Pitch black, pale blue... (14)

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Este que caminhara em constância, o arrepio persistente percorria a espinha, o arredor era silencioso e pesado, a sensação de desconforto que crescia de maneira culminal os pensamentos de forma turva se emaranham em uma espiral na qual forma a imagem de um campo floral, onde as cores raras são quase inimagináveis. O céu acima era de um azul profundo, pontilhado por nuvens que formavam imagens e figuras desconexas, árvores balançam suavemente ao vento, junto de uma estranha pressão ao peito, como se estivesse prestes a explodir.

Porém, a sensação e o ambiente de tranquilidade o conforta, a fragrância floral emana ao redor, a visão era um tanto turva, uma espiral, um salto ao passado. Onde as casas eram mais floridas ainda não tomadas pela urbanização em massa, Montreal vivia em momentos simples, épocas simples. Hoseok espremia os olhos em negação, mas logo se perdeu ao ouvir duas vozes nostálgicas, que riam, gargalhavam e berravam aos cantos, ao longo da visão periférica, notou a presença sobrenatural de duas crianças ao norte, um parque ao lado de um jardim florido coberto por roseirais, crisântemos de todas as colorações, azaleias em tons rosados e algumas que não podia se ter certeza quais eram, mas sabia o quanto essas se ornamentavam um templo em meio a vastidão do planeta.

- Você vai ver! Eu vou conseguir! Eu vou voar tão alto como os pássaros. - Uma das crianças, de cabelos castanhos escuros e olhos sob a mesma tonalidade falava animadamente, palavras desconexas que formavam um fluxo de pensamentos infantis. - Eu quero ver o mundo inteiro!

- Eu posso ir com você? Eu quero voar também! - O outro menino lhe responde, olhos brilhando de excitação. - Eu também quero conhecer o mundo inteiro!

- Nós vamos! Juntos, pra sempre! - Exclamou o outro pequeno que agarrava o outro, um pouco mais baixo em um abraço e o rodopiava lhe fazendo "voar" um pouco.

- Você promete? De dedinho! - Hoseok sentiu um arrepio ao ouvir aquelas palavras, promessa infantil carregada de esperança que só agora começava a entender.

- Eu prometo! Vamos viajar por todo o mundo, juntos! - A criança mais alta, com cuidado devolve a outra ao chão estendendo a mão para que pudessem entrelaçar ambos os mindinhos.

Hoseok, se aproximava aos poucos da cena, atravessando a rua com descuido, sentindo um vento forte bater sob as costas, como se tivesse quase sido atingido por algo que não pudesse enxergar, deu de ombros observando de longe a cena a frente. Cada passo uma sensação estranha de deja-vu abala a mente, cada peça se encaixava aos poucos, pode perceber o rosto dessas crianças lentamente tomarem forma.. A criança mais alta era Hoseok, mais jovem, com talvez seis ou sete anos de idade. Hoseok fitava com um misto de fascínio e descrença, vendo-se como uma criança uma memória passada roubada de si, sua inocência refletida em um sorriso. Ao lado dele, pode reconhecer seu amigo de infância, cuja a aparência era extremamente familiar, Yoongi, com o mesmo sorriso tímido e os olhos brilhando com uma familiaridade inquietante..

- Yoongi...? Esse sou eu.. E o Yoongi?

Murmurou incrédulo, os dois meninos estavam sentados sob a grama cercados por flores que pareciam dançar ao ritmo do vento.

- Você promete não esquecer quando a gente crescer? Hobi? - Pediu o pequeno Yoongi, de repente sério, voz que exclama preocupação.

- Sim! Eu não vou esquecer.. - Respondeu o pequeno Hoseok pegando uma flor e entregando-a para Yoongi, um pequeno crisântemo em coloração azulada. - Mesmo se um de nós esquecer, eu sempre vou lembrar dentro de mim! - Murmurou enquanto tocava o próprio peito.

Antes que pudesse exclama algo, a visão começou a desvanecer-se, as cores e sons se dissolvendo na escuridão. Hoseok foi puxado de volta à realidade, encontrando-se novamente a rua deserta, mas ao outro lado da calçada, onde o frio da noite o envolveu como um manto pesado. O coração batia descontroladamente na tentativa de processar o que acabara de ver, suas memórias e nostalgias infantis, que estavam enterradas a sete palmos a baixo da terra - tão profundamente, finalmente emergiam, a figura desconhecida etérea dos sonhos parecia tomar forma e a promessa parecia fazer sentido.

