Chris e eu chegamos à casa de Renee com duas sacolas cheias de refrigerantes, salgadinhos, doces e outras guloseimas capazes de diminuir nossas expectativas de vida em alguns anos. Renee não demorou a abrir a porta para nos receber. Vestia uma camisa branca oversized, shorts azúis claros e não tinha nada nos pés. Era impressionante como os cabelos de Renee estavam sempre ondulados num tom loiro quase branco e com as raízes bem retocadas. O sorriso largo denunciou que estava ansiosa para nos ver.
Renee abraçou Chris forte e em seguida me abraçou mais timidamente. Chris que já conhecia os costumes da casa, tirou os sapatos e os deixou em um canto e eu só o acompanhei e fiz o mesmo.
A casa de Renee era enorme. Toda a decoração parecia caríssima. Os móveis variavam em tons de branco e bege, havia esculturas e pinturas abstratas por toda a casa, dando um ar de riqueza incontestável. Eu sabia que o pai dela era um rico empresário da construção civil e a mãe dela era uma renomada advogada, mas havia falecido há cerca de 4 anos por um câncer extremamente agressivo. Tudo aconteceu antes de Renee e o pai se mudarem. Na verdade, Chris dizia que eles se mudaram de Nova Iorque para Westport justamente numa tentativa de lidar melhor com o luto já que o pai de Renee havia crescido aqui na cidade e torcia para que Renee pudesse construir memórias tão boas quanto as que ele tinha.
- Nicole e Peter estão no caminho e vão trazer um casal de amigos juntos. - Renee anunciou.
Peter e o amigo teriam que assistir um reality de drag queens e eu não sabia se sentia pena deles ou se achava divertido ver dois garotos heterossexuais sendo torturados com uma overdose de queerness.
- Esse casal é lá da escola? - perguntou Chris.
- É, sim! É o Mike e a Ayla.
- Nooooossa! Mike, aquele monumento belíssimo! - Chris só pareceria mais gay se estalasse um leque no final da frase. - Uma pena ter namorada e ser hetero.
- Pois é! Ele é mesmo lindo e um amor de pessoa. Ayla também é ótima .- Renee reforçou os elogios, mas o distribuiu ao casal.
- A presença deles aqui pode ser ótimo para começar a plantar na cabeça das pessoas do colégio o "romance" de vocês duas. - Chris voltou a tocar nesse assunto e me senti tensa. - Quero vocês duas juntinhas o tempo todo conversando, trocando toques sutis, como um casal discretinho, porém apaixonado, tá, minhas atrizes?
Cocei a cabeça em desespero e Renee notou minha tensão. Tocou de leve meu braço e falou:
- Relaxa que eu desenrolo tudo.
Distribuímos os lanches em potes e vasilhas, colocamos os refrigerantes no congelador e pouco tempo depois, a campainha tocou. Eram o quarteto que aguardávamos. Renee foi recebê-los e logo os trouxe para junto de nós na sala de estar. Mike e Ayla eram provalmente o casal mais bonito da escola. Mike era um rapaz negro, alto e forte, titular do time de basquete e Ayla uma das cheerleaders do time. Tinha um corpo invejável, a pele negra reluzia de tão bem hidratada e as tranças longas vermelhas fechavam o conjunto da obra. Os meninos traziam nas mãos cada um uma Budweiser. Esses garotos sabem mesmo que tipo de competição vieram assistir?
Nos cumprimentamos todos rapidamente e logo começaram a surgir alguns assuntos aleatórios entre o pessoal. Eu estava encolhida no sofá bebericando uma lata de Pepsi tentando não parecer uma alienígena. Renee pegou o controle da TV, se sentou ao meu lado e anunciou:
- Já vai começar!! - apontou o controle remoto e tirou a TV do mute.
