Capítulo doze

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Eleanor Quinn

A sensação das teclas abaixo dos meus dedos me relaxava enquanto a música ecoava pela sala. Cada preocupação se esvaziava à medida que a notas adentravam em meus ouvidos.

Não pude controlar o ímpeto de fechar os olhos quando senti meu corpo relaxar.

Descrever as emoções que sinto ao tocar o piano é algo complicado. Para entender tal sentimento, é preciso estar no meu lugar e, então, saberá o que estou sentindo.

Quando finalmente terminei, ouvi alguém batendo palmas.

Sorri imaginando que seria Ivy, mas, assim que me virei, meu sorriso desapareceu, dando lugar a uma pequena carranca.

- Você ainda toca tão bem quanto me lembro, ruiva. - Aquela maldita voz falou em um tom arrogante.

Ele continuava o mesmo e o meu desgosto por ele também.

Matteo Dawson era um cara arrogante, rude, egoísta, psicótico e incrivelmente irritante. Talvez esse tipo de comportamento tão duvidoso seja de família, afinal ambos os irmãos Dawson são assim.

Eu me lembro de quando ele sorria com malícia para mim mesmo sabendo que o próprio irmão gostava de mim e que eu, apesar de hesitante, sentia o mesmo. Eles tinham uma certa rivalidade antes de eu entrar na escola, mas, depois que entrei, me senti como uma corda sendo puxada pelas duas pontas.

Mas eu gostava do Maven... gostava muito dele, porém também gostava da amizade que eu tinha com Matteo. Mas os dois não se entendiam e tudo foi se tornando cada vez mais chato.

Matteo, quando queria e quando estava de bom humor, era legal e gentil. Ele se abria quando se sentia confortável e eu gostava disso. Mas eu gostava dele apenas como amigo, só que nem ele nem Maven entenderam isso.

Eu não tinha dúvidas de que Maven era a pessoa certa para mim, tampouco de que eu gostava de passar o tempo com Matt.

Até que aquele "acidente" aconteceu e eu nunca mais o vi.

Mas agora ele estava ali, com aquele mesmo sorriso malicioso de sempre. Os olhos sombrios iguais aos do irmão, a pele ainda mais pálida e aquela frieza estavam bem ali, me encarando.

- O que faz aqui? - indaguei.

- Vim te dar um aviso, linda. - Se levantou.

Seus passos lentos até mim me deixaram ainda mais desconfortável. Ele se sentou no banco do piano de costas para este e de frente para mim.

- Mas, primeiro, quero que saiba o quanto me deixou chateado por sair do nada, sabe? - começou - Pensei que fôssemos amigos, mas amigos não somem sem dizer nada, não é?

- Você sabe muito bem o que aconteceu, não se faça de sonso, Matteo.

Ele riu.

- Ah... Ainda está tão traumatizada com aquele pequeno incêndio? Que fofo.

- Tudo por culpa do seu irmão.

- É, ele é bem idiota mesmo. Talvez, só uma hipótese, você deveria se vingar, o que acha?

Revirei os olhos.

- Eu só quero ficar longe dele.

- Igual uma covarde? - se levantou - Isso é muito ridículo, ruiva. Você é corajosa, tem atitude e muita braveza, sabe que o que quer e eu sei que se vingar do idiota do meu irmão é extremamente o que você visa.

- Não pense que você é santo nessa história toda, Matteo. Eu precisava de um amigo e você simplesmente me deixou sozinha! Você preferiu sair com amigos e se encher de cocaína ao invés de me ajudar, Matt! - me aproximei.

Ele me olhou com raiva enquanto se levantava e se erguia sobre mim.

- Eu tentei impedir ele, Eleanor, eu tentei, tá? Mas aquele idiota é teimoso e ele sentia tanto rancor por você ficar comigo que quis se vingar, porra. Você acha que eu gostei de te ver daquele jeito?

- Eu não sei, nunca tive a merda da oportunidade de saber, já que você estava ocupado demais transando com qualquer mulher que visse pela frente, Matteo! - apontei um dedo diretamente  em seu peito - Você não teve a coragem para conversar comigo, não foi o homem que se diz ser para me ajudar.

- Não fala isso, Elen... - colocou as mãos em meus ombros - Eu sinto muito, tá? Eu fui idiota e imaturo; não enfrentei meus problemas e você que saiu prejudicada por isso. Me desculpe.

Fiquei em silêncio observando seu rosto. Aquele olhar sombrio se suavizou, aquela aura fria se foi e aquela barreira finalmente desmoronou.

- Só... só fala pro seu irmão de merda parar de me mandar mensagens. - Sussurrei.

- Como assim?

Suspirei e peguei meu celular para procurar a mensagem. Assim que achei mostrei para ele.

- Sabe me dizer o que diz aí? - perguntei.

- Nossa... Ele é maluco. - Ele riu.

- Agora que você percebeu? - ironizei - Mas e aí, sabe o que tá escrito?

Ele pegou o celular da minha mão e analisou de perto.

- Não tive tanta convivência com a cultura cigana, mas acho que aqui diz "Você tem sorte, garota".

Bom, pelo menos eu sabia o que estava escrito ali, mas ainda continuei sem entender o que diabos aquilo significava. Era uma ameaça? Um aviso? Uma tentativa de me deixar assustada?

- Ah, obrigada... - fingi um sorriso - Aliás, o que você está fazendo em Nova Iorque? - guardei o celular.

Ele hesitou, parecendo notar meu desconforto. Por um momento, me senti nervosa em pensar que ele começaria a perguntar, mas, para o meu alívio, ele resolveu deixar para lá e responder a minha pergunta.

- No começo, eu queria te ver, mas o meu voo atrasou e eu não cheguei a tempo.

- Que sorte, foi uma merda. - Suspirei ao me lembrar do desastre que havia sido aquela apresentação.

Mas a voz dele, por sorte, me afastou das lembranças.

- Pois é... foi assim que soube que meu irmão estava aqui, então fiquei preocupado com você. Fiquei imaginando que ele poderia te machucar de novo. Agora eu estou procurando por ele, mas, porra, aquele idiota sabe se esconder. - Ele riu, mas pude sentir que ele estava preocupado.

Não o culpo, eu também estou. Não gosto de ter a minha pior lembrança do meu passado como uma ameaça no presente. Mas senti um pouco de conforto por saber que eu e Matteo poderíamos ser amigos novamente. Talvez tudo volte ao normal no final...

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