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lara

- Estás a ouvir? - Sussurrei para o telemóvel, onde a minha melhor amiga ouvia a briga entre o casal, tal como eu. - Está bem acesa.

- Cala-te! Deixa-me ouvir.

Contive a vontade de rir para que nenhum dos dois notasse que estava ali. Somente dois carros a separar os gestos constantes deles do banco onde estava sentada há mais de uma hora. Entre várias acusações de traições e a palavra paranóia, o fim, mais um de tantos, chegou pela boca do rapaz. As mãos dela alcançaram-no. Suspirou.

Primeiro era ela quem tentava manipulá-lo ao dizer que estava paranóico desde o ano passado e que não queria continuar o namoro. Porém, o seu namorado confrontou-a com imagens e áudios no telemóvel que mudaram o rumo da história. Toda a sua atitude mudou. Tornou-se a vítima. Um era acusado e o outro a vítima. A meu ver, a decisão a tomar era bastante óbvia. Continuei sentada, sem nunca olhar para trás. Ouvi a porta do carro bater  pouco depois, chamando-me a atenção. Olhei por breves segundos para ver o que se passava.

A loira recusava-se a sair da frente do carro. Por sua vez, o dos caracóis desleixados ameaçava que a qualquer momento iria acelerar. Logo, bateu as mais duas vezes no capô. E com força.

- Tu mete-te!

- Achas que me vou meter entre eles? Só se fosse louca. - Murmurei novamente baixo, deixando-os acreditar que ninguém ali estava.

- Devias! O que está a acontecer? Relata!

- Ele saiu do carro furioso. E a Filipa deu-lhe uma chapada. What the fuck? Ela deu-lhe mesmo uma chapada. - Fiquei chocada. Levei a mão à boca. O rapaz semicerrou os olhos.

- Filipa, nunca mais me apareças à frente. És louca, estás louca e vais dar comigo em louco. Vai ter com o A, B ou C. Esquece que eu existo. - Com o dedo apontado na cara dela, falou firme. Quase que parecia decidido. - Fartei-me.

- Mas fartaste-te o quê? Amanhã estás a comer na minha mão, porque não tens ninguém e nunca ninguém te vai querer! - Gritou-lhe.

- Que também te tornes nesse ninguém.

Voltou para o carro, fazendo marcha atrás para sair do estacionamento sem que a ex-namorada o impedisse. Suspirei perante a briga acesa entre os dois. Era habitual brigarem, acabarem a relação e apagarem as fotos nas redes sociais.

Ao fim de dois ou três dias, tudo voltava e eram o amor da vida um do outro. Faziam as declarações de amor públicas e eram felizes. Até discutirem e tudo se repetir. A loira cruzou os braços irritada e começou a chorar. Parecia contactar alguém, mas não estava a ter sucesso. Começou a afastar-se do estacionamento bastante zangada.

- O Edu está a ligar-me.

- Boa sorte para consolares esse burro outra vez, Patrícia. - Revirei os olhos, mesmo sabendo que a rapariga não conseguia ver.

- Achas que foi de vez?

- É sempre de vez até voltarem. Atende, vá.

Desliguei a chamada para que pudesse reconfortar o melhor amigo de longa data. Foram colegas de turma desde os primeiros anos e desde então nunca se largaram. Eram irmãos. Nascidos no Barreiro, onde estudaram juntos ate à ida dele para a academia do Sporting.

LIAR  ➛   EDU QUARESMAOnde histórias criam vida. Descubra agora