Chapter 1

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Sandro meio que tentava correr pelas ruas geladas e assombrosas de São Paulo, sem saber exatamente se a sua dor podia ser comparada ao desespero. Seu peito subia e descia, enquanto via pequenas gotas de sangue molharem o chão que pisava. Teve até que se escorar em um poste em um dado momento, desmaiar meio que iria arruinar toda a sua fuga.

Quer dizer, ser desesperado demais foi o que condenou essa situação, em primeiro lugar; Ele realmente precisa começar a buscar soluções mais fáceis para os seus problemas.

Sandro pega o seu celular do bolso, discando o mesmo número pelo menos umas quatro vezes, porque sua visão está meio turva. O celular chamava, e a velocidade dos seus passos diminuía, observando atentamente os números das casas. Ele não sabe se dobrou no lugar certo, nem se a casa que constava em sua mente era a que estava buscando agora, mas rezava silenciosamente para que fosse.

Parou em frente a um canteiro de rosas, e levantou o olhar para admirar o casarão, enquanto o celular estava apoiado no ouvido. Uma voz rabugenta dividiu a linha de telefone, bocejando uma reclamação:

"Sampa, são tipo, quatro da manhã" Ele sentiu seu corpo fraquejar, sua boca abriu para responder, mas não tinha pensado nesse momento na sua mente antes, o que exatamente devia dizer? Seus olhos piscaram algumas vezes para a luz da janela, que agora estava acesa, segundos depois de ouvir a garota se mover na cama. "Quem, de consciência limpa, liga em um horário desses?"

"Ehh.. Catarina, acho que eu tô em frente a sua casa, eu acho que é essa, pelo menos." Ele proferiu, abaixando a voz enquanto o mundo pareceu ficar um pouco mais escuro, sabendo que provavelmente uma bronca o esperaria, mas ainda parecia melhor que a morte. "E caralho, acho que estou sangrando também." Ele completou, e sentiu seu corpo flutuar enquanto o mundo apagava a sua volta, e ele voltava para a escuridão.

Sonhou com a mesma noite, horas atrás. Sua bebida azul oceano se despedaçando no chão por uma birra de um grupo de desconhecidos nada gentis, logo ao lado de fora do bar que costumava frequentar. Sua voz se exaltando por uma questão de honra que, olhando de longe, não parecia de fato ser algo que valia a pena. Um garoto loiro surgindo de repente, jurando que Sandro precisava de ajuda, mas ele nunca precisa de ajuda. E então, ele fugindo para as ruas de São Paulo, procurando um lugar para se esconder da multidão que rodeou a discussão.

Quando acordou, sua teoria de estar sonhando caiu por terra. Catarina estava limpando seus machucados lentamente e, para variar, ele não parecia nada bem.

Parecer era uma palavra perigosa, porque ela permitia abertura para dúvidas demais, e Sandro não gostava disso.

"Catarina?" Ele puxa seu pulso quase imediatamente, suas pupilas se acostumando com a luminosidade do cômodo.

"Não conseguiu esperar sequer eu chegar na porta?"

"Como caralhos você sabia que-"

"Você ligou." Ela respondeu, e o paulista tem uma leve lembrança de realmente discar o número da garota no celular. "Você literalmente ligou, Sampa"

"Eu bebi pra caralho." Ele sussurra, encolhendo os ombros porque a culpa de ser irresponsável é um fardo difícil de carregar. "E briguei"

"É, eu percebi"

Sua voz era amarga e deixou um gosto azedo na boca de Sandro. E então, ela pegou o celular para olhar vagamente a hora, bocejando de cansaço enquanto terminava de fazer o último curativo. Quando seu trabalho parecia estar feito, ela ligou para alguém, e o moreno sabia que era para acordar o seu motorista para vir buscá-lo, igual uma criança de dez anos, e seu coração apertou. Sua voz parece falhar quando ele tentou impedir a loira de ligar para a secretária da sua agência, como se não fosse capaz de evitar encrencas, e de uma hora para outra, ele voltasse a ser um bebê.

ESCÂNDALO! | PauneiroOnde histórias criam vida. Descubra agora