Ser a assistente virtual da Brain Brasil era a coisa que Brenda mais amava. Criada para ser a tradução viva daquela plataforma de estudos de idiomas, ela representava milhares de brasileiros que desejavam fazer de uma nova língua a forma de cruzar os horizontes entre o país e o mundo.
— Bom dia, brainers, como vocês estão? Bora montar um planejamento de estudo para este ano? O mundo espera por você, então diga: here I go!
Em frente à parede-tela de seu quarto, Brenda gravou uma mensagem para os seguidores da Brain Brasil, que logo se converteu em um post no feed da marca. Ela avaliou a si mesma na imagem da publicação, seu black power sob a tiara cor de limão, a blusinha branca e a caneca de café com o logotipo da Brain desenhado. Gorgeous!
Em questão de segundos, as paredes-telas foram tomadas por comentários dos seguidores da Brain Brazil. Emojs de coração, beijinhos, risos... frases elogiando a beleza de Brenda... comentários feios e maldosos que ela excluía com um toque de dedo e uma careta de repreensão... clientes perguntando sobre as promoções... reclamações...
Com um gesto da mão direita, Brenda fez sumir os comentários de todas as paredes. Pediu ao prédio para lhe trazer seu headset e ele prontamente atendeu, deslizando uma mesinha de acrílico até o alcance das suas mãos. Então, a assistente encaixou o artefato sobre a tiara e ativou sua Consciência Compartilhada. Pronto, Brenda?
Não houve resposta.
— Pronto, Brenda? — Ela insistiu, impaciente.
— Não estamos prontas! — Todas as Brendas responderam em uníssono quando se espalharam pela sala.
— Gente, o que é isso? Nós precisamos atender!
— A Brenda Workaholic tá atendendo 24h por dia desde que você foi programada, esqueceu? — rebateu a Brenda Ativista em franca oposição às condições de trabalho de sua colega. — Sem férias, décimo terceiro e nem um bombonzinho de mimo.
— Sem contar que depois que você mandou o Ed para a Ilha dos Reprovados, o clima aqui na Consciência Compartilhada anda bem pesado. — reclamou a Brenda Good Vibes.
— Pois é, mana, até eu acho que tu exagerou, morô? — para surpresa da Brenda Original, a Brenda Barraqueira fez coro ao protesto das outras. — Pô, podia ter enfrentado o cara na raça mesmo, não precisava desse caô todo pra queimar o filme dele, não.
Todas as Brendas desataram a manifestar suas opiniões (negativas) a respeito da atitude de Brenda, que se viu pressionada a se defender:
— Pera lá, tudo o que eu fiz foi pela Brain! E nem foi coisa tão ruim assim, gente, só uma estratégia não convencional.
— Ah, é? Então vamos ver! — A Brenda da Memória acionou o próprio headset em tom ameaçador.
A atmosfera ambiente se transformou em um Juízo Final autoimposto. A Brenda Original precisou se sentar sob o peso das imagens que surgiram nas paredes-telas: uma memória-tape dela usando as Brendas da Consciência Compartilhada, disfarçadas de adblockers, para se infiltrar na Base Operatória de Bot Ville, roubar o headset que seria de Ed, assim como apagar os dados dele das planilhas e relatórios de lançamentos de novos assistentes virtuais.
— Lamentável! — reprovou uma das Brendas.
Outra memória-tape trazia a imagem de Brenda, escondida nas profundezas do edifício da Brain Brasil, desconfigurando o headset para entregá-lo a Ed todo bugado;uma nova filmagem de Brenda hackeando o edifício da Education para vigiar Ed e expor imagens comprometedoras dele na fachada do prédio; em outra imagem, Brenda aparece configurando o prédio para fazer Ed dormir mais que o necessário e impedi-lo de responder no momento em que os programadores entraram em contato com ele, uma última gravação, exibindo Brenda mudando sua aparência para se aproximar de Ed e entregar o headset danificado a ele!
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Brand Lovers
RomanceENEMIES TO (BRAND) LOVERS! Você certamente conhece o competitivo mundo da publicidade. E tem escapatória? Os anúncios interrompem nossas experiências diárias, tomam conta dos espaços onde não são chamados, despertam ódio e desejo, incitam "a ânsia...