Crystall ON
Aquele desgraçado... é tudo culpa dele! Minha mãe me odeia por causa dele... eu vou te encontrar. Cambaleo pela floresta, um caminho nada desconhecido e muito menos amável, me sinto sonza e me seguro pelas árvores enormes a minha frente que estão parecendo muito maiores que o normal. Finamente chego, uma casa tão abandonada quanto no sonho, trepadeiras cobrindo até as janelas do segundo andar e paredes com tinta mofada e descascada. Meu corpo quer cair aqui mesmo e não continuar, mas eu preciso e respostas... eu preciso saber o porquê de tudo isso.
Toco na porta velha e ao abrir ela faz um alto rangido que me faz acordar um pouco da tontura daquele tanto de remédio que aos poucos estão atingindo meu cérebro. A casa está exatamente como o sonho, tão igual que nem parece que eu desde que saí daqui eu nunca mais voltei, observo a casa vazia com poucos móveis e madeira velhos e inchados pela umidade presente e toco cada pedaço de madeira lembrando de cada momento triste e deprimente da minha vida.Vasculho a cozinha e os antigos quartos de meus pais mas parece que ninguém vem aqui há algum tempo... até que eu vejo uma porta... aquela maldita porta. Uma porta alta marrom com desenhos velhos cravados em sua madeira, a porta do meu antigo quarto... a porta do desespero, do sofrimento, da tortura pura. As portas são geralmente sinal de algo novo, uma oportunidade nova, mas nessa exata porta eu só vejo passado... só vejo ela fechada pra sempre, só a vejo trancada e a abafadora de todos os gritos de dor a cada dia tanto altos quanto silenciosos.
Abro a porta maldita e lá está meu quarto, vazio sem nenhum cômodo pra contar história, tão vazio quanto a minha alma... ando pra frente vendo a tinta azul oceano descascada e velha junto com o chão empoeirado, alguns desenhos e praia e mar marcados nas paredes com diferentes tipos de objetos. Uma coisa me chama a atenção... uma maldita coisa me chama atenção! Ele está brincando comigo?! Ando pra frente ao ver uma única mesa pequena no centro do cômodo velho e meu corpo se arrepia ao ver o açoite preto de couro posicionado no centro da mesa.Toco o couro que mais parecem espinhos, o couro está tão frio... muito mais frio do que meu pai deixava... toco em um pouco das minhas costas sentindo os relevos das cicatrizes e queimaduras profundas enquanto minha mente se esvazia.
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14 anos antes...
Crystall ON
Estou em minha cama, mas não como uma criança normal... estou amarrada de barriga pra baixo e costas a mostra sem conseguir ver o que está atrás de mim, escuto meu pai entrar e acender a lareira jogando o açoite pra esquentar enquanto diz:
Dario: você sabe o que vai acontecer, certo crystall? - ele diz com a voz fria e cruel, fecho os olhos com força sem o responder.
Dario: RESPONDA! - ele grita e eu dou um espasmo de susto.
Crystall: s-sim papai... - gaguejo tremendo, olho pro lado e vejo o açoite de preto ficar vermelho em brasas.
Dario: repita a regras pra mim, filha... - ele pede com a voz suave e eu trinco a mandíbula.
Crystall: você só vai parar... quando eu parar de gritar... não é? - digo com a voz tão trêmula que quase fica inaudível e ele concorda.
Dario: você está crescendo tão rápido meu amor... mas antes eu tenho que tirar esse demônio de seu corpo que deixa sua aparência assim... você entende o papai? - ele diz com uma voz tão suave que a única coisa que faço é concordar.
Ele se distancia e pega o açoite que já está ficando laranja de tão ardente, antes que eu pudesse pensar ouço o barulho de minha pele queimando e se rasgando facilmente com a primeira açoitada. Grito desesperada de dor ao sentir tudo queimar e doer de uma forma insuportável, meu corpo automaticamente tenta se debater e sair mas estou amarrada com força e outro rasgo se forma.
Um.
Dois.
Três.
Conto entre gritos cada corte que sinto em minhas costas e queimadura enquanto imploro pra ele parar, mas ele não me escuta de jeito nenhum e continua. Tento não gritar mas é impossível eu não me debater quando o açoite pega exatamente dentro de um dos cortes recém feitos, formando um corte maior e mais profundo. Minha pele albina está queimando e fervendo de uma forma descomunal ao sentir esse açoite fervendo em minha pele sensível.
Quatro.
Cinco.
Seis.
Meus sentidos já estão escassos e a cada respiração meu corpo inteiro dói, ouço abafado minha mãe gritando de fora do quarto tentando abrir a porta trancada mas só meus gritos são ouvidos de lá.
Sete.
Oito.
Nove.
Ainda meu corpo tenta sair mas meus gritos já estão acabando pela falta de ar, mas meu pai não quer isso... ele quer mais... vejo ele pegar uma garrafa de álcool 70 e jogar inteiro nas minhas costas né fazendo soltar um grito agonizante de dor enquanto ele continua pra doer cada vez mais.
Dez.
Onze.
Doze.
Minha respiração já está muito fraca por conta da dor ao respirar, o ar não entra mais para meus pulmões então não consigo gritar mesmo se eu quisesse, estou ainda consciente com os olhos semi-abertos mas sem expressão alguma no rosto.
Treze.
Quatorze.
Quinze.
O açoite já está frio e invés de estar vermelho de quente está vermelho de sangue. Então meu pai para e eu me permito cair em um sono profundo.
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A cada vez que olho pra esse açoite uma lembrança diferente vem, sinto meus olhos ficarem borrados mas logo entram em alerta ao sentir alguém me puxar pelos cabelos com força e me virar de frente pra ele. O sorriso cruel de Dario é a única coisa que posso ver além da sua mão em meu pescoço, ele é tão forte que me levanta do chão com uma mão e sua mão direita me enforca. Nas costas de sua mão tem uma rosa tatuada na qual os espinhos sobem pelos seu antebraço até o ombro.
Dario: que bom que veio me visitar, pequena. - ele só diz isso apertando cada vez mais e começo a parar de me debater ao sentir minha garganta fechar e meus olhos começarem a se fechar. A única coisa que sinto é ele me largar com força no chão e minha consciência desaparecer totalmente.
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onde está Anne?
RandomAqui está uma reescrita da sinopse com mais suspense e detalhes para aguçar a curiosidade dos leitores: Crystall, uma estudante de arquitetura, e seu grupo de amigos inseparáveis - Isobel, Mikka, Olivia e Mike - estão curtindo a vida universitária q...