𝕿𝖊𝖒𝖕𝖙𝖆𝖙𝖎𝖔𝖓 - Mattheo Riddle FF.

Pôr do Sol

Eu sonhei com Fred naquela noite.

Eu o via ao longe, emergindo de vastos campos repletos de flores tão numerosas que seria impossível tentar contá-las. Seu cabelo ruivo curto, preservado exatamente como da última vez que nossos caminhos se cruzaram, brilhava contra o sol que banhava a paisagem, dando-lhe um brilho quase etéreo.

Ele sorria enquanto se aproximava, cada movimento indicando uma alegria contida e genuína. Tudo parecia tão real, tão palpável, como se esse momento estivesse verdadeiramente acontecendo. Parecia que éramos as únicas duas almas naquele lugar, cercados pelo silêncio que apenas intensificava a nossa conexão.

Fred, com a familiaridade de quem conhece cada parte da minha alma, avançou alguns passos. A distância entre nós diminuiu até que ele estivesse logo a minha frente. Ele estendeu a mão e segurou a minha, mas eu não senti nada, apenas a vaga ideia de um toque. Era um sonho.

Ele parecia exatamente o mesmo da última vez que eu o vi, uma réplica perfeita que era ao mesmo tempo confortante e desconcertante.

Mas então, sua voz ressoou pelo ar, aquele timbre familiar que eu não ouvia há tanto tempo. Falou em um tom baixo, quase um sussurro, suas palavras atravessando o silêncio como uma brisa suave... "vá, está tudo bem, eu vou ficar bem".

Eu permaneci lá, parada, enquanto suas palavras se dissipavam no ar. Havia um conforto em sua voz, uma tranquilidade que sempre soube como acalmar as tempestades dentro de mim. Eu olhei para ele, buscando algum sinal de tristeza ou arrependimento, mas tudo o que vi foi aceitação e paz.

A realidade do sonho começou a desaparecer, como areia escorrendo por entre os dedos. Eu podia ver as bordas do mundo sonhado começando a se dissolver, a luz do sol se desvanecendo. Eu tentei segurar sua mão mais forte, tentando de alguma forma prolongar o momento, mas era como tentar segurar a água.

"Não vá", eu implorei silenciosamente, mas as palavras pareciam se perder antes mesmo de deixarem meus lábios.

Eu levantei quase em um pulo, tentando manter a respiração calma, reconhecendo o ambiente emminha volta, aceitando que aquilo não passara de um sonho mesmo que a dor seja insuportável... Eu já não sonhava com Fred a tanto tempo, talvez estivesse me curando, talvez tivesse aceitado que a vida era assim, que eu não tinha controle de tudo.

O eco de sua voz ainda ressoando em minha mente. "vá, está tudo bem, eu vou ficar bem". As palavras eram um mantra, um lembrete, uma promessa. Aquilo martelava em minha mente, até o momento que direcionei o olhar para meu lado esquerdo, vendo Riddle adormecido em uma paz completa, as vozes pareciam ter se calado dentro de mim. Senti o arrependimento e todo o nervosismo me controlar, tudo que havia acontecido na noite passada se repetia em minha mente... Era um erro, um erro daqueles que queremos cometer novamente, oh céus...

Eu me levantei tentando não fazer barulho para tirá-lo de seu sono profundo, segui caminho até o banheiro, jogando água fria contra meu rosto, encarando o reflexo no espelho, tentando decifrar tudo que se passava em minha mente, querendo vomitar por puro nervosismo... Mas me controlei, e desci as escadas até a sala, ouvi a voz de meus pais do lado de fora, os dois riam baixinho, peguei meu casaco e fui para o pátio, onde os dois estavam sentados na pequena mesa de ferro que tinhamos desde que eu me lembrava, ela já tinha alguns pontos de ferrugem, relembrando os anos que ali estava.

— Não acham que esta muito frio para tomar café do lado de fora? - disse, as palavras saindo de minha boca em um sussurro quase inaudível, enquanto um arrepio percorria minha espinha devido ao frio.

Os dois olharam para trás surpresos e animados, como se tivessem completamente esquecido da minha presença em casa. Meu pai, com seus olhos brilhantes de alegria, puxou a terceira cadeira da mesa, me convidando a sentar. Mas, como sempre, a quarta cadeira permaneceria vazia, um lembrete constante da ausência de minha irmã...