2 - Surpresa.

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Meus pais são considerados pela sociedade classe média alta, nunca senti necessidade de nada, nunca me faltou nada. Os dois trabalham como professores em uma universidade. Minha mãe é formada em direito e leciona a matéria de direito civil, ela da aulas parciais pelas manhãs e noites. Meu pai é formado em arquitetura, durante o dia ele trabalha numa imobiliária e todas as segundas e quintas também leciona, não sei ao certo qual matéria, mas sei que é relacionada a cálculos. Me sinto mal por ter perdido o ano, não é fácil ver meus colegas seguirem em frente e eu ficando para trás, ainda mais quando se tem pais professores.
Os pais de Rafa me amam e ao contrário dos meus, eles sempre apoiaram o nosso namoro. Rafa tem uma irmã mais nova, a Kat, nós duas sempre fomos grandes amigas e confidentes. Ela é o tipo de garota que não mede esforços para ajudar as pessoas que ama. Assim como Rafa, Kat é muito linda, tem longos cabelos cacheados e olhos claros e calmos. Quando me lembro de Kat sempre a vejo com um sorriso no rosto, isso me conforta. Nesses últimos meses nós não conversamos uma vez se quer, meus pais dizem que ela foi me visitar quando estava em coma no hospital. Sinto falta dela.

Nota para não esquecer: "Dia do acontecimento, recebi um telefonema de Rafa, ele quer me contar alguma coisa. O que?."

As vezes durante o dia eu acabo lembrando de algumas coisas, ou então novas imagens passam pela minha cabeça, é assustador. Anoto tudo para não esquecer, mesmo que o fato não tenha ocorrido.
Meus pais não estão em casa acordo com a voz de Rafa, ele está no portão chamando meu nome. Tive fortes dores de cabeça, precisei tomar dois comprimidos para aguentar a dor, estou me sentindo sonolenta.
- Uma bela flor para a garota mais linda do mundo - Sou surpreendida ao abrir a porta. Estendo a mão, pego a flor e a cheiro. É uma margarida, minha flor preferida.
Conto para Rafa sobre minhas lembranças, ele me escuta atento. Começo falando sobre as imagens que aparecem em minha cabeça, não faz sentido manter segredos com ele. Conto também sobre meus sonhos - vejo duas pessoas com os rostos borrados, vejo também muita água, conto que sempre acordo suada e tossindo. - Não comento sobre o telefonema, tenho medo de não estar totalmente certa sobre essa lembrança. Quando termino Rafa apenas me olha e sorri, vejo sua boca sussurrar algumas palavras, mas não consigo entendê-las estou com muito sono ainda. Ele me beija.
Rafa, meu Rafa.
Como eu te amo.
- Quando estou com você me sinto num campo aberto cheio de flores, cheio de margaridas. - Digo, por fim.

- Gosto de trazer essa sensação para você – Seus olhos estão vidrados nos meus.

Rafa abre a porta e vai para casa. Entro no meu quarto, deito na cama e volto a dormir.

Eu não fui uma adolescente normal, sempre tive pensamentos deprimentes, às vezes, simplesmente trancava a porta do meu quarto, colocava uma música triste e começava a chorar, era um vício, fazia isso para receber a sensação de alma limpa depois do choro, fazia isso para me torturar. Sabe o que eu acho? Acho que as pessoas confundem um sorriso com um estou bem, quando na verdade, um sorriso pode ser na verdade uma máscara, usada para esconder a dor que temos dentro de nós.
Faz duas horas que Rafa foi embora, minha mãe acabou de chegar em casa, beijo seu rosto e ela sorri, me entrega em seguida um pacote e me pede para abrir. É um pouco estranho receber presentes quando não se tem algo para comemorar. Começo a rasgar a embalagem, minha mãe me pede para abrir com cuidado. Fico surpresa com o que tem dentro, é uma passagem, minha mãe quer que eu viaje, ela me deu uma passagem para Paris.


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