Capítulo 04. A Última Ilusão

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O coração de Cristina pulou no peito. Ela não queria ser o centro das atenções, não queria ser arrastada para o meio daquela história.

Tentou dar um passo para trás, mas as pessoas ao redor começaram a olhar para ela, cochichando e apontando. Os murmúrios rapidamente se transformaram em vozes altas.

— Ela é a mulher que trabalha na taverna, não é? — murmurou alguém. — A cozinheira.

— Sim, é ela! E estava mesmo na floresta quando tudo aconteceu. Eu a vi entrando lá com um homem.— respondeu outro.

Cristina fez uma careta quando Alyrio entrou na multidão, agarrou o cotovelo dela e a levou para o centro da praça, a colocando de frente para o vagante branco. Maggie acabou indo com ela, pois a menina estava agarrada à capa de Cristina.

Ao olhar para cima, a mulher se arrepiou mais uma vez, percebendo que aquele zumbi não era o mesmo que ela viu o urso destroçar. Aquele em sua frente tinha roupas enferrujadas de soldado e até um elmo, enquanto o destroçado pelo urso usava farrapos.

Ela olhou para Alyrio de soslaio, já confusa.

Então havia mais?

— Espere um momento — Disse uma mulher ruiva de olhos de cores diferentes. Cristina a reconheceu como uma das cozinheiras da mesma taverna onde ela trabalhava, uma das mulheres com quem brigou no início daquela manhã. — Vocês não estão esquecendo alguma coisa?

Coisa boa não viria dos lábios daquela mulher, e nem da maioria dos moradores que a olhavam de forma torta, com a desconfiança de alguém encarando um estranho feio e armado na porta de sua casa.

Cristina não falava, não era vista, não tinha amigos além de Maggie e não conversava com ninguém. Quando notícias se espalhavam sobre ela, era porque ela simplesmente se meteu em alguma briga onde bateu e quebrou ossos de homens sóbrios e bêbados que estavam prestes a cometer algum crime.

Oh, como uma mulher pode ter essa força?

Cristina pensou no que diziam dela enquanto a sua colega cozinheira se aproximava junto com a multidão. Havia um sorriso malicioso nos lábios dela, e isso lhe dava arrepios na espinha.

— Eu me lembro de quando Cristina chegou até Vilavelha. Eu a vi chegando. — Ela se virou para as pessoas como se estivesse dando uma palestra. — Agora que penso, faz todo sentido!

— O que faz sentido? — Cristina perguntou rangendo os dentes.

— O fato de que você estava coberta de sangue, molhada até os ossos e seus cabelos tinham outra cor. Era um vermelho tão intenso que parecia tê-los pintado com sangue! Vestia roupas chiques e joias nas orelhas! — Ela apontou o dedo para Cristina. — Você ficou por horas deitada na neve e ficou intacta, não foi atacada por lobos e nem por ursos.

Cristina levantou as sobrancelhas e deu uma risadinha, mas estava estalando por dentro. Não contava com o fato de aquela mulher tê-la visto quando ainda estava vestida de Harpa. A única forma de desmentir seria fazê-la parecer louca, mas isso não funcionaria tão bem.

— Agora seus cabelos são castanhos, mas ainda é possível ver a raiz crescendo. — Ela tentou tocar seus cabelos, mas Cristina lhe deu um tapa na mão. — Você está se disfarçando.

— E além disso… — Outra mulher começou a falar, a de cabelos pretos que estapeou Maggie. — Foi logo no inverno em que ela apareceu aqui daquele jeito, que deu início a esse frio sem fim!

Todos se viraram para a mulher ao tempo em que Cristina formou um vinco entre as sobrancelhas. Sentiu um aperto na mão desnuda quando ela avançou, pegou seu braço com violência, esticou seu pulso e mostrou a runa, já cicatrizada, mas extremamente visível em sua palma, para as pessoas ao redor.

Dragões de Gelo || Uma Fanfic de "A Casa do Dragão"Onde histórias criam vida. Descubra agora