Corridas

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Muitas vezes, ao dormir, ainda sinto as lágrimas guardadas em meu peito.
Peço todos os dias que esse peso seja levantado e arrancado de minhas vísceras. Aparento ser bruta, de uma forma fantástica, porém, muitas vezes desejei me banhar nas mais virtuosas faces do meu ser, que beiravam ao fúnebre, para finalmente ser parte de algo.

Não permito que procurem meus pedaços em meus pais, em meus amigos, nos meus amores, em nada que um dia me enganei ao tentar convencer-me ser meu.
Eu já dei tudo de mim. Por eles.
Será que uma única vez não poderia ser eu a ganhar?

Ainda me sinto sufocada por tudo, sinto a garganta fechar, como se do outro lado um ser vil apertasse meu pescoço em busca de ar. Onde teria me metido? De que forma eu mudaria isso?
Não. Já estava decidido, não haveria mais primeiras e últimas vezes, pedidos inúteis de desculpa, dores no peito e fardos pesados. Ainda nutro meu fascínio pelas ilusões que me convencia a acreditar quando pensava no meu eu interior.

Já as injustiças? Eu sempre odiei injustiças. Me pergunto se serão eles os juízes corruptos, ou eu, idiota ao ponto de ser tão cega?
Tudo cessará ao começo da corrida: os cavalos, os carros, as pessoas.
Com o estrondo final, posso fazer esse buraco negro em minha mente silenciar.
Ao menos uma vez.

La morte di Marat - Jacques, Louis David

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La morte di Marat - Jacques, Louis David

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