6 - Desencanto da melancolia part III

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Sangue, onde tudo se inicia e tudo se encerra...

Com a escuridão se aproximando, o tempo se esgotava, já não havia mais o que fazer, correr não era uma opção, por mais hediondo que soasse, restava apenas conversar...

- Irmão!

- Tem a audácia de me chamar de irmão? Você abdicou de sua família, não é digno do sangue que corre e suas veias, Vidar.

Não bastasse a fúria em seu olhar, cada nervo, músculo e pensamento de Esus tinham o mesmo objetivo, eliminar aquele que um dia se denominou um Hadria, Vidar, o Traidor.

- Você era brilhante, se alguém pudesse chegar perto do que ele foi, era você!

Com apenas um objetivo, recriar o que seu antecessor havia conquistado, mas ninguém dentre sua linhagem tinha chegado perto de sua força, intelecto e principalmente, sagacidade.

- Jamais iria ser como ele! Tenho ódio de ter nascido nessa família, gostaria de nem ter nascido, pelo menos assim não teria sofrido tanto...

Com um sorriso sínico, Esus responde.

- Ódio? Sofrer? Guarde esse rancor, porque ele é a única coisa que pode te salvar, você fez dezoito anos, sabe o que significa... Sua hora chegou.

Aquilo que já se era um ambiente escuro começa a se tornar completamente sem luz, toda fagulha existente era absorvida para um ponto, como se um buraco negro estivesse no local, não havia nada que pudesse escapar.

Arthus estava completamente apavorado com tudo que estava vendo, não compreendia nada a sua frente, não sabia distinguir verdade de imaginação, sua pele estava se tornando fria, seus batimentos desacelerando, a contagem regressiva parecia ter chegado ao fim para ele também.

- Calma Arthus, escute apenas a minha voz, se concentre em mim, seus pensamentos, olfato, tato e paladar, lembre-se apenas da minha existência.

Tais palavras ditas por Vidar não parecem ter tranquilizado o garoto, um tanto quanto estranhas, como se soubesse como sair de uma situação inescapável.

Vibrações começavam a ecoar, apenas um som era ouvido em meio ao completo silêncio.

- Ohm...Ohm...Ohm...

Como se alguém estivesse em um completo transe, em estado de meditação.

Infinity: Silence: Habilidade de remover, ocultar e distorcer os campos sonoros. Podendo tornar o usuário incapaz de emitir sons e qualquer um cujo tenha sido tocado por si, o deixando em um estado de isolamento, além de poder emitir sons, também não ouviria nada ao seu redor enquanto o portador estiver com sua habilidade ativa.

Abyss: Alterando e manipulando o campo sonoro em baixas frequências de  300.000 hz a 600.000 hz, afetando assim as células de qualquer ser vivo, além de não ser perceptível para seres humanos...

Penalidade: Vitalidade, moléculas do seu corpo também são afetadas, acelerando o envelhecimento e danificando seu sistema nervoso. O uso de "Abyss" reduz sua vida em dez anos.

Olhares se cruzam, não existia movimentação, apenas cautela, como se fosse uma batalha mental, em que cada movimento era  mapeado em suas mentes, com apenas um cenário em vista, o cadáver de seu oponente no chão.

Apenas um cheiro exalava no local, medo, não daqueles que estavam para começar ali mesmo uma guerra... Enquanto os irmãos já tinham deixavam a vida de lado, apenas esperando o momento do derramamento de sangue, Arthus estava apenas seguindo as ordens de Vidar, por apenas um motivo, medo da morte.

Para os herdeiros de Hadria, aquilo não passava de uma brincadeira, apenas rindo da cara da morte, já que ela faz parte de sua família, medo, sangue fervendo, todo o histórico de sua família estava correndo nas suas veias, naquele momento não existia um herói ou vilão, apenas dois elos querendo mostrar quem é o mais forte em nome da sobreviver.

- Não se mexa Arthus. Apenas observe, você vai ser o primeiro a presenciar isso.

O garoto achava que estava falando da batalha, estava completamente enganado, nem mesmo Esus conhecia o que estava por vir, uma virada surpreendente.

- SILENCE!

Com apenas um gesto e uma palavra, todo o confronto mental, movimentos antecipados, estratégias montadas por Esus, totalmente subjugadas por algo que não conseguiu ao menos compreender.

Sem poder mexer sequer um músculo, com suas pálpebras arregaladas e paralisadas, seu estado era deplorável, em estado vegetativo, apenas existindo, um corpo vazio, sem estímulos ou míseras reações, como se seu corpo estivesse parado no tempo.

- Isso é o fim, estou livre, vocês falharam.

Sem conseguir ouvir uma única palavra, Esus apenas lia seus lábios, tentando compreender o significado, mesmo que não conseguisse falar, por dentro estava gritando de ódio por saber que não conseguiu fazer nada, que foi humilhado por seu irmão.

- AAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHH!!!

Um grito interno que ficou visível em seus olhos...

- Sinto seu ódio, irmão! Desculpe por isso, você não me deu outra opção. Se cuide Esus, não vou te matar, não vou te dar esse prazer, não vou sujar minhas mãos.

Passando a mão em sua boca como se estivesse abrindo um zíper, Vidar pronuncia novamente a única palavra que iniciou a agonia de seu irmão.

- Silenceee...

Esus desperta de seu estado vegetativo mas, não era como ele esperava...

- Seus filhos da p...

Sem conseguir dar um único passo, cai como se fosse uma pedra ao chão. Antes subjugado, agora inconsciente, um dia que não sairá tão cedo de sua memória.

- Me ajude Arthus, temos que levá-lo para longe, bem longe.

Olhando e mexendo a cabeça rapidamente para todas as direções, Arthus responde.

- Oi? Como é? Quer que eu te ajude a desovar um corpo?

Com um sorriso simplório e um olhar honesto, suas levemente eram movidas até os ombros de seu amigo, como se estivesse confortando algo que até a alguns segundos atrás não havia como salvação.

- Ele não está morto, você sabe que nunca machucaria alguém. Apenas estava te protegendo...

Em meio ao caos, até a mais simples das palavras pode se tornar um motivo de esperança para aqueles que estão em frente ao desespero. Em um mundo onde mentiras se tornam verdades absolutas, a mais honesta das palavras cai como um abraço inesperado. Mas mesmo entre momentos de amargura, quando não se a mais cores, em momentos de puro desespero, fazendo levar o ser humano aos confins da sua própria existência, tentando buscar refúgio através do inevitável, o sofrimento, é quando se confronta suas angústias e fragilidades, buscando um motivo para se agarrar e seguir em frente, encontrando em meios aos escombros da melancolia sua essência.

Consequências...

Os dois lados da moeda, enquanto um beira a esperança, do outro lado as marcas de um confronto silencioso começam a ecoar. Escolhas trilham caminhos, em alguns haverá pedras, que podem ser facilmente evitadas, entretanto, momentos desesperadores forçam decisões desesperadas, ao invés de pedras, surgem monstros, nos quais não podem ser evitados sem  haver vestígios de seu encontro...








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