Hailee fez uma cara de surpresa que me fez rir.
- Ah, peraí! Não é assim que a coisa funciona, né? Zero naturalidade e fora que você é hetero, minha querida. - Ela falou pegando no cardárpio fingindo olhar os pratos e eu continuava achando tudo muito cômico.
- Tá, tudo bem! Mas a gente vai ter que parecer um casal de alguma forma quando as meninas da escola aparecerem por aqui. - relembrei. - E você não pode ficar nessa tensão toda quando eu tocar em você. Então enquanto a gente escolhe o que vai comer, eu vou colocar a mão na sua coxa. Posso?
- Pode. - Hailee falou concordando.
Eu coloquei minha mão sobre a coxa dela de uma forma nada romântica e muito menos sexy, mas estava lá. Uma forma desajeitada de fazer ela se sentir aos poucos confortável com meu toque e minha proximidade. Cheguei ainda mais perto e comecei a ler o cardápio com ela.
- A gente veio pra cá meio obrigadas pela situação, mas eu nem sei se você gosta de frutos do mar. - refleti.
- Na verdade, eu amo frutos do mar. Vim aqui uma vez com meus pais e comi um linguine ao limone com camarões e foi uma das melhores coisas que comi na vida. Uma pena que a experiência no geral foi desagradável porque meu pai não parava de reclamar dos preços de absolutamente tudo.
- Esse linguine é incrível mesmo! Vai pedí-lo novamente ou quer experimentar algo novo? - perguntei - Lembre-se que hoje não é seu pai quem paga. É o meu! - soltei um risadinha.
- Vou confessar que, nessa história toda, isso tá sendo outra vantagem além da possibilidade de ferrar o Marcus. Comer bem e de graça... - Hailee balançou a cabeça com um sorrisinho de canto. - Enfim, acho que vou ficar com o linguine mesmo e você?
- Eu vou ficar com meu preferido: o risoto de polvo.
Chamamos o garçom e fizemos os pedidos. Confesso que, assim como Hailee, gostaria de uma taça de vinho para relaxar, mas não pela presença dela e sim pela tensão de fazer o plano funcionar. E falando em plano, nenhum sinal das garotas do colégio até então.
Enquanto aguardávamos o jantar, na esperança de sermos propositalmente flagradas, continuei a árdua e engraçada missão de fazer Hailee se aproximar de mim de forma mais natural.
- Acho que nunca te perguntei o que você quer fazer depois que terminármos a escola. - perguntei tentando deixar a conversa mais normal e conhecer Hailee de verdade.
- Vou tentar Harvard, Ciências Médicas. Não sei se vou ser aceita, mas vou tentar também Stanford, Columbia e outras menos prestigiadas. - Hailee respondeu sem transparecer muito interesse no assunto. Talvez aquele assunto não fosse o mais apropriado para tentar fazê-la relaxar. Eu mesma sentia frio na barriga só de pensar no momento em que as cartas de aprovação ou reprovação chegariam até mim. Afinal, todo esse plano absurdo era por esse motivo.
- Todo mundo fala em como você é uma das melhores alunas da escola também, certamente vai conseguir vaga em uma dessas. Me impressiona muito você também não ter se inscrito nessa eleição. A pontuação extra-curricular podia te ajudar muito. A própria Yale tem um bom programa de Ciências Médicas. - por que eu continuava falando sobre isso, meu Deus?
- Pois é, seria um grande adicional, mas vocês vão ter que fazer debates e discursos até o dia da eleição e eu detesto esse tipo de exposição. Não me considero uma pessoa muito eloquente. Seria uma tortura. Você e Marcus são incríveis falando em público. Além da genética, você tem tudo pra ser uma excelente advogada. - Hailee falou e eu fiquei surpresa com o elogio. Não sabia que ela sabia que minha mãe havia sido advogada.
- Agradeço o elogio! - falei corando - Porém discordo sobre você não ser eloquente. Talvez falar em público seja algo que você não curta, mas você consegue se expressar bem. Já te vi apresentar alguns trabalhos na escola.
- Eu detesto falar em público. É um negócio quase patológico. Talvez eu precise de um psiquiatra ou um psicólogo. - Hailee falou com risadinha triste.
