Parte 8

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A primeira pessoa que Pran viu ao chegar no hotel foi Drake e por isso revirou os olhos; ele nunca tirava este meio sorriso babaca do rosto, o que deixava Pran inquieto e irritado.

Seus pais discutiam sobre o quarto enquanto se afastavam do balcão da recepção e sua irmã caminhava um pouco atrás do casal. Pran seguia o grupo, com a mochila jogada nas costas, apertando a alça com força, pois Drake observava os passos de sua irmã, lançando olhares insinuantes para ela. A garota o ignorou, mas, ao passar ao lado dele, Drake roçou os dedos pelo braço dela e piscou.

As pessoas que estavam no saguão do hotel não deram muita importância para dois garotos esbarrando um no outro e seguindo cada um em uma direção. Essas pessoas não repararam no rosto furioso de Pran antes de empurrar Drake e o encarar por alguns segundos em um estranhamento silencioso, como se fosse um duelo de olhares nada amigável.

Era muito ruim estar de volta a este lugar, mas ficava pior a cada minuto, pois Pran tentava fazer seu papel de irmão mais velho, cuidando e ficando atento às pessoas que rodeavam Nonnie. Contudo ela implicava cada vez que o via no mesmo ambiente em que ela e as amigas estavam ou fingia que não o conhecia.

Era cansativo se manter nesta postura de garoto responsável, gentil e obediente, atendendo à imagem que seus pais e as outras pessoas esperavam dele.

A sala de jogos nunca esteve tão cheia quanto naquela noite, talvez fosse por causa da chuva fraca que caía ou poderia ser porque tinham muitas crianças no hotel. O lugar não era assim nos primeiros anos da amizade entre ele e Pat e este pensamento trouxe um aperto no peito como há muito tempo ele não sentia.

As conversas altas, risadas e os grupos fechados que o encaravam quando ele passava o deixavam desconfortável. Sua irmã fingiu não ver sua aproximação, sendo assim, Pran disfarçou sua raiva, passou por ela e seguiu até um dos  sofás vazios.

Era um sofá grande, com um tecido que imitava couro e fazia barulho cada vez que ele se mexia e isso o incomodava e o deixava nervoso, assim como o espaço vazio no assento ao seu lado.

O problema talvez fosse outro. Faltava alguém.

Há um ano, ele tinha perdido sua máquina fotográfica, sua bolsa e mentiu para os pais dizendo que tinha sido assaltado. Ele não podia contar que tinha abandonado tudo o que era importante e tão especial por causa do seu medo.

Há um ano, ele tinha chorado abraçado ao pai, que prometeu uma nova câmera de aniversário. O que seu pai não entendia (e ele também não podia explicar) era que uma câmera nova não devolveria as fotos com Pat, muito menos traria de volta os momentos antes de tudo a sua volta colapsar.

Drake sentou ao lado dele na sala de jogos e colocou o braço no encosto do sofá, quase sobre seus ombros.

“Nosso Baixinho não é mais baixinho.” Drake mexeu no cabelo de Pran, que deu uma cotovelada na sua barriga e se levantou.

“Não chegue perto da minha irmã!” Pran ameaçou.

“O Baixinho está violento!” Ele debochou “Você é só um bebê chorão” Drake fez uma careta imitando choro e depois fechou a cara e só então se levantou, quase colando seu rosto no de Pran “Você já tem pelos no saco, seu babaca? Você acha que pode falar assim comigo?”

“Sim, eu posso.” Pran não se moveu mesmo após sentir o hálito azedo de Drake e nem se intimidou “Se você encostar na minha irmã, eu mato você.”

A voz de Pran não tinha fúria, não tinha raiva, não tinha medo, não tinha nada. Era uma voz baixa, completamente sem emoção, fria e perigosa. Tudo isto somado ao seu olhar fixo fez Drake rir e se afastar, fingindo não ter se assustado, embora, no seu inconsciente, um grande alerta para não se aproximar da menina tivesse se acendido.

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