Passei os dias seguintes a pensar em tudo o que aconteceu. E cheguei à conclusão que talvez eu tivesse a minha culpa neste desfecho. Tomei a relação como garantida e já não me esforçava para estar bonita. Não me maquilhava, não me perfumava. Muitas vezes recebia-o para os nossos momentos intimos com pelos, coisa que sei que não adorava. Perdeu o desejo por mim. E foi procurá-lo noutra pessoa. Passados então alguns dias, desculpei-o e recomeçámos do 0.
- Estavas com fome. - Diz, trazendo-me de novo à realidade.
- Sim, estava ótimo. Já não me lembrava quão bem cozinhas.
- E também te esqueceste do quão bom sou em fazer outras coisas? Sinto o seu tom provocador e consigo ver o que me quer transmitir com a sua linguagem corporal.
Entro no seu jogo. Preciso de uma noite de sexo livre de julgamentos e pensamentos. Só sexo. Sem complicações. E assim foi.
Na manhã seguinte dirijo-me à coffee station do resort para preparar o meu café. Não tenho muito tempo. Hoje atrasei-me um pouco mais. Caprichei na maquilhagem e na vestimenta. Não sei bem porquê mas fi-lo. Talvez queira parecer bem a todos. Ou a uma pessoa em particular.
- Estás muito bonita. Bom dia.
-Oh! Obrigada.
- Posso perguntar-te porque não respondeste à minha mensagem?
Fiquei tão envergonhada. Não contara que fosse tão direto.
- Hã.... Não vi que me tivesses enviado uma mensagem. Deixa-me verificar. Agarro no telefone e finjo que estou a procurar algo que sei perfeitamente onde encontrar.
- Sabes que existe uma opção no telefone que dá indicação se a pessoa leu a mensagem certo? Eu vi que a leste. - Diz com um sorriso a aparecer-lhe nos lábios.
Não vale apena mentir. Mais vale ser sincera. Ganharei mais com isso.
- Sim, desculpa. Vi a tua mensagem. Mas não sabia o que responder. Tenho namorado, penso não tê-lo mencionado antes. Creio que não ficaria satisfeito comigo ao ir tomar algo com um colega que acabei de conhecer.. Principalmente se esse colega for... hã.. do sexo masculino.
- E se não tivesses namorado? O que gostarias de responder? - Vejo como humedece os lábios.
Sinto um arrepio na espinha com a imagem.
- Não sei. Tenho namorado. Por isso não sei o que responderia. Bem, tenho que ir, já estou um pouco atrasada.
Sento-me na minha secretária e dou continuação ao projeto digital. Comprometi-me a entregar um documento com as tipologias de cada casa. De 386 casas. Todas diferentes umas das outras. Dava tudo para conseguir comprar uma destas casas. São lindas, luxuosas. Imagino o quanto terão trabalhado os donos destas casas. Levanto-me para pegar uma planta geral do resort. Oiço uma mensagem entrar.
Estranhei. Todas as minhas conversações estão silenciadas. Detesto ouvir o telefone constantemente a apitar. Não que seja alguém muito popular que recebe chamadas e mensagens constantemente. Ainda assim. Quando ouço uma notificação, sei que é alguém com quem nunca antes tinha falado.
Quando olho para o ecrã, vejo que o David me adicionou a um grupo de colegas do resort. Cinco colegas para ser concreta.
Alegrou-me a ideia de fazer parte deste grupo. Na descrição do grupo dizia que é para falar de temas nada relacionados com o trabalho. Serve para organizarmos convivios e jantaradas. Seria bom alargar os meus horizontes sociais que têm estado bastante escassos ultimamente. Conhecer gente nova não é o que mais gosto, no entanto acredito que deveria mudar isso. Melhorar pelo menos.
Vejo que o David está a escrever. Aguardo ansionsamente.
- «Que tal marcarmos uma jantarada para amanhã? Temos uma colega nova e gostaria de a apresentar. Fico à espera da vossa confirmação. Pago eu ;) »
Não sei há quanto tempo não vou jantar fora. Não tenho nada que vestir para um jantar fora de casa. Tenho definitivamente que ir às compras. E não pode passar de hoje. Imagino o que dirá o Ricardo quando saiba. Não sei como abordá-lo. Desde que começámos a namorar acho que nunca fui jantar fora sem que ele estivesse presente. Não que ele se imponha nesse sentido. Eu é que fazia sempre questão de o incluir nos meus planos. Com os meus amigos, com os meus colegas. Sempre. No caso dele, não era bem assim. Sempre senti que gostava de estar com os amigos sem que eu estivesse. E eu até conseguia compreender.
Quando sai, fui ao shoping. Exprimentei imensa roupa. Vestidos, saias, jeans. Não gosto de me ver com nada. Sinto-me muito magra. Acabo por escolher um vestido azul com um ligeiro decote. Faz-me parecer mais elegante. Não tenho muito dinheiro, por isso escolhi algo que não fosse muito caro. E isso nota-se na qualidade do mesmo. Não é como se alguém me fosse tocar. E acho que à vista não dá para perceber o quão barato foi.
Quando cheguei a casa, aguardei para estarmos todos à mesa. Incluindo o meu pai. Acho que ajudaria a não criar uma cena, quando lhe contar que vou jantar fora amanhã com colegas do trabalho. Quando a realidade é que apenas conheço um. O David.
Quando lhe conto, reage estranhamente bem. Não sei se pela presença do meu pai, mas não consigo ver na sua cara nenhum laivo de irritação, pelo que realmente me parece que aceitou bem.
A situação mudou um pouco de figura quando, já no quarto, me viu a exprimentar o vestido. Queria experimentá-lo uma vez mais para certificar-me que ficara bem.
- Precisas ir jantar com os teus colegas vestida assim? - Pergunta.
- Assim como?
- Assim. Com as pernas à mostra.
- Fica-me mal?
- Bem não te fica. Estás extremamente magra. Acho que devias ir de jeans.
As suas palavras magoam-me. Sei que não estou no meu melhor. Mas podia ter sido mais simpático. Não lhe digo mais nada e tiro o vestido. Visto o pijama e deito-me.
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Espero-te um dia
RomansaUma mulher. Várias desilusões. A esperança de um grande amor.