Cap. 3 - BUG

28 4 2
                                    

O próprio prédio da Education acordou Ed na "manhã" seguinte. O céu continuava na mesma cor de sempre, mas na lógica dos habitantes locais, aquele era o que poderia ser chamado de o dia de amanhã. Devia ser por isso que o corpo de Ed não se recuperara de todo o cansaço dos últimos acontecimentos. Seu organismo digital teria que se acostumar a despertar sem o laranja e sem a vista de cartões postais de Mascot Ville.

Ed soltou um muxoxo frustrado por essa nova perspectiva e saiu arrastando os pés cansados.

— Bom dia, senhor, como está sua manhã? — saudou o prédio, piscando as paredes-telas enquanto falava.

Um gosto amargo de ironia veio à boca do recém-assistente ao ouvir aquela pergunta. Apenas um dia antes ele acordava na sua mansão de Mascot Ville e discutia com seu aparespelho. Agora, estava ali... Dormindo em uma caixa de vidro difícil de chamar de lar.

— Eu ainda estou me acostumando... na real, é estranho olhar para essas paredes digitais e pensar que tudo isso é... Você sabe, de verdade. — Ed confessou, subitamente confortável para expor ao edifício o que realmente pensava.

— Sem problemas, senhor, o que acha de mudarmos a decoração novamente? Algo mais descolado, talvez?

O prédio mudou novamente toda a decoração e mobília da casa, para algo mais jovem, com pôsteres de bandas inglesas nas paredes, sofás escuros e luminárias estilizadas. Ed acompanhou a redecoração sem muita surpresa, já que aquela brincadeira perdera a graça para ele já no dia anterior.

— Acho que eu curti... — comentou o ex-mascote, robótico.

— Eu também preparei o seu café da manhã com um combo de todos os lanches de fast food e um refrigerante com copo de refil infinito que tem o sabor que você imaginar, senhor!

O humor de Ed mudou da água para o refrigerante assim que ele viu a fileira de lanches que cobria a mesa. Todos iguais aos dos anúncios! O apetite appeal do ex-mascote até aflorou só de olhar aquelas batatas fritas tãooooooo amarelinhas.

— Mano, você é mais inteligente do que meu antigo espelho!

Sem muita cerimônia, Ed se entregou àquele café da manhã, devorando tudo com pressa desproporcional à própria fome. Contudo, sua alegria da refeição foi interrompida pelo toque do seu ADphone. O prédio se conectou ao aparelho e o atendeu, transmitindo uma voz familiar pelas paredes-telas:

— Ed, cadê você? Já era para você estar atendendo a essa hora! Corre!

A irritação na voz de IRIS fez Ed deixar a mesa coberto de farelos e correr pela casa em busca de seu headset. Ainda bem que o prédio o ajudou e trouxe o artefato em cima de uma poltrona que deslizou pela sala. Obrigado, amigo, ele respondeu, cobrindo sua cabeça com a haste metálica e saindo pelo LED para encontrar com uma IRIS super contrariada do outro lado.

— Isso são horas?

— Desculpa, mas você deve ter percebido que aqui o céu está sempre escuro, então fica difícil "despertar", né?

Ed estava irritado com aquela cobrança.

— Ok, não vamos perder mais tempo com isso. Hoje eu aceito o convite para entrar no seu prédio, apenas para treinamento, claro.

— Então tá. — Ed deu de ombros — Chega aí.

A mudança abrupta de rotina provocou uma ponta de mau-humor em Ed, pontiaguda o suficiente para espetar IRIS. Ele não estava nem aí se ela era a Rainha de Bot Ville ou Sei Lá O Quê. Depois de sua experiência nada legal com o Programador de Teletransporte, Ed nem considerava a Ilha dos Reprovados um lugar tão ruim assim.

Brand LoversOnde histórias criam vida. Descubra agora