A música de abertura de Rupaul's Drag Race ressoou pela sala e todo mundo prestava atenção, inclusive Peter e Mike. As queens começaram a aparecer uma por uma como era de costume em todos os primeiros episódios de cada temporada. Cada uma que entrava gerava vários comentários de quem estava assistindo. Era possível notar os meninos fazendo perguntas as suas respectivas namoradas ao longo do show para entender como funcionava o reality e eu achei até legal eles tentarem compreender o que resto do grupo estava animado em assistir, embora fosse um tema estranho para eles.
O show foi passando e Renee fazia questão de sempre saber minhas opiniões sobre cada queen. Na maioria das vezes concordava com os meus comentários e me dava a impressão que tínhamos gostos muito parecidos em termos de arte drag. Eu não conseguia saber se aquilo tudo era encenação para que parecercemos próximas aos olhos de quem não sabia do plano, mas ela fez eu me sentir confortável e sentir que estava verdadeiramente me divertindo. Renee parecia tão à vontade que a cada momento se aproximava mais fisicamente de mim e em algum momento enquanto fazia algum comentário colocou um dos braços na minha coxa e não tirou mais de lá. Eu entrei em PÂNICO na hora, mas por fora tentava fingir que aquele era um contato totalmente normal entre a gente. Algumas vezes, ela se atrevia até a fazer algum carinho discretamente como as pontas dos dedos na minha perna. Eu por outro lado não conseguia pensar e muito menos fazer qualquer contato físico nela. Eu só conseguia pensar em como eu poderia ser invasiva ao tentar tocar uma garota hétero em qualquer lugar mesmo que de certa forma eu tivesse uma licença teatral para aquilo.
Encontrei o olhar de Chris e ele parecia observar nossa proximidade e fez um discreto sinal de aprovação com o rosto. Não percebi se mais alguém havia notado aquilo porque eu só tentava prestar atenção ao show para que eu não colapsasse. Todos estavam envolvidos no show, inclusive Mike e Peter que foram à loucura quando uma das drag queens no show de talentos fez um golpe de taekwondo e quebrou um pedaço sólido de madeira com um chute, tudo isso completamente montada e de salto alto.
O programa acabou e, para a minha surpresa, Peter não parava de falar como tinha achado o show incrível. Mike falava que só curtiu mesmo a parte do taekwondo. O resto do grupo comentava como as candidatas estavam muito fortes e que tinha tudo para ser uma temporada maravilhosa.
As horas foram passando, as conversas já não eram mais sobre Drag Race, mas o papo estava divertido e eu precisei admitir isso para mim mesmo. Os toques de Renee ainda me deixavam nervosa, mas eu estava começando a me acostumar. O quarteto que chegou por último decidiu ir embora e ficamos de novo só nós três na casa.
- Voces ARRASARAM no teatro! Ayla não parava de olhar pra vocês duas com um olhar desconfiadíssimo. - Chris festejou.
- Sério? - perguntou Renee.
- Seríssimo! Foi discreto, porém dava para sentir um clima no ar. - Chris incentivou - Você pode melhorar um pouco mais, Hailee. Parecia que você ia ter um AVC em alguns momentos, mas eu sei disso porque eu te conheço há 19 anos.
Renee virou para mim com uma cara de preocupada e perguntou:
- Eu te deixei desconfortável? Me desculpa... eu...
- Não, não! É que eu sou péssima nessas coisas e não sabia exatamente o que fazer sem parecer uma idiota.
- Mas você foi muito bem! Acho que das próximas vezes, você vai se sentir mais à vontade comigo e com a galera também.
- Acho que sim. Aos poucos vou me soltando mais. - eu precisava me soltar mais ou eu realmente teria um AVC nas próximas vezes.

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Inventado
FanfictionEu só precisa de alguns pontos extra-curriculares para garantir minha vaga na prestigiada Yale e aquela era minha chance de garantia. Mas para conseguir chegar lá eu ia ter que embarcar numa mentira que ia dar a escola meses de boas fofocas. Chris i...