Milkshake

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A noite estava particularmente fria e talvez tomar milkshake não tivesse sido a melhor escolha, mas foi a ideia que Renee deu e eu só me deixei levar. Depois da conversa no carro, decidimos entrar no Rob's e sentar em uma das muitas mesas vazias que o restaurante sustentava naquele dia e aguardar nossas bebidas ficarem prontas, o que não demorou a acontecer. Por um momento, enquanto Renee falava, passou pela minha cabeça o quanto era simples e agradável conversar com ela. Não faltava assunto, eu não me sentia pisando em ovos e ela me arrancava risadas genuínas. Agora fazia sentido Chris não desgrudar dessa garota. Ela era viciante de alguma forma que não consigo explicar bem. A timidez e a desconfiança sobre Renee parecia uma coisa distante ultimamente.

- Amanhã tem seu jogo de futebol, não é? Aquele jogo importante que você falou. - Renee perguntou recordando.

- Tem sim! As quartas de final do campeonato estadual. - confirmei.

- Eu vou arrastar o Chris comigo pra gente torcer por vocês e pra ver você fazendo gol, tá? - sorri com a empolgação dela.

- Eu jogo de meio-campo. Não é tão comum assim eu fazer gols, mas se eu fizer vou dedicar pra você. - falei e Renee parou de sugar o milkshake, engoliu o que tinha na boca e colocou a mão no peito.

- Assim eu vou me apaixonar de verdade. - dei risada da resposta dela.

- Você namorava um dos craques do time de futebol americano da escola, deve estar acostumada a receber dedicatórias no esporte. - relembrei e dei um gole no meu milkshake.

- Tá falando do Müller? Fala sério! Aquele babaca nem lembrava da minha existência quando tava em campo. E fora dele, quando estava junto com caras do time, conseguia ser 3 vezes mais babaca. - Renee relembrou com o rosto demonstrando o que beirava quase nojo.

- Ele nunca te dedicou um touchdown? - perguntei num leve tom de indignação.

- Ele preferia que eu nem fosse aos jogos dele porque atrapalhava a zoeira no vestiário pós jogo já que ele ia ter que me dar atenção. Aí você imagina se ele já me dedicou alguma coisa.

- Caramba! Que diabos de namoro era esse? - questionei.

- Nem me fale. Namorar mulher deve ser menos insalubre.

- Bom, eu só namorei uma mulher até agora e não sei te dizer se foi tão menos insalubre assim. -

- Você namorou aquela garota do cabelo curtinho que já graduou, não foi? Como ela se chamava mesmo? - Renee olhava pra cima tentando buscar na memória o nome da minha ex.

- Jessica. - respondi.

- Jessica! Essa aí! De que forma a Jessica te traumatizou? - apesar do assunto, Renee tentava manter o clima leve.

- Ah, foram muitas coisas. Ciúmes doentio, traição, manipulações e por aí vai. Felizmente não preciso mais cruzar com ela nos corredores da escola. - respondi tentando não deixar o clima pesar.

- Que vagabunda! - Renee pôs a mão na boca se repreendendo - Ah, foda-se! É uma vagabunda mesmo. Sororidade não é pra todas. - minha reação foi gargalhar. - Eu prometo que eu sou uma boa namorada, tá? - ela falou com um sorrisinho nos lábios e a mão no peito como se estivesse jurando.

- Eu também sou! Só não posso te garantir nenhum gol meu amanhã, mas se rolar, vai ser pra você. Pode ter certeza.

- Ainnnnnn, eu vou torcer muito! - Renee falou brincando com uma carinha de apaixonada pra mim e mais uma vez eu tava lá com a risada frouxa por qualquer coisa que ela dizia.

Não é possível, meu Deus! Eu não podia estar achando Renee Welch atraente. É claro que a beleza dela sempre foi óbvia, mas eu só conhecia isso sobre ela até um mês atrás. Agora eu estava conhecendo outra parte que deixava o óbvio muito mais interessante. E eu já não tinha mais nem como controlar. Ela sabia manter uma conversa, te envolver, te deixar confortável, te escutar nos mínimos detalhes, ser espontaneamente engraçada. Eu não sabia que ia cair numa armadilha dessas. 

Depois de mais de uma hora de conversa, minha mãe me ligou e pedia pra eu voltar para casa porque estava tarde. Renee lamentou, mas concordou que para uma quarta-feira já estava tarde para estarmos na rua sozinhas. Ela me levou até em casa e antes de eu descer do carro, ela se se inclinou em minha direção e me deu um abraço, pra mim, inesperado e falou:

- A gente se vê amanhã, namorada.

Desci do carro meio desnorteada, senti o perfume dela impregnado na minha roupa só depois de um abraço rápido. Eu não podia ter caído nessa de ficar encantadinha por uma hetero. Era castigo demais.

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