Com passos lentos e pesados, Hoseok continuou seu caminho para casa, cada passo acompanhado pelo amargor da angústia, sensação de urgência crescente por clareza. As ruas pareciam mais longas que o habitual, talvez seja a ansiedade para correr para casa e processar tudo o que viu, procurar alguma pista que havia ignorado. Ao finalmente chegar em casa, parou logo à frente, a mente ainda presa na visão daquele jardim florido e nas palavras das antigas crianças. Entrou, fechando a porta atrás de si, o silêncio intensifica a cacofonia de seus pensamentos, olhava os arredores da casa em busca de uma resposta, andou pelos corredores até o quarto onde buscou alguma pista de se aquilo era real, revirou a estante mas sem sucesso, vasculhou os arredores com uma determinação febril, no entanto sua busca parecia infrutífera...

- Eu deveria ir num psicólogo, não sei.. Eu tô delirando!

Exclamou inquieto, ao sentir que não havia mais esperanças, caminhou até a cozinha e se esgueirou ao balcão, sentindo-se derrotado.. Seus olhos vagavam pelos cantos da casa, na tentativa de ser mais atento, em busca de qualquer mínima pista... Foi então que algo lhe chamou a atenção: Um criado-mudo antigo no canto da sala, o móvel parecia estar ali desde sempre, discreto e facilmente ignorável. Hoseok, com um pingo de esperança levantou-se lentamente e caminhou até o móvel, com as mãos um tanto trêmulas começou a vasculhar uma das gavetas, repleta de cartelas de medicamentos, sentindo o peso da antecipação.

- Puta merda...

Ao abrir a última gaveta, os dedos encontraram algo.. Uma fotografia amarelada pelo tempo, os olhos arregalavam em surpresa, a foto apesar de ser velha estava intacta, Hoseok retirou-a lentamente, a trazendo para mais perto da luz, onde pode reconhecer as duas figuras da foto.. Ali estava ele, com o mesmo conjunto de roupas sob vislumbre anterior, no mesmo campo floral ao lado de um menino de sorriso tímido e seus olhos brilhantes, Yoongi.. Uma resposta bem de baixo do seu nariz, a fotografia mostrava ambos abraçados, sorrindo para a câmera, uma alegria pura e inocente.

- Mas o que...?

Ele se sentou ao chão, segurando a fotografia com firmeza, a agarrando como se fosse uma âncora para sua sanidade, para que não pudesse se perder ao mar de memórias fragmentadas.. Uma parte parecia fazer sentido.. A sensação de como Yoongi mexia consigo com facilidade, as risadas os jogos, promessas sussuradas entre as flores, uma parte de suas memórias parecia se recuperar bem diante aos olhos.

- Como eu pude esquecer isso? - murmurou para si mesmo, a voz embargada pela emoção. A foto, um simples pedaço de papel, agora parecia carregar o peso de todas as suas lembranças perdidas.

Hoseok voltou a vasculhar o criado-mudo, em busca de mais algo que lhe pudesse despertar e oferecer mais respostas.. Infelizmente não havia mais nada ali, por enquanto, aquele pedaço de papel era mais que o suficiente.. Confirmando a teoria de Yoongi, que aqueles sonhos não eram apenas meros delírios, era a resposta para algo que deveria correr atrás..

E assim fez, mesmo sendo noite, notou as luzes acesas da casa de Yoongi, que era seu vizinho, proximidade que lhe trouxe um pequeno conforto momentâneo. Sem pensar duas vezes, saiu de sua casa e atravessou o jardim que separava ambas as casas. Luzes brilhavam através das janelas, lançando sombras dançantes no chão, Hoseok hesitou por um momento, cogitando que provavelmente estava muito afobado.. O coração batia de forma descontrolada antes de criar coragem e tocar a campainha. Não demorou muito para a porta se abrir, revelando Yoongi... Antes que pudesse falar, reparou que este não estava sozinho... Ao fundo, sentado na sala, Hyun.. O mesmo que havia socado a cara há alguns dias atrás, seu ex-namorado de atitude duvidosa.. A presença de Hyun lançou uma sombra de dúvida e desconforto..

- O que esse cara tá fazendo aqui?.. - A presença de Hyun parecia perturbadora, fora de lugar, a fotografia tremendo em sua mão, mas algo dentro dele o fez recuar. - Yoongi.. Eu..

A única coisa que invadia sua mente era as memórias da festa, onde Hyun havia tentado agarrar Yoongi contra sua vontade.. Se lembrou vividamente do momento em que deu um soco em Hyun e ver Yoongi desabar-se em lágrimas a sua frente...

- Talvez isso possa esperar... - murmurou Hoseok, a voz carregada de incerteza e desapontamento...

"Então atravessei uma neblina.
E em um milhão de ondas impiedosas,
agora, vejo-te aí deitado.
Como uma mentira se desvanecer no ar."

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⏰ Última atualização: Jul 02 ⏰

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✧*:. Spiracle - Yoonseok / SopeOnde histórias criam vida. Descubra agora