Capítulo 6 - Tempo

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  Já era madrugada e eu tinha levado todos os quatro criminosos para onde Hogan me pediu. Estávamos na minha casa.

  Assim que chegamos a cidade eu dispensei o piloto e tentei passar pelos caminhos mais escondidos. As ordens de manter os Senhores da Guerra em segredo foram bem claras. Como eu sou eu conseguimos chegar na minha casa sem problemas.

  Hogan e Alissia já estavam aqui, os dois estavam na cozinha bebendo alguma coisa. Quando eu cheguei e Alissia viu todos os Senhores da Guerra seu copo caiu. Só não bateu no chão por que Hogan segurou.

  — E-Eles existem.

  — Eu não mandaria o Fayn buscar lendas que não existem. Enfim, tomem seus lugares e vamos as explicações.

  Eu, Alissia e Violet nos sentamos no sofá maior da sala, aproveitei para apoiar o corpo no braço do sofá. Helena ficou sentada no outro braço do sofá e Jader tomou uma cadeira que pegou da cozinha. Kusog estava de pé atrás de mim e de braços cruzados.

  Hogan ficou entre a televisão e nós esperando alguma coisa. Quando fiz sinal para ele agilizar ele pigarreou.

  — Os Senhores da Guerra eram guerreiros da mais alta classe, rivais dos Generais de nossos inimigos. Infelizmente, abandonaram sua líder em uma batalha e ela morreu para os Generais. Foi uma luta especialmente difícil e acirrada mas não justificava o abandono de Dália.

  — A gente se entregou e você fez prisões particulares, fim da história – Helena falou como se tivesse repetido inúmeras vezes. – Seja direto Hogan.

  — Dália morreu mas seu artefato não, os Generais o pegaram quando mataram ela. Teoricamente, um artefato só pode ser usado por seu portador. Contudo, tenho indícios de uma energia parecida com a de Dália em território inimigo.

  Até onde eu sabia, um artefato era um objeto com a concentração de energia de uma única pessoa. Dessa forma o objeto seria como uma bateria reserva ou uma arma, depende dos casos. Em ambas as opções o poder do portador fica gravado no artefato.

  Como só o portador pode usar seu poder é uma forma segura de aumentar seu leque de opções durante uma batalha. Mas se há indícios do artefato...

  — Ela poderia estar viva?

  — Talvez, vamos trabalhar com a hipótese de que os Generais e o Conselho conseguiram destravar o artefato. Nossa missão é recuperá-lo, se Dália estiver viva vamos trazê-la aqui.

  Jader se arrumou na cadeira e fez um "hum" chamando a atenção para si.

  — Só acredito nesses indícios vendo com meus olhos.

  Hogan retirou um aparelho do bolso, tinha base reta e parecia uma caixinha. No topo da caixa tinha uma camada fina de algum cristal. Com um toque no topo Hogan ligou a caixinha, uma luz azul foi projetada e um holograma se formou.

  Era uma imagem de satélite, ele estava observando um terreno plano. Algumas massas escuras iam e vinham do centro do terreno até que todas as massas se afastaram. Cada uma corria da maneira que conseguia tentando escapar do centro da planície.

  Uma bola de energia branca surgiu de repente no centro e começou a se expandir. A esfera de energia queimava tudo que tocava, mesmo via satélite era possível ver a distorção do calor.

  Uma camada de energia, dessa vez escura, cobriu a explosão como uma camada protetora. Sem conseguir mais se expandir a explosão implodiu. Tudo aquilo se concentrou em um ponto e depois expandiu novamente, violentamente.

  A barreira protetora quebrou e tudo ficou branco por um instante. Quando a poeira baixou não tinha mais nada lá para ver.

  — Isso foi um ano atrás. Nossos satélites conseguiram capturar mais algumas explosões durante o meio tempo. Uma semana atrás, foi quando detectamos a energia de Dália, na mesma área que surgiu uma explosão igual a essa.

  — Só conta agora? De que serve eu ser o Alto-comandante se vou ser o último a saber?

  — O garoto tem razão, – continuou Jader – eles estavam fazendo testes e agora parece que conseguiram quebrar a trava do artefato.

  — Talvez – Violet ergueu uma mão – eles tenham feito a energia dentro do artefato vazar e ir embora. Também pode ser a própria Dália.

  — Não podemos trabalhar com suposições, temos que nos deter aos fatos – Helena levantou e apontou para onde o holograma tinha se formado –. Dália morreu, e aquilo é o artefato dela sendo quebrado para ser usado.

  Uma mistura de gritos começou, todos queriam acrescentar uma hipótese que pensaram. Infelizmente, tudo era bem simples para mim, não tínhamos tempo. Hogan deixou que os Generais agissem para observar o que faziam e matou nosso tempo no processo.

  Expandi minha energia para fora quando me levantei do sofá. O silêncio reinou mesmo depois de cessar minha liberação, me olhavam com expectativa e medo.

  — Vamos recuperar esse artefato, ponto final. E você, Hogan, – apontei um dedo para ele enquanto andava em sua direção – é o responsável por esta missão falhar. Não temos tempo e não fazemos ideias do que os Generais planejaram. Ficaram vinte anos sem atacar, apenas se defendendo, nos distraindo. Espero que sinta esta culpa.

  — Veja como fala Fayn, eu sou o Governador.

  — E eu sou aquele que vai concluir seu pedido, se fizer algo parecido novamente eu me retiro.

  — Não faria–

  — Não?

  Hogan engasgou com as próprias palavras um instante. Abriu a boca e trocou olhares com os Senhores da Guerra mas não disse nada. Mantive meu olhar em seus olhos, perdidos, sem resposta.

  — Tudo bem, eu já vou indo. Quero–

  — Não está na situação de fazer exigências.

  — Claro.

  Com um riso fraco ele foi embora levando a caixa de projeção. Todos nós ficamos na sala, em silêncio olhando para o chão e pensando. Tentei formar um plano mas estava cansado demais, precisava dormir e os outros também.

  — O dia acabou por hoje, vou apresentar vocês aos seus quartos e amanhã discutimos tudo.

  Ninguém negou, só tinha um problema nem mesmo eu sabia o que diria amanhã quando fosse metralhado com perguntas. Normalmente eu responderia todas mas não sei se serei capaz.

  Hogan passou dos limites dessa vez, sempre quer agir no último segundo a fim de aprender mais. Ele queria descobrir tudo, desvendar tudo e só então agia. Dessa vez isso provavelmente nos condenou a derrota certa.

  No melhor dos cenários tudo dava certo e os Generais morriam. No pior, eles usavam o poder do artefato e nos matavam. Na contagem eles teriam vantagem, cinco generias com um artefato cada mais o extra de Dália. Aqui, temos quatro pessoas que um dia foram fortes, uma capitã e eu.

  Mesmo com meu poder não sei se venceria uma luta desigual assim. Os Generais não ficaram vinte anos enferrujando, ficaram treinando. Provavelmente já possuem a próxima geração pronta para os suceder.

  Por causa de Hogan as chances estavam a favor deles, por causa de Hogan eles tiveram o primeiro turno. Por causa de Hogan só podemos reagir e, por causa de Hogan, não temos tempo.

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