Capítulo 1 - Proposta

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Novamente este sonho, na verdade não sei se é só um sonho. Eu sou novamente um bebê, dentro do berço de um quarto iluminado, eu estou deitado olhando para o teto. A porta se abre e meu olhar vai até a mulher que aparece, se é minha mãe eu não me lembro.

Seus cabelos são tão escuros quanto uma Dália negra, seu rosto está borrado mas ouço sua voz. Não entendo as palavras mas gosto de ouvi-las.

Ela me pega no colo e começa a cantar uma canção, me balançando de um lado para o outro. A música entra nos meus ouvidos e, mesmo não entendendo, me relaxa até quase dormir.

De repente a música para, a luz apaga e tudo começa a se desfazer em escuridão. Os braços que me seguram viram pó e começo a cair em um infinito vazio sem luz alguma. Conforme desço mais fundo mais meu coração bate forte contra o meu peito.

Sinto meu corpo envelhecer até minha idade atual, balanço meus membros em busca de algum apoio mas não existe nada. Quando o desespero completo toma conta de mim e sinto algo bater nas minhas costas meus olhos abrem.

Estou acordado, no mundo real, deitado na minha cama. Minha respiração mais empurra do que puxa ar, meu coração só acelera e o suor frio escorre pelo meu corpo como um rio.

Me sento na beirada da cama e tento controlar minha respiração. Era só um sonho, repetia essa frase como uma oração mesmo sentindo que estava errado. Meu silêncio concentrado se quebra quando o despertador toca.

- Para que eu tenho você se sempre acordo primeiro?

Levantei e fui fazer minha higiene matinal, depois fui praticar o meu uso da energia na parte de fora da minha casa. Era um residência entre o rico e o modesto, tinha dois andares e era feita de madeira. Ficava em uma região mais afastada da cidade, era melhor assim por enquanto. Na parte detrás eu fiz uma área para treinar, o chão era de areia e tinha marcações no chão delimitando seu espaço.

Tomei minha posição no centro do retângulo de areia e comecei meu aquecimento. Fechei os olhos e me foquei na respiração, primeiro puxar o ar e segurar por cinco segundos para expirar.

Enquanto isso, sentia minha conexão com a energia que mantém os seres vivos. Era como uma presença dentro de mim, algo imaterial mas que existia e interagia com o mundo. Todos poderiam controlar essa energia mas nem todos queriam ou tinham talento.

A maioria dos que se interessavam seguiam carreira militar. Com o nível certo de compreensão as pessoas poderiam despertar poderes. Normalmente a maioria dos soldados parava no aprimoramento corporal.

Era algo delicado, sutil e poderoso. Não é como dar uma ordem, está mais para uma sugestão ou direcionamento. No momento eu tinha poderes excepcionais e um controle considerado acima da média.

Senti a energia correr pelo meu corpo, fazendo seu caminho dentro dos músculo, tendões, ligamentos, nervos e ossos. De repente eu sentia todo o meu corpo, não de maneira agonizante mas harmônica. Como o que ele de fato é, um único organismo vivo.

Fiz alguns movimentos pré-programados na minha cabeça enquanto focava na minha interação com a presença dentro de mim. Senti uma presença estranha se aproximando da minha casa, quer dizer, não estranha mas não era minha.

Sabia quem estava vindo mas ainda fiquei de pé na areia esperando. Quando o idoso apareceu dei uma olhada de cima a baixo. De velho ele só tinha o cabelo branco e algumas poucas rugas, seu corpo parecia o de um atleta de alto rendimento.

- Como você tem esse físico e eu não?

- Eu treino, você se movimenta. É diferente, pega.

Ele arremessou uma faca na minha direção e eu peguei. Hogan era um homem admirável, via ele como família e ele me tratava como se fosse seu sangue. Claro, fora dos nossos cargos, como o Governador ele precisava se manter distante e como Alto-comandante eu precisava me manter... indiferente.

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