Capítulo 10. Montaria

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Além das dores na bochecha e dos demais hematomas que Sor Criston deixou em seu rosto, Cristina ficou ainda mais furiosa quando descobriu que eles ficariam acampando ali.

Ela quase arrancou os cabelos com as próprias unhas.

Céus, eles passariam três dias no meio do mato e ninguém se preocupou em dizer nada a ela, que levava consigo apenas a roupa do corpo e ódio armazenado dentro do seu estômago que roncava, roncava e roncava o tempo inteiro. Colocou a mão sobre a barriga, sozinha naquela carruagem há várias horas enquanto pensava que ninguém se preocupou em perguntar a ela se queria comer.

Cristina deu uma risadinha se achando idiota e sentiu um grande impulso de esmurrar a janela de vidro. Ela era uma prisioneira, ninguém se importava com prisioneiros.

Aemond estava em algum lugar com Criston Cole e mais uma dúzia de homens, e se ela estava com fome, significava que ele mesmo logo ficaria incomodado e viria tirar a paciência dela por conta disso. A partir daquele momento, ela queria evitar vê-lo o máximo que pudesse, e isso significava que não poderia fazer o que mais gostaria: incomodá-lo.

Pensou que se ele acabasse a beijando novamente, Cristina poderia arrancar a língua dele com seus próprios dentes, ou talvez deixá-lo criticamente calvo. Já havia vários tufos de cabelo prateado dentro dos bolsos dela, os quais ela arrancou de Aemond naquele momento. Imaginou até que poderia tentar amaldiçoá-lo novamente usando aquilo, e por isso acabou guardando.

Ela se sentou nas escadas da carruagem e começou a observar os três soldados que jogavam cartas desde que foram deixados para ficar de olho nela, uma tarefa fácil, já que ela não sairia correndo no meio daquela tempestade de neve mesmo que estivesse faminta e louca para que Aemond se sentisse confortável o suficiente para não se incomodar em vê-la.

Havia carne de porco salgada, frutas secas e algumas castanhas ao lado deles enquanto jogavam com um baralho, mesmo que rústico, e bebiam uma garrafa de rum discretamente. Talvez aquele idiota tivesse o costume de ficar horas sem comer, mas ela não, e o corpo de Harpa tampouco.

A barriga dela roncou novamente, e pensou que não tinha nada a perder quando se levantou enrolada em sua capa e se aproximou dos soldados, cada um com uma cor de cabelo diferente. Seria fácil para ela se lembrar dos seus nomes.

O primeiro que a olhou, considerando as conversas que ela ouviu, era Eldric Stone. Havia uma cicatriz que cortava o canto da boca dele, deixando uma rachadura larga que possibilitava ver os dentes dele mesmo que estivesse com os lábios fechados. O cabelo longo e castanho estava amarrado em uma trança que lhe caía sobre as costas, e parecia ser o mais hostil com Cristina.

— O que você quer aqui fora? — Ele perguntou inclinando a cabeça para o lado, tentando intimidá-la.

— Estou entediada. — Ela respondeu. — E quero ensinar um jogo mais emocionante para vocês. Esse aí é insuportável, não aguento mais ouvir.

O loiro, que era chamado de Robert Gray, estava sentado ao lado de Elric e olhando para Cristina com seus olhos verdes cheios de curiosidade, as sobrancelhas claras levantadas. Ele tinha barba por fazer e os cabelos completamente selvagens desgrenhados.

— Vossa Graça Aemond nos avisou que você é extremamente astuta como uma serpente. — Ele sorriu. — O que ganha se unindo a nós?

— Meu rosto está doendo por inteiro e quero me distrair com alguma coisa para esquecer a sensação. — Cristina murmurou fazendo uma careta e tocando em sua bochecha inchada, ainda um pouco suja de sangue. — Ora, não vou fazer nada contra vocês. Além do mais, Aemo... Vossa Graça preza pelo meu bem estar, e eu estou congelando naquela carruagem. Preciso de um pouco de fogo... e também estou com fome.

Dragões de Gelo || Uma Fanfic de "A Casa do Dragão"Onde histórias criam vida. Descubra agora