4

4 1 0
                                    

A semana seguinte se passou como uma espécie de novidade para Harry — não era comum, em sua vida, tudo estar tão tranquilamente bem, mas estava. As aulas seguiam bem, ele se sentia cada vez mais acostumado com a nova função. Dar aulas era, de fato, algo que o grifano gostava muito mais do que o antigo trabalho de auror. Acontece que ele sempre se sentiu mais seguro em Hogwarts do que qualquer outro lugar, o que era um contraponto maravilhoso quanto ao caos e constantes pesadelos de ser um auror.

O fato de ver seus filhos com frequência contribuía também. Eles haviam combinado de se encontrar todas as quintas no quarto dele após o jantar, onde eles permaneceriam até o toque de recolher, um período que eles usavam para conversar e jogar alguns jogos trouxas que o moreno sempre tivera inveja de Duda por ganhar. Sem sombras de dúvidas, era muito melhor do que apenas alguns meses por ano enquanto os filhos voltavam de Hogwarts e de vez enquanto interagiam com o pai chegando aos 40 anos.

Harry também continuou sua rotina de chá da tarde com Dumbledore e Snape — os quais ele agora chamava, mesmo que só durante as conversas e por pura obrigação, de Albus e Severo. Era no mínimo estranho, já que parecia estar falando com o filho do meio quando dizia um dos nomes. Minerva, mesmo depois da incansável insistência de Potter, ainda não ficava com eles durante suas conversas, preferindo abrir mão da sala de comando para os três homens conseguirem pôr uma vida toda de desencontros nos eixos. Ele achava que precisava demonstrar de maneira mais explicita o quão grato era por isso.

Havia também Draco. O Eleito sentia suas bochechas corarem apenas em pensar no loiro, simplesmente porque tinha anos que não se sentia daquela forma mais. A relação dele com Ginny era linda em todos os aspectos, de forma que fora simples para ele presumir que nunca poderia existir algo semelhante aquilo. De certo modo, ele ainda acreditava estar certo, mas então havia Malfoy, com seu humor estrondoso que complementava na medida certa o seu próprio, ou o fato de que Harry não lembrava qual foi a última vez que riu tanto quanto na última semana. A verdade é que ele estava tão acostumado com a nuvem negra que se instaurou ao seu redor após a morte de sua esposa que nem mesmo percebeu quanta falta sentia de ser feliz. O sonserino era um desafio dos pés à cabeça, uma charada que o menor vinha tentando desvendar há décadas, mesmo sem perceber, mas da qual ele se sentia cada vez mais fascinado. Então talvez não houvesse nada mais lindo no mundo que ele e Ginny junto, mas também não havia nada tão livre e espontâneo no mundo quanto ele e Draco, e Harry já estava velho demais para se preocupar com aparências.

Não que ele houvesse dito qualquer coisa do gênero para Malfoy, ou qualquer outra pessoa. Nem mesmo ele sabia dizer o que era, para ser sincero. Passou anos sem tocar em alguém, e mais tempo ainda com a convicção de que nunca voltaria a amar alguém. Talvez o que sentia por Malfoy fosse nada além de um sentimento de amizade — uma constante cada vez menor em sua vida, visto que Rony e Hermione estavam casados e que, Harry sabia bem, ter filhos os impedia de se ver com a mesma frequência de antigamente.
Não seria justo com o loiro descontar toda a sua confusão e frustração nele, usando-o apenas como objeto de estudo para ver como o grifano se sentia, e talvez abandoná-lo se a resposta fosse negativa.

Foi por tudo aquilo que o moreno não percebeu que a sua frente havia acabado de surgir duas pessoas, saídas da rede flu de sua lareira.

— Harry! — ele piscou, percebendo que Hermione parecia chamá-lo não pela primeira vez.

— Me perdoem — ele disse, levantando para abraçar os amigos e os levar à sua mesa.

— E então, cara, como estão aqui? — Ronny perguntou, segurando satisfeito a mão da esposa ao seu lado.

Harry sorriu triste pelo gesto.

— Bem, eu acho — ele começou. — Quero dizer, estou gostando de dar aulas muito mais do que gostava de prender pessoas e me meter em situações de quase morte, e estou mais perto dos meus filhos, então.

Um lar de olhos azuisOnde histórias criam vida. Descubra agora