δύο

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Meu dia começou horrível, acordei atrasada, queimei minhas torradas, borrei minha maquiagem e quebrei meu vidro de perfume ca-ris-si-mo. Eu sabia que toda aquela ansiedade era por culpa da formatura que aconteceria dali uma semana e, a cada buzinada que eu dava no volante, esperava a mágica acontecer com os dias avançando até sábado.

Não rolou, e foram mais de sete.

Um homem havia batido com seu carro popular em uma Mercedez-Benz fodida de linda, desesperado que viesse a ter de arcar com qualquer custo — qual ele claramente não teria como cobrir — começou a jogar a culpa no engravatado e então ambos passaram a brigar, a policia foi chamada e eu não conseguia acelerar por culpa do mini engarrafamento.

Essa foi a história que o motociclista parado ao lado me contou.

Quando enfim cheguei ao prédio da Ajax, estava com um copo de capuccino em mãos e um saquinho de pão fresco com molho de uma padaria qualquer que nem olhei o nome. Mas o que estava ruim poderia piorar, sempre piorava.

A porta do elevador abriu, eu saí rápida, distraída e acabei trombando o corpo em alguém que estava prestes a adentra-lo.

Droga.

Atena usava camisa de botões branca, o mesmo blazer vermelho oversized de quando a conheci e calça social off white com um cinto fino da Pallas. Meu copo de café estava pela metade e a outra parte tinha ido parar no tecido impecável da empresária, que tinha os olhos fechados e as mãos em punhos.

— Meu deus! Me desculpa. — Exclamei horrorizada com o que havia feito.

Vasilaki nada disse, deu as costas e foi até o banheiro pisando firme.

Eu a persegui.

La dentro, o blazer rubro já estava jogado em cima da pia e ela desabotuava botão por botão com desespero, resmungando palavras inaudíveis em grego.

— Atena eu-

Ela continuou a falar — alto — na língua materna e ao perceber minha cara de bocó, parou, respirou e repetiu a frase em espanhol:

— Deveria ter prestado mais atenção, eu sei. Já foi. — A voz saiu séria sinalizando em desdém — Desmarque todas as reuniões que tenho hoje, inclusive a de agora. Ligue em casa e peça para governanta me enviar uma peça de roupa através de Gustavo, meu segurança.

— Eu... Eu posso ajudar, eu te dou a minha. — Tirei o casaco e passei a desabotuar a blusa que era branca como a dela.

Ela arqueou a sobrancelha, descrente com a minha atitude.

— E você vai trabalhar como? Pelada? — A grega parecia se controlar para não ser mal educada, e ainda sim não estava conseguindo.

Entreguei minha camisa para a mulher, muito provavelmente serviria. Meus seios eram — bem—  maiores que os seus, iria ficar mais folgada, mas nossa altura era quase igual. Eu media 1,74cm — sim eu sou uma girafa — e ela era um pouquinho maior, bem pouco, cerca de dois centímetros.

Atena se limpou com lencinho umedecido — ela levava na bolsa Valentino — passou perfume, vestiu minha camisa e, por desespero, me aproximei para ajuda-la a fechar, torso esguio recuou por instinto, como se aquilo fosse muito pessoal, mas cedeu ao entender que estava com pressa — e qualquer ajuda era bem-vinda. Enquanto eu unia as extremidades do tecido, ela ajeitava-o por dentro da calça.

— Me desculpa. — Pedi envergonhada.

— Desculpada. — Fitou-me intensamente com aqueles olhos de Chesire, analisou meu rosto assustado com minúcia, pegou o blazer vermelho, vestiu e saiu do banheiro andando firme nos oxfoards caramelo.

Atena - Romance Sáfico Onde histórias criam vida. Descubra agora