Crista
Depois que a General Barganha foi embora meus pais começaram a discutir. Meu pai disse que foi um erro ter me deixado com a função de envenenar. Ele estava certo, eu não ataquei quando podia por ter medo, fui fraca.
Minha mãe disse que agora nossa família teria a proteção necessária, comigo dentro da Fortaleza teríamos tudo que precisávamos. Ela também estava certa, aprendizes de Generais costumam ter vantagens políticas e sociais.
No outro dia Barganha veio discutir os termos do meu treinamento, assim como havia prometido. Dessa vez ela tomou uma pose mais cordial, fez exigências e deixou que meus pais falassem. Não entendi muito, mas o importante foi que eu ainda teria alguns dias para me preparar. Um tempo para me despedir e arrumar minhas coisas. Ainda assim, a General garantiu que eu poderia ir e vir quando quisesse, contanto que não fosse atrapalhar meu treino.
Hoje era o dia combinado para a General aparecer. Eu estava esperando nas escadas principais com minhas malas. Meu irmão, Brodi, estava comigo conversando sobre o último episódio de seu desenho favorito. Meus pais queriam evitar o contato com a General, principalmente meu pai.
— Quando você vai embora? – Brodi perguntou se sentando do meu lado na escada.
— Assim que a General chegar.
— Vou sentir sua falta.
Eu puxei Brodi para um abraço apertado e baguncei seu cabelo. Eu também sentiria a falta dele mas ficaria tudo bem no final, eu tentaria fazer visitas regulares. Ele se afastou tirando minha mão de sua cabeça e arrumando o cabelo. A porta se abriu revelando a General Barganha, dessa vez com uma roupa diferente.
Ela usava uma calça de couro junto de uma camisa cinza sem mangas. Seu cabelo branco-acinzentado estava solto chegando os seus ombros.
— Pronta? – ela caminhou na minha direção com calma e esperou que eu respondesse.
— Sim.
— Ótimo – com um estalar de dedos uma camada de sombra surgiu ao seu redor.
Parecia uma massa disforme que se movia de forma coordenada. Várias mãos surgiram da massa escura pegando minhas malas, uma até fez carinho na cabeça do meu irmão.
— Ele não gosta que toquem no seu cabelo.
— Sério? Perdão querido – a mão acelerou e o empurrou para baixo fazendo seu cabelo parecer um ninho de passarinho.
— Sua–
— Vamos logo – tapei a boca do meu irmão já me levantando.
Do lado de fora da casa eu vi dois carros, em um deles Barganha colocou minhas malas e no outro ela entrou no banco do motorista. Me sentei no banco da frente me perguntando quanto tempo levaria.
— A Fortaleza é longe?
— Eu poderia te levar nos braços mas com as malas seria cansativo.
— Isso não respondeu.
— Que pena – ela ligou o carro –. Posso fazer uma pergunta?
Assenti com a cabeça tentando imaginar que pergunta seria. Sua expressão ficou mais séria de repente, o sorriso amigável que estava ali desapareceu.
— O que sente por mim?
— Acho que eu não entendi.
— Na primeira vez que vim aqui você me agradeceu quando eu estava indo embora. Depois se conteve em observar de longe. Foram seus pais que mandaram você da primeira vez não foi?
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Elevação
FantasyO que é necessário para se criar a paz? Após conseguir criá-la, como mantê-la? Simples, é necessário poder. Não o poder físico, econômico ou social, não. É necessário o poder em sua forma mais simples, a influência. E para manter a influência de for...