da família que nós somos, isso é bem perigoso, para nós, e também para a pessoa que irá receber essa raiva toda.

Nós estávamos todos sentados na mesa de jantar, tomando café da manhã, Kuroo e eu teríamos que ir para o colégio novo após terminar de comer, e apenas esse pensamento já me deixava irritado com meu irmão.

Levantei meu olhar e fiz contato visual com Kuroo por meros segundos, isso fez ele recuar um pouco e desviar o olhar.

"Porra por que do nada tá me encarando!?"

— Tem medo que eu escute seus pensamentos? Por que recuou? Sabe que eu só olho para essa sua cara quando quero ouvir oque você está pensando. - Respondi aos seus pensamentos enquanto desviava o olhar e voltava a comer meu cereal com leite.

Através do contato visual, eu consigo escutar oque as pessoas estão pensando, com o tempo percebi que muitos pensavam coisas ruins, como xingamentos, insultos ou palavras de repulsa sempre que olhavam para mim. Então parei de fazer contato visual com as pessoas ao meu redor, apenas faço isso quando tenho curiosidade com algo, ou para descobrir alguma coisa.

Isso irrita minha família, eles não gostam que eu seja tão fechado, calado e isolado o tempo todo, mas no fundo eu sei as coisas que eles pensam sobre mim, é por isso que escolhi me afastar.

E eu prefiro assim.

— Estou saindo. - Avisei assim que terminei de comer.

Caminhei calmamente até meu quarto, escovei os dentes no banheiro e me olhei no espelho pela primeira vez naquele dia. Talvez seja por isso que as pessoas pensam aquelas coisas quando me olham.

(A descrição que eu vou dar é como eu vou imaginar enquanto escrevo, mas vocês possuem total liberdade para dar outra descrição e imaginar seu próprio modelo, de sua preferência.)

Meu cabelo tem uma cor estranha de nascença, a raiz até a metade da franja é uma cor escura como a noite, e então o restante do cabelo é completamente branco como a mais pura neve, meu cabelo possui um comprimento mediano, batendo bem no início de meus ombros.

Meus olhos são cinzas, um tom tão escuro de cinza, que pode ser facilmente confundido com preto, eles são opacos, qualquer um que olhe para eles, pode pensar que não existe vida ali. E eu não os culpo por pensar assim, afinal perdi essa vontade estranha de viver que todo ser humano possui.

Existe mesmo valor, nisso que chamamos de vida?

Essa é uma pergunta que costuma ocupar minha mente diariamente, mas ainda não consegui achar a resposta.

Saí do meu quarto e desci as escadas, peguei minha mochila em cima do sofá e andei até a porta, pronto para ir para o novo colégio.

— Espera pirralho. - Escutei Kuroo gritar, e seus passos rápidos até a porta.

Não olhei para trás e nem diminuí o ritmo de minha caminhada, se ele quiser, ele que corra até aqui.

— Seu pequeno desgraçado fofo! Mandei esperar. - Novamente ele gritou.

Escutei um resmungo irritado quando eu peguei meu fone de ouvido e coloquei, ligando uma música aleatória em meu celular. Pelo canto dos olhos, vi Kuroo chegar ao meu lado e parar de correr, ele mostrou o dedo do meio para mim. Apenas revirei os olhos e continuei meu caminho.

Eu só espero que as pessoas esqueçam rápido dessa história de aluno novo.

ᶜᵒⁿˢⁱᵍᵒ ᵉˢᶜᵘᵗᵃʳ ˢᵘᵃˢ ᵐᵉⁿᵗⁱʳᵃˢ | 𝙺𝚊𝚣𝚞𝚝𝚘𝚛𝚊 𝚡 𝙼𝚊𝚕𝚎 𝚁𝚎𝚊𝚍𝚎𝚛Onde histórias criam vida. Descubra agora