A semana seguia com as obrigações da escola e Chris continuava a dirigir a peça de teatro da vida real que ele escreveu na cabeça dele e convenceu Renee e eu a participarmos. Almocei mais alguns dias aleatórios com eles e Chris queria que Renee e eu sentássemos juntas em algumas aulas em comum que tínhamos, mas eu também não ia trocar a companhia dos meus amigos pra dar vida a uma mentira. Então tentamos pôr sensatez nessa aproximação não-orgânica que precisava acontecer.
A minha surpresa maior nessa história toda estava sendo descobrir um pouco mais sobre Renee. Ela era uma garota rica, bonita, popular, de Nova Iorque e a imagem que eu tinha dela na minha cabeça era de alguém com gostos e princípios muito diferentes dos meus. A verdade é que eu achava que ela seria uma metida chata pra caramba, mas ela não era! Era gentil, engraçada e sempre estava preocupada se eu estava confortável em estar ali junto dela e dos outros. Aos poucos fui me sentindo mais à vontade com a galera de Renee e Chris, inclusive era até divertido estar ali com eles. Comecei até criar uma estranha afeição a Peter, namorado de Nicole. Ele era o típico grandalhão com energia de golden retrivier que era impossível não amar. Eu entendia e não entendia Nicole. Peter era de fato um gato, mas eu só conseguia sentir um enorme apego fraterno por ele.
Meus amigos foram os primeiros a estranharem a aproximação entre eu e o grupo de Chris, mas ninguém realmente chegou a questionar algo diretamente sobre Renee. Acho que porque ninguém tinha dúvidas da heterossexualidade dela, então não fazia sentido a aproximação ser por um affair com ela. Se Chris e Renee queriam reforçar a narrativa, precisaríamos investir mais pesado e aí entrou uma nova ideia do meu querido irmão.
- Vocês vão ter que ser vistas jantando juntas! - Chris sussurou no estacionamento da escola encostado no Mini Cooper azul marinho de Renee. - A fofoqueira da Maya Urtiz contou pra mim e pra Nicole que ela e algumas amigas vão jantar na sexta no Waves. O plano vai ser vocês serem "flagradas" em um jantarzinho romântico lá também.
- Eu não tenho grana pra jantar no Waves. - falei.
- Você não vai precisar se preocupar com isso. - Renee assegurou e eu me lembrei que ela era rica para cacete.
- Então fechou, né, amores? - Chris perguntou retoricamente. - Jantarzinho romântico no Waves na sexta.
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Precisávamos chegar bem cedo no Waves. Primeiro porque não sabíamos exatamente a que horas as meninas chegariam para jantar e segundo que lá geralmente lotava nos finais de semana. Próximo às 18h, eu estava parada dentro do meu carro na frente da casa de Hailee esperando-a. Mandei mensagem avisando que havia chegado e poucos minutos depois Hailee dava uma corridinha apressada até a porta do passageiro para fugir da fina chuva que caía naquela hora. Assim que ela entrou o perfume dela invadiu todo o carro. Era um cheiro floral maravilhoso que ativou minha memória imediatamente. Ela me cumprimentou ajeitando os cabelos tentando se livrar das gotículas de chuva que haviam caído neles e eu sem pensar muito falei:
- Yves Saint Laurent Libre combina muito com você. - ela demorou um pouco para captar o que eu havia dito.
- Ah sim! Meu perfume! É meu preferido pra sair à noite. - respondeu de forma acanhada. - Você também já usou esse?
- Já, algumas vezes. Era um dos perfumes da coleção da minha mãe que eu mais gostava. - Na hora me veio um sentimento nostálgico sobre quando eu gostava de usar os perfumes da minha mãe escondido.
Hailee estava sempre cheirosa em quase todas as vezes em que eu havia chegado mais perto dela, mas na verdade essa havia sido a única vez em que eu conseguira detectar qual perfume ela estava usando. Passamos o caminho inteiro até o restaurante conversando sobre perfumes e ela contou que não conhecia muitas fragrâncias, mas que costumava se "apaixonar" por alguns perfumes e passar anos usando o mesmo sem mudar e o YSL Libre era um desses perfumes.
Ao chegarmos ao Waves, havia poucas mesas ocupadas porque ainda era cedo. Decidimos rapidamente por sentar em uma mesa que eu considerei mais estratégica. Não era tão escondida, porém não era tão exposta, se alguém precisasse ir ao banheiro, precisaria passar por perto de nós e os assentos eram em um estilo booth arredondado que permitiria que eu e Hailee ficássemos mais perto uma da outra como um casal de "verdade". Percebi que Hailee perdeu um pouco da descontração que mostrou no carro enquanto conversávamos e ouviámos música, mas não quis ressaltar isso.
O garçom logo veio até nós, foi muito cordial, entregou os cardápios e se dispôs a voltar assim que estivéssemos prontas para pedir. Abrimos o cardápio e Hailee soltou:
- Queria poder beber uma taça de vinho para conseguir relaxar.
- O que está te deixando nervosa? - perguntei querendo poder deixá-la mais confortável de alguma forma.
- Acho que o lugar, as pessoas que estão aqui, as que estão para chegar... não saber exatamente como agir para parecer um casal com você. - ela falou a última frase mais baixinho.
- Bom, não tenho muito como te ajudar com as pessoas e o lugar. Tudo aqui realmente é bem pretensioso, mas posso te ajudar na última coisa. - me sentei mais perto dela, encostando nossas pernas.
Ela me olhava tensa e chegava até a ser meio cômico.
- Coloca a mão direita em cima da mesa. - pedi calmamente.
Ela obdeceu e logo em seguida eu pus minha mão em cima da dela e comecei a acariciar devagar. Ela parecia uma estátua olhando para mim e eu não consegui segurar a risada.
- Não é possível que você seja tão ruim de flerte assim.
- Eu não sou! - ela tirou a mãe debaixo da minha e pareceu comicamente ofendida - É que eu não tô flertando com você.
- Então finja que está! Como você faz pra se aproximar de uma garota com quem você está saindo? - perguntei tentando instigar ela.
- Bom, eu tenho meus movimentos... tipo, eu chego mais perto como você fez... a gente vai conversando, eu vou percebendo se a garota está correspondendo à minha aproximação... no meio da conversa eu começo a tocá-la no braço ou na perna despretensiosamente enquanto a conversa vai ficando mais legal... continuo observando se estou sendo correspondida e por aí vai.
Ela sabia flertar, sim. Ela só não sabia fingir.
- Então é assim que você vai fazer comigo e eu com você.
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Inventado
FanfictionEu só precisa de alguns pontos extra-curriculares para garantir minha vaga na prestigiada Yale e aquela era minha chance de garantia. Mas para conseguir chegar lá eu ia ter que embarcar numa mentira que ia dar a escola meses de boas fofocas. Chris i...