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Fernanda Müller

Eu nunca soube se minha vida era um conto de fadas ou um pesadelo em forma de diamantes. Cresci em meio a mármore e tapeçarias caras, onde cada gesto meu parecia ser monitorado por olhos invisíveis. Meu nome é Fernanda Müller, e sou a filha do meio de uma das famílias mais ricas do Rio de Janeiro. Minha vida era um roteiro escrito por outros, com festas sofisticadas e reuniões de negócios em um dos hotéis de luxo que pertencem à nossa família.

Aos 25 anos, eu me via frequentemente em encontros que pareciam mais desfiles do que reuniões. Meu cabelo castanho claro, muitas vezes preso em um coque elegante, e meus olhos verdes eram meu escudo contra as expectativas que pesavam sobre mim. Nunca pude escolher meu próprio caminho; ele já estava traçado. Em minha mente, tudo parecia um grande teatro onde eu era a protagonista, mas sem um papel realmente meu. Eu era a "dama da alta sociedade", e isso parecia ser tudo o que se esperava de mim.

Mas essa manhã foi diferente. A diretoria da empresa decidiu que eu deveria supervisionar uma colaboração com influenciadores digitais, uma ideia que soou mais como um aborrecimento do que uma oportunidade. Eu conhecia o básico sobre esse mundo - hashtags, seguidores, likes -, mas nunca imaginei que me envolveria tanto. Estava mais preocupada com os preparativos para o próximo evento de gala do que com o que um grupo de jovens internetais poderia trazer à nossa marca.

Cheguei ao hotel mais cedo, antes do horário combinado, para garantir que tudo estivesse perfeito. O saguão, normalmente um local de tranquilidade e elegância, estava agora movimentado. Havia técnicos de som e câmeras por toda parte, e a energia era palpável. Eu nunca havia visto algo assim em nosso hotel, onde tudo costumava ser meticulosamente organizado e sob controle.

Enquanto os influenciadores não chegavam, decidi aprofundar minhas pesquisas sobre eles, pelo menos sobre o grupo que eu iria supervisionar. Eles tinham um canal no YouTube chamado "Aqueles Caras", onde postavam vídeos do tipo "Acerte quem é tal pessoa" e "Trabalhamos em tal lugar por um dia". O canal deles contava com um bom número de inscritos, visualizações e likes, o que realmente poderia aumentar a influência do hotel. Pesquisei o nome de cada um deles no Instagram para ter uma ideia de quem era quem.

Após um tempo, "Aqueles Caras" chegaram em uma van barulhenta, contrastando fortemente com o luxo do hotel. Eles eram um grupo animado, rindo e conversando entre si, claramente confortáveis em sua própria pele. Chico, com seu cabelo preto e uma jaqueta de couro que parecia ter sido escolhida com cuidado, liderava o grupo. Ele e seus amigos se dirigiram até mim.

- Oi, você deve ser Fernanda. - Creio que esse seja o Guilherme, famoso Beltrão. Ele disse, aproximando-se. Eu sorrio, tentando não mostrar o quão fora de lugar eu me sentia.

- Sim, sou eu. É um prazer em ter vocês aqui! - respondi, tentando manter a compostura.

- O prazer é todo nosso, e esses são meus amigos - ele continuou, apontando para o grupo animado. - Daniel, Chico, Alvinho, Ramon e Pedro. Vamos precisar de dois quartos se possível.

Eu os observei enquanto se aproximavam, cada um com sua própria energia e estilo. Ramon, sempre com uma câmera na mão, pronto para capturar qualquer momento; Daniel, com sua risada alta e carismática; Chico, era o que estava mais quieto do grupo, mas com um olhar penetrante; Pedro, o que mais falava, e Alvinho, que parecia sempre envolvido em uma conversa profunda. Eles eram exatamente o oposto do que eu estava acostumada.

- Claro! - respondi, tentando esconder minha surpresa. - Vamos apenas garantir que tudo esteja no lugar. O estúdio está preparado para vocês.

Beltrão me seguiu até a recepção, onde começamos o check-in. "Aqui está o nome da reserva", eu disse, entregando os documentos ao recepcionista. Ele, por sua vez, fez as anotações enquanto os amigos de Chico começavam a se acomodar nas poltronas ao redor. Guilherme já estava organizando seu equipamento fotográfico em uma mesa próxima, enquanto Daniel fazia piadas sobre o tamanho do lobby.

𝐎𝐩𝐨𝐬𝐭𝐨𝐬 | 𝐂𝐡𝐢𝐜𝐨 𝐌𝐨𝐞𝐝𝐚𝐬Onde histórias criam vida. Descubra agora