Capítulo 07. Caolho desgraçado

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Os pulmões de Cristina doíam quando ela respirava, e ela acreditou que a cartilagem do seu nariz já estivesse rígida o suficiente para se quebrar.

O cavalo estava galopando no meio da neve, mas era como se ela estivesse correndo no lugar dele.

Era impossível tirar da cabeça o fato de que Maggie fez a maior estupidez que poderia, e que isso colocou ambas em risco. Bem, como poderia julgá-la? Lá estava Cristina sendo a maior das idiotas, que ao invés de deixar Magnólia para trás e se manter abaixo das asas da influência de Alyrio, estava correndo com um cavalo depois de viajar por vinte dias em um navio mercante e dar todas as suas economias — que usaria para viver com Maggie em Dorne nos primeiros dias — ao capitão para que deixasse que ela fosse uma passageira discreta.

Cristina conseguiu traçar todo o caminho daquela garota e descobrir por onde ela passou, já que o rosto dela não era tão difícil de se esquecer. Aquela menina descuidada viajou com o cavalo, depois o mandou de volta para Hightower quando vendeu o pequeno anel de sua mãe que possuía no dedo indicador para conseguir passagem em um navio até o Penhasco Cinzento.

Como ela poderia vender a única coisa que possuía da mãe? E como aquilo poderia ter sido tão caro?

Cristina pensava nisso ao tempo em que apertava o anel de Magnólia no fio de seu pescoço. Ela já se considerava uma foragida por desmaiar o capitão do navio para roubá-lo de volta e entregá-lo a Maggie.

De qualquer forma, deixou um soldado de Alyrio como responsável por avisar sobre o que aconteceu e para onde ela estava indo, tendo certeza de que nenhum deles poderia resolver aquele problema por ela ou junto com ela.

Já tinha noção do que a esperava, e que não voltaria para a torre com Maggie. Ao menos esperava livrá-la da situação em que se meteu.

Caminhando sobre as ruínas da antiga residência dos Ursos Pardos e sentindo que havia olhos lhe observando, o local parecia extremamente fantasmagórico e o vento gemia como se estivesse se lamentando por algo doloroso. Era como se ela ainda pudesse sentir o desespero que os moradores daquele lugar vivenciaram quando o exército de Aegon chegou.

A mente de Harpa forçou Cristina a retornar ao início, quando quase foi assassinada por Aemond naquele lugar, quando a família dela pulou naquelas pedras para se suicidar porque isso seria melhor do que morrer a mando do usurpador do trono.

Cristina reviveu aquelas memórias sentindo um pouco de pena pela mulher de quem roubou o corpo. Harpa parecia sentir mágoa da família morta por terem deixado sozinha.

Cristina não queria ter voltado até aquele lugar tão cedo, ela estava esperando que Aemond finalmente morresse pelas mãos do tio Daemon como acontecia na história original, mas o efeito borboleta de Cristina ter mantido a vida de Harpa, culminou em Aemond se tornar regente por um motivo diferente do que deveria acontecer. Aegon estava em coma, mas não queimado.

Uma parte sombria da mente daquela mulher, se perguntou se Magnólia valia a sua caminhada para a morte certa. Maggie era uma personagem considerada "figurante", e ela nem mesmo existia, nenhum deles era real. Quando Cristina voltasse para o seu mundo, nada daquilo importaria mais, Magnólia não passaria de um pedaço de papel ou nem isso, já que ela nem era mencionada no livro.

Mas ainda assim, Cristina continuava andando, afundando seus pés na neve, a mão direita segurando o punho da sua espada de vidro de dragão embainhada. O vinco entre suas sobrancelhas estava extremamente profundo e os dentes apertados.

— Que inferno! — Cristina gritou afundando sua bota na neve.

Ela amava Magnólia como se fosse sua própria irmã, não havia como remediar aquilo. Ela cometeu o erro de ganhar uma fraqueza naquele mundo onde não deveria possuir nenhuma, e por isso ela morreria exatamente como Harpa morreu.

Dragões de Gelo || Uma Fanfic de "A Casa do Dragão"Onde histórias criam vida. Descubra agora