Acordo num hospital. Estou muito assustada, não faço ideia de como vim parar aqui. Ouço vozes se aproximando do quarto onde estou, vejo um velho senhor todo de branco passando pela porta do quarto, ele examina meus sinais vitais e pergunta se estou me sentindo bem. Questiono como vim parar aqui e ele diz que tive um desmaio, comento também sobre minhas dores de cabeça e ele me diz que vou ficar bem. As palavras que saem da sua boca me assustam, ele diz que sofri um traumatismo crânioencefálico em algum acidente no passado. Será que foi isso que minha mãe escondeu de mim durante tanto tempo? Um acidente? Não pode ser.
Fico durante uma hora em observação até receber alta do hospital e sou conduzida de volta para o hotel. Minha mãe foi avisada sobre o desmaio e decidiu antecipar minha volta para casa, estou frustrada, por um lado queria ter aproveitado minha ida ao museu, mas, por outro lado, estou feliz, quero reencontrar minha família e principalmente ver o Rafa.
Acontece tudo tão rápido que só consigo tempo para arrumar minha mala, em poucas horas estarei em casa. Chego ao aeroporto, faço meu check-in e espero o voo ser anunciado, aproveito para tomar um comprimido para enjoo, a última coisa que quero é passar mal dentro do avião. Já estou sentindo os efeitos do remédio. Passo a maior parto do voo dormindo, só acordo quando o avião está prestes a pousar, que alívio, estou chegando em casa.
Meus pais vieram me buscar no aeroporto, minha mãe está com um olhar assustado, ao contrário do meu pai que me olha calmo, ele sempre demonstrou controlar suas emoções. Dou um longo abraço nos dois, eles retribuem o abraço beijando meu rosto estou feliz por estar de volta. Como de costume minha mãe me enche de perguntas, ela quer saber os lugares que eu visitei as coisas que comprei, me pregunta de Paris realmente é uma cidade encantadora, apenas confirmo com a cabeça. Ela pergunta se eu gostei da viagem, mas mal toca no assunto do desmaio, ela parece nervosa, sabe que eu descobri alguma coisa.Como ela não toca no assunto toma partido e digo:
- O médico disse que eu tive um traumatismo crânioencefálico. Ele disse que esse traumatismo foi gerado por conta de algum acidente no passado.
Minha mãe me olha assustada.
- Sim, o seu acidente minha filha, você lembra?
- Algumas coisas... – De que acidente ela se refere? Estou confusa, não sei ao certo o que responder para essa pergunta.
- Eu sinto muito, sempre tentei contar o que aconteceu, mas você esquecia, fiquei com medo de você nunca mais lembrar - minha mãe me interrompe - você realmente sofreu um acidente. - Depois de alguns segundos ela começa a conta - Você estava voltando da escola, quando um carro perdeu o controle e te atropelou na calçada. - vejo nervosismo na voz da minha mãe.
- Mas porque você escondeu isso de mim? - Eu sei que essa não é a verdade, consigo ver a mentira em seus olhos.
- Eu nunca tentei esconder isso de você querida, eu só queria que você lembrasse sozinha. Bom é melhor a gente mudar de assunto, você me parece cansada, não quero que sofra outro desmaio.Quando chego percebo que realmente estou cansada, dou um beijo de boa noite em meus pais e subo as escadas em direção ao meu quarto, preciso dormir. Pego um comprimido para dor no criado mudo do lado da minha cama coloco na boca e engulo, essas dores estão cada vez mais insuportáveis.
Acordo cedo e vejo meus pais tomando café da manhã, minha mãe puxa uma cadeira e eu me sento. Cada atitude de minha mãe me faz imaginar o que de tão ruim ela esconde. Como uma torrada e tomo um suco de laranja, levanto da mesa sem dizer uma palavra. Pego um livro e começo a folheá-lo, não tenho cabeça para ler nada.
Eu tenho pena de mim mesma, porque ninguém nunca soube dos meus medos, ninguém nunca me enxergou de verdade, ninguém nunca parou para olhar minhas qualidades, ninguém me viu chorar baixinho em baixo do cobertor, ninguém ouviu minha respiração quente, ninguém olhou nos meus olhos e disse vai ficar tudo bem, ninguém quis perder tempo comigo. As pessoas sempre entram na minha vida com pressa, eles não gostam da solidão que encontram em mim. Acho que minha existência sempre foi um luto, minhas feridas nunca se fecharam, sempre fui exposta de mais, sempre me deixavam em pedaços, sou uma pessoa remendada.
Dores de cabeça, pesadelos, a descoberta de um acidente me vejo a um passo da loucura. Lembro-me do meu sonho da noite passada, vi os mesmos rostos borrados, mas dessa vez eu estava lá, estava em meio ao caos. Vejo confusão, dor, medo e acima de tudo, vejo desespero no meu sonho.
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Até você lembrar.
Misterio / SuspensoNão vou a festas, não frequento a escola, não saio de casa. Eu não tenho uma doença, mas minha mãe me trata como se eu pudesse morrer a qualquer momento. Me sinto perdida na vida, nem sei se ainda posso usar esse termo "vida". Muitas pessoas dizem q...