Capítulo 19

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— Me diz! O que aconteceu? – insisti. Ele fecha o notebook e me encara.

— Por que quer saber?

— Porque eu acho que se vamos passar seis meses juntos, devemos abrir o jogo um com o outro para que isso dê certo. – ele suspira.

— Eu não sei, o jeito que minha vida está mudando. O jeito que as coisas estão acontecendo.

— Eu sei que não está fácil, e me desculpa por estar fazendo você passar por isso. – soltei um suspiro. – Pode parecer que não mas foi extremamente difícil para eu aceitar essa proposta. Tudo isso vai exatamente contra aquilo que eu sou a favor, nunca me imaginei me rebaixando a tal nível.

— Se casar comigo é tão horrível assim? Parabéns, conseguiu destruir minha auto estima. – soltei uma risada.

— Achei que sua auto estima era inabalável. – soltei outra risada. – Eu não quis dizer isso. O que eu quero dizer, é que eu luto para ter minhas próprias coisas. Chegar ao ponto de ter que me casar com alguém que eu nem mesmo conheço para sair de uma crise financeira é ridículo!

— Você não tem escolha.

— Eu sou maior de idade, eu poderia trancar minha faculdade e arrumar um emprego. – suspiro. – Mas eu sou inútil, não sei fazer merda nenhuma. Olha, se não quiser mais por mim tudo bem, acabamos com isso. Ainda temos tempo.

— Não! – diz de imediato – Como eu te disse, se não for com você vai ser com outra mulher.

— E por que se preocupa que seja com outra?

— Porque estranhamente eu confio em você. – me encarou – Não consigo ver outra pessoa no seu lugar.

— Isso quer dizer que não vai ficar com nenhuma outra mulher enquanto estiver casado comigo?

Mas o que Anna?

— Não foi isso que eu quis dizer, mas vamos considerar o assunto. – revirei os olhos.

— Seu lema é nunca se apaixonar.

— É. Esse é o plano do meu pai. Que eu me apaixone e que eu me torne um ser responsável, porque segundo meu pai o amor muda as pessoas. – foi a vez dele revirar os olhos.

— Então isso quer dizer que eu não sou uma pessoa apaixonável e por isso prefere eu do que qualquer outra?

— O que? Não! Eu não quis dizer isso!

— Foi o que pareceu. – dei de ombros.

— Eu quis dizer que, isso não tem nada a ver com amor.

— Como pode ter tanta certeza? – perguntei curiosa.

— Porque nem todo mundo que é responsável e maduro é um bobo apaixonado. Mas como pode ver, eu sou adulto, maior de idade, eu poderia tomar a decisão que eu quero, mas meu pai ainda é meu pai. E se eu não fazer isso eu não vou ter nada, pois ele vai tirar tudo de mim. Minha mãe está a quilômetros de distância daqui. Se eu não fazer o que ele manda, já era! – bufou frustrado. – Sabe o que é ter uma mãe só por quatros anos de verdade? 

— Eu sei sim, mas você tem sorte. Eu tive a minha só até meus dez anos.

— Onde isso é ter sorte? Você teve a sua mais tempo que eu!

— Você ainda pode ver a sua, eu não! – ele me encara – Você pode ligar para ela, mandar um e-mail, falar por telefone, e eu? Desde os meus dez anos não posso vê-la. Ouvir sua voz, olhar em seus olhos, sentir o seu cheiro. – meus olhos marejam – Você reclama de mais!

— Ser deixado pela própria mãe com apenas quatro anos de idade e quando ela volta é para te deixar uma irmã é reclamar de mais?

— E ver sua mãe morta, enterrada a sete palmos da terra é de menos? Brian você ainda tem a oportunidade de ir até  Portugal para ver sua mãe. Para eu ver a minha só eu perdendo a vida! – ele fica em silêncio. – Isso por acaso é uma competição de quem é mais desgraçado? – soltei uma risada sem humor.

— Desculpa eu...

— Tem saudades dela! – concluí lhe interrompendo. – Brian, a quanto tempo você não a vê?

— A última vez que eu a vi foi a uns seis anos atrás, não lembro direito. – deu de ombros.

— Acha que ela te livraria desse casamento?

— Ela iria fazer um escândalo, achar um absurdo. Mas dependendo de quem seria a minha noiva ela provavelmente compraria uma igreja só para fazer o casamento. – revirou os olhos.

— Realmente? – ele afirma. – Já que sente tanta falta dela, por que não liga para ela a convidando para o nosso casamento? – ele arregala os olhos.

— Eu não contei para ela, sabia que estava esquecendo algo. – colocou as mãos sobre o rosto.

— Então conta, liga a webcam e fala com ela agora.

— Agora? – perguntou incerto.

— Agora! – ele me encara e depois abre o notebook – Sua mãe se preocupa com você sim, acho impossível uma mãe não se importar com sua cria. Acho que se você não aceitar esse casamento ela vai te ajudar caso seu pai tire tudo de você.

— Eu não vou voltar atrás! – me olha decidido – Afinal são só seis meses, logo acaba. Eu acho que nós podemos lidar com isso, você não é tão ruim quanto eu pensava e eu nem se fala.

— Modestia mandou lembranças. – ele riu. 

— Eu estou falando sério, no fim nem vamos lembrar que estivemos casados. Mas, a menos que você queira desistir, tudo bem. – soltei um profundo suspiro.

— Não, não quero mais. Já chegamos até aqui, não vou voltar para trás. – desviei meu olhar do seu. – Eu vou para o meu quarto!

— Não! Fica aqui, assim ela te vê!

— Eu estou com dor de cabeça agora, deixa para outro dia – me retirei da sala e fui para o meu quarto e me joguei na cama.

Parecendo ou não Brian é um ser humano e tem suas fraquezas.

﹏﹏﹏﹏﹏﹏

Vi uns coments sobre o "discurso feminista" da Anna ser uma grande hipocrisia estando na situação que ela está e gente, na época que eu escrevi o livro eu não fazia ideia alguma do que era feminismo. Modifiquei muita coisa aqui que estava errada e sem sentido mas não mudei e nem irei mudar o contexto. A imagem da Anna e dos outros personagens nessa versão é uma que eu tentei passar na outra mas não consegui desenvolver como deveria e estou TENTANDO nessa. Só queria deixar isso claro.

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