Meu dia começou horrível, acordei atrasada, queimei minhas torradas, borrei minha maquiagem e quebrei meu vidro de perfume ca-ris-si-mo. Eu sabia que toda aquela ansiedade era por culpa da formatura que aconteceria dali uma semana e, a cada buzinada que eu dava no volante, esperava a mágica acontecer com os dias avançando até sábado.
Não rolou, e foram mais de sete.
Um homem havia batido com seu carro popular em uma Mercedez-Benz fodida de linda, desesperado que viesse a ter de arcar com qualquer custo — qual ele claramente não teria como cobrir — começou a jogar a culpa no engravatado e então ambos passaram a brigar, a policia foi chamada e eu não conseguia acelerar por culpa do mini engarrafamento.
Essa foi a história que o motociclista parado ao lado me contou.
Quando enfim cheguei ao prédio da Ajax, estava com um copo de capuccino em mãos e um saquinho de pão fresco com molho de uma padaria qualquer que nem olhei o nome. Mas o que estava ruim poderia piorar, sempre piorava.
A porta do elevador abriu, eu saí rápida, distraída e acabei trombando o corpo em alguém que estava prestes a adentra-lo.
Droga.
Atena usava camisa de botões branca, o mesmo blazer vermelho oversized de quando a conheci e calça social off white com um cinto fino da Pallas. Meu copo de café estava pela metade e a outra parte tinha ido parar no tecido impecável da empresária, que tinha os olhos fechados e as mãos em punhos.
— Meu deus! Me desculpa. — Exclamei horrorizada com o que havia feito.
Vasilaki nada disse, deu as costas e foi até o banheiro pisando firme.
Eu a persegui.
La dentro, o blazer rubro já estava jogado em cima da pia e ela desabotuava botão por botão com desespero, resmungando palavras inaudíveis em grego.
— Atena eu-
Ela continuou a falar — alto — na língua materna e ao perceber minha cara de bocó, parou, respirou e repetiu a frase em espanhol:
— Deveria ter prestado mais atenção, eu sei. Já foi. — A voz saiu séria sinalizando em desdém — Desmarque todas as reuniões que tenho hoje, inclusive a de agora. Ligue em casa e peça para governanta me enviar uma peça de roupa através de Gustavo, meu segurança.
— Eu... Eu posso ajudar, eu te dou a minha. — Tirei o casaco e passei a desabotuar a blusa que era branca como a dela.
Ela arqueou a sobrancelha, descrente com a minha atitude.
— E você vai trabalhar como? Pelada? — A grega parecia se controlar para não ser mal educada, e ainda sim não estava conseguindo.
Entreguei minha camisa para a mulher, muito provavelmente serviria. Meus seios eram — bem— maiores que os seus, iria ficar mais folgada, mas nossa altura era quase igual. Eu media 1,74cm — sim eu sou uma girafa — e ela era um pouquinho maior, bem pouco, cerca de dois centímetros.
Atena se limpou com lencinho umedecido — ela levava na bolsa Valentino — passou perfume, vestiu minha camisa e, por desespero, me aproximei para ajuda-la a fechar, torso esguio recuou por instinto, como se aquilo fosse muito pessoal, mas cedeu ao entender que estava com pressa — e qualquer ajuda era bem-vinda. Enquanto eu unia as extremidades do tecido, ela ajeitava-o por dentro da calça.
— Me desculpa. — Pedi envergonhada.
— Desculpada. — Fitou-me intensamente com aqueles olhos de Chesire, analisou meu rosto assustado com minúcia, pegou o blazer vermelho, vestiu e saiu do banheiro andando firme nos oxfoards caramelo.
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Atena - Romance Sáfico
RomanceAtena é uma mulher grega de 43 anos e empresária no ramo de roupas de grife e transportes petrolíferos da Ajax Corporation. Bilionária de berço, sua fama na mídia gira em torno de ser uma personalidade implacável, sexy, manipuladora, carismática e c...