Era sexta-feira: dia de ficar até tarde da noite jogando qualquer coisa no computador enchendo a cara de Mountain Dew. Meus fones estavam confortavelmente posicionados nos ouvidos, o jogo rolando e eu em máxima concentração. Em um susto, sinto alguém puxar um dos lados do meu fone de ouvido e me viro rapidamente pra olhar de quem se tratava. Era Chris.
- Será que não existe mais privacidade nessa casa? -perguntei irritada.
- Eu bati na porta mil vezes e você não respondeu, daí eu entrei mesmo.
Eu olhava de lado para Chris, mas pelo canto do olho, percebi uma figura alta e loira parada debaixo da porta. Renee Welch estava tímida parada na entrada do meu quarto como se precisasse da minha autorização para adentrar. Olhei pra ela e soltei um tímido "Oi" ao qual ela respondeu com um aceno e um simpático "Olá".
Reene havia se tornado bem próxima de Chris desde que ela se mudou para Westport há uns dois anos. Ela se misturou muito fácil com a galera descolada da escola porque todo mundo queria conhecer a garota linda que veio de Nova Iorque. Mas embora ela tivesse se tornado muito amiga de Chris, havíamos interagido quase nada nesses dois anos porque eu não andava com os mesmos amigos que meu irmão. Às vezes ela ia lá em casa e passava horas no quarto com Chris e, às vezes, com Nicole junto, fofocando sobre tudo e todos. Qualquer pai ou mãe ficaria incomodado em deixar sua filha passar horas no quarto de algum um garoto, mas Chris era tão gay que o único perigo que as meninas corriam era virarem fã de Ariana Grande assim como ele.
- Qual é a bronca que eu preciso resolver hoje? - perguntei tentando antecipar o que eu precisaria fazer pra acobertar alguma besteira que Chris deveria ter feito.
- Então, irmã querida. Eu, aliás, nós - apontou para Renee - precisamos da sua ajuda para uma coisinha.
Ótimo! Agora eu preciso ajudar dois e não mais só um.
- E eu preciso ajudar em que? - perguntei já apreensiva.
Chris sentou-se na minha cama e fez sinal que Renee entrasse no quarto e fechasse a porta e ela assim o fez, sentando-se em seguida timidamente na minha cama junto a Chris.
- Você está sabendo da eleição de Yale para melhor aluno do colégio, certo?
- Claro! Ninguém cala a boca sobre isso um segundo na escola.
- Pois é! Renee está concorrendo e isso é muito importante para ela porque Yale é a universidade que ela quer entrar e isso seria um ponto importante para ajudá-la a ser aceita. - meu irmão seguia enrolando até chegar no ponto que me dizia respeito à história.
- Tá! E o que eu tenho a ver com isso? - questionei, instigando-o a parar de enrolar e me contar em que cilada ele ia me meter.
Renee e Chris se entreolharam e meu irmão prosseguiu.
- Marcus Smith está na frente nas pesquisas e você tem a oportunidade de se vingar da sacanagem que ele te fez lá quando a gente era pirralho e ainda pode ajudar Renee a ganhar.
Confesso que a parte de ter a oportunidade de me vingar de Marcus deu a Chris um pouco mais da minha atenção. Marcus me jogou para fora do armário quando tínhamos 12 anos. Os pais de Marcus e os meus pais costumavam fazer parte do mesmo grupo de amigos e Marcus contou aos pais sobre eu ser "sapatão". Os pais dele, claro, fizeram um comentário aos meus pais falando justamente: "Nossa, deve ser horrível tem dois filhos homessexuais". Isso porque Chris dava pinta desde que saiu do útero da nossa mãe, mas eu nunca havia falado da minha sexualidade para quase ninguém. Aí veio Marcus e fez minha vida virar um inferno por alguns meses porque meu pai que já não sabia lidar bem com Chris, agora precisaria lidar com dois filhos queer. Felizmente o tempo amenizou muita coisa, mas meu ódio por Marcus sempre esteve guardadinho, principalmente porque aquele merda também se revelou gay alguns anos depois.
- Tá. E como eu posso fazer isso? - continuei desconfiada.
E aí Chris iniciou a explicação de uma ideia completamente alucinada que só poderia vir da cabeça dele mesmo.
Ao final de toda a explicação, eu parei com a mão no rosto, dei um sorriso e falei:
- E vocês acham que isso vai dar certo mesmo? Tipo, vocês acham que a galera vai desconfiar que eu e Renee estamos juntas e aí vamos armar para alguém tirar a Renee a força do armário e gerar uma comoção popular que vai conseguir converter os votos da minorias, fazendo Renee conseguir virar a porcentagem e ganhar essa parada? - meu tom era de incredulidade.
- Sim! Você captou perfeitamente, irmã. - disse Chris dando leves palmadinhas no meu braço.
Passei alguns segundos olhando para Chris esperando ele dizer que era só zoação, mas ele parecia realmente estar falando sério.
- E por que que eu que tenho que ser esse falso affair? Com todo respeito, Renee! Ser um affair seu seria... assim...maneiro, sabe... mas tipo... por que eu? - nessa hora eu devo ter corado tanto quanto como se eu tivesse passado o dia inteiro de baixo do sol do Saara.
Renee, que até então estava calada e confortável por trás das explicações de Chris, falou:
- Por que a escola inteira já sabe que você é lésbica e você é uma pessoa de confiança da gente. Certamente não contaria esse plano pra ninguém. - ela falou com tanta calma e credibilidade que por um momento eu não achei a ideia tão estupida quando como saiu da boca de Chris. - Olha, eu sei que parece idiota, mas o máximo que pode acontecer se não der certo são as pessoas na escola acharem que eu realmente tive um caso com você, o que, pra mim, seria super tranquilo.
- Você não se importaria da escola toda pensar que você é queer? - indaguei.
- Não! Não seria nenhum problema pra mim. Seria muito de boa até se meu pai ficasse sabendo sobre algo. - Renee parecia tranquila ao falar aquilo e aos poucos eu achava a ideia menos maluca.
Pensei de novo sobre me vingar de Marcus e ainda de quebra ajudar a amiga do meu irmão a facilitar um sonho dela. E por fim soltei:
- Vocês sabem exatamente como vão fazer tudo isso?
- Nem se preocupe que eu já tenho tudo planejado nessa cabecinha aqui. Vocês só precisam dar o melhor de vocês na atuação e vai dar tudo certo.
Pensei mais um pouco. E mais um pouco.
Decidi aceitar porque era a minha hora de ferrar o Marcus.
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Inventado
Fiksi PenggemarEu só precisa de alguns pontos extra-curriculares para garantir minha vaga na prestigiada Yale e aquela era minha chance de garantia. Mas para conseguir chegar lá eu ia ter que embarcar numa mentira que ia dar a escola meses de boas fofocas. Chris i...