Eu não consigo dar uma dentro. Eu só puxo assunto imbecil. Eu estava tentando puxar do fundo da minha cabeça o pouco que eu conhecia sobre Hailee para que a gente conversasse sobre algo legal e não sobre precisar de um psiquiatra. Para minha surpresa, quem puxou um assunto legal foi ela.
- Enfim, eu preciso ver isso algum dia. Mas mudando de assunto, o que você achou das drags do primeiro episódio dessa temporada de Drag Race? - graças a deus, um assunto bom! Obrigada, Hailee!
- Ai, amei quase todas! Mas acho que Sasha Colby e Anetra são minhas preferidas. - respondi empolgada.
- Caramba, essas, sem dúvida, também são as minhas preferidas. Gostei da apresentação de Jax também e, posso estar enganada, mas as gêmeas devem ser eliminadas logo logo.
- Aaaaah, não fala assim delas! Quem sabe elas não surpreendem. - tentei defender as gêmeas Spice e Sugar, mas elas realemente foram bem fracas no Talent Show.
- Pode ser! Mas sei lá, queens do Tiktok dificilmente duram muito.
Depois que entramos nesse assunto, a conversa engatou. Descobri que, assim como eu e Chris, Hailee também era uma apaixonada por Drag Race e a queen preferida dela era Sasha Velour, o lipsync favorito dela era o de Chi Chi DeVayne contra Thorgy Thor, o qual eu nem me lembrava de ter visto, mas assistimos no celular dela e eu entendi porque era o preferido dela.
Eu acho que poderíamos ficar horas conversando sobre aquilo, mas a comida chegou e passamos a falar daquilo.
- Nossa, o cheiro disso ta incrível! - Hailee falou apontando para o próprio prato. - E o seu também está com uma cara maravilhosa.
Antes que eu pudesse acrescentar qualquer comentário. Avistei Maya Urtiz e mais duas garotas da escola entrando pela porta principal e tentando escolher uma das poucas mesas disponíveis. De imediato, cheguei mais perto de Hailee e sussurrei.
- Elas chegaram e estão passando os olhos no salão. A gente precisa fazer alguma coisa de casal imediatamente. - eu disse em pânico.
- E agora? O que a gente faz? - Hailee estava mais em pânico do que eu.
- Já sei! Eu vou te dar meu risoto pra você provar. - pensei rapidamente.
- Que??? - Hailee indagou confusa.
- Eu vou te dar comida na boca! Quer coisa mais de casal que isso? - Hailee continuava confusa.
Peguei minha colher e enfiei no risoto e peguei uma amostra para dar na boca de Hailee. Ela ainda confusa só abriu a boca para receber a comida. No mesmo segundo, os olhos de Hailee se encheram de lágrimas e ela começou a abrir a boca, tentando soprar com a boca sem deixar o arroz sair e só aí eu me toquei: o risoto estava FERVENDO.
- Meu deus! Me perdoa! - peguei o guardanapo e tentei ajudá-la, mas Hailee negou a ajuda e continuou soprando sem expulsar a comida da boca.
Depois de alguns segundos, ela conseguiu mastigar e engolir a comida. Eu estava ao lado dela de olhos arregalados e as mãos na boca como se estivesse sentindo a dor dela. Hailee respirou fundo em alívio e eu mais uma vez me desculpei.
- Tá tudo bem, relaxa! - Hailee mesmo com a boca queimada, por algum motivo, estava com uma cara divertida, achando a situação engraçada.
- Eu sou muito burra! Desculpa de verdade!
- Sério! Tá tudo bem! Foi só um susto. - ela ria.
A essa altura, Maya Urtiz e suas amigas já haviam escolhido uma mesa e já não estavam mais paradas na porta principal, mas, pra minha sorte, - ou azar, não sei - a mesa que elas haviam escolhido não era longe da gente e eu consegui flagrar elas olhando disfarçadamente- mas nem tanto - para mim e para Hailee juntas.
Acho que conseguimos o que queríamos, sermos avistadas.

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Inventado
Fiksi PenggemarEu só precisa de alguns pontos extra-curriculares para garantir minha vaga na prestigiada Yale e aquela era minha chance de garantia. Mas para conseguir chegar lá eu ia ter que embarcar numa mentira que ia dar a escola meses de boas fofocas. Chris i...