Shadows Unveiled

cap 4

NERISSA DELACROIX

Acordei com um grito estridente. Meus olhos se abriram rapidamente, meu coração disparado. Ao meu redor, o quarto estava escuro, exceto pela tênue luz da manhã que começava a penetrar pelas frestas da janela. Mas não foi a luz que me despertou. Eram as vozes. As vozes dos meus pais.

Eles estavam brigando. De novo.

Levantei da cama devagar, tentando não fazer barulho, mesmo sabendo que eles não notariam. Minha mãe e meu pai estavam sempre tão absorvidos em suas discussões que eu, muitas vezes, passava despercebida. Fui em direção à porta, empurrando-a lentamente até conseguir sair do quarto.

Os gritos vinham da cozinha. Cada palavra parecia um golpe, reverberando pela casa e atingindo-me em cheio. Desci o corredor em passos leves, com o coração na garganta. Chegando à escada, sentei-me no terceiro degrau de cima para baixo, o lugar onde sempre me escondia quando eles brigavam. Dali, eu podia ouvir tudo sem ser vista.

— Você nunca pensa em ninguém além de si mesmo! — A voz da minha mãe estava rouca, repleta de frustração e raiva.

— E você acha que eu não tenho motivos? — Meu pai respondeu com um tom de sarcasmo que eu conhecia bem. — Eu estou cansado de tentar consertar tudo sozinho!

Os gritos eram altos e dolorosos. Mas, naquele dia, algo diferente aconteceu. Ouvi coisas que nunca deveria ter ouvido.

— Se ao menos você tivesse feito tudo como combinado, que merda.. — A voz da minha mãe falhou, quebrando-se.

— E se você não fosse tão controladora, isso nunca teria acontecido! — Meu pai revidou, sua voz cortante.

Meu coração parou.

— Nossa família está desmoronando por sua causa! — Minha mãe gritou novamente, agora em lágrimas. — E você não parece se importar nem um pouco!

Eu queria correr até eles, fazer alguma coisa para que parassem de brigar, mas estava paralisada. Minhas mãos tremiam, meu peito doía. Era como se o mundo tivesse ficado de cabeça para baixo. Eu não sabia o que pensar ou como reagir.

— Eu não vou continuar com isso, Victoria! — Meu pai gritou de volta. — Eu não consigo mais viver assim!

As palavras dele foram como uma facada. Eles estavam falando sobre separação? Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, silenciosas, enquanto eu ouvia minha mãe soluçar e meu pai sair batendo a porta.

A casa ficou estranhamente silenciosa depois disso. Eu sabia que nada seria o mesmo novamente. Levantei-me devagar, sentindo o peso do que havia escutado me esmagar. Eu não queria descer e enfrentar minha mãe naquele momento. Então, voltei para o meu quarto, fechando a porta atrás de mim.

Deitei na cama, abraçando o travesseiro, tentando abafar o choro. O som dos gritos ainda ecoava na minha cabeça. Minha vida, que já era cheia de incertezas, agora parecia ainda mais caótica. Fechei os olhos, tentando afastar o medo e a tristeza, mas era impossível.

Naquele momento, me dei conta de que minha infância havia acabado. Eu não podia mais fingir que tudo estava bem. Os segredos, as mentiras, as discussões – tudo agora fazia parte de mim. E eu teria que encontrar uma maneira de lidar com isso, de seguir em frente, mesmo com o coração partido.

A manhã seguia em um silêncio estranho após a discussão, e eu tentava me concentrar em qualquer coisa que me distraísse da tensão. Estava sentada na cama, folheando um livro sem realmente ler, quando a porta do meu quarto se abriu de repente.