Capítulo XXI

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Lyz crescia rápido, deu os primeiros passos com onze meses, e com pouco mais de um ano balbuciou as primeiras palavras.

A garotinha era muito boa em desenhar, além de uma imaginação infinita para brincadeiras desde cedo. Ela por várias e várias vezes fez Bill e Giulia montar cabanas na sala de casa e brincarem de acampar, com direito a assar biscoitos no bocal da lanterna.

Ela era a garota dos porquês.

Por que o céu é azul?
Por que a terra é redonda?
Por que os pássaros voam?
Por que os peixes respiram embaixo d'água?
Por que eu não pude conhecer o Tito?

Tito.

Tito era a forma que ela chamava o Tom desde antes dos seus dois anos de idade.
Começou com ela brincando sozinha na hora do chá, dando bronca no nada, dizendo que ele estava colocando muito açúcar no seu chá invisível.

— Está falando com quem, querida? — Giulia pergunta se aproximando da mesa de chá, lotada de brinquedos, com apenas um único espaço vazio.

— Com o Tito. — Lyz responde embolado, enquanto servia o chá para os outros convidados. — Ele semple coloca muito açúcar, mamãe. E eu já disse que isso estlaga os dentinhos.

Giulia e Bill achavam que era apenas um amigo imaginário. Uma coisa normal para uma criança pequena.

Só que um dia, enquanto Giulia olhava as fotos antigas que estavam guardadas ela ouviu o grito de animação da Lyz.

— Olha o Tito. — Ela diz quase se jogando do colo de Bill quando viu a foto do Tom ao lado da Giulia.

— Não querida, esse é o Tom. — Giulia a encara e Lyz pega a foto que parecia gigante entre os seus pequenos dedos.

— Tito. Tito. Tito. Tito. — A goratinha repetia dançando e balançando a foto. — Olha papi, o Tito. — Ela coloca a foto na altura dos olhos do Bill, e depois encosta a cabeça em seu ombro enquanto olhava a foto sem parar.

Por várias vezes Giulia e Bill quando acordavam de madrugada escutavam a garota gargalhar do quarto enquanto brincava. É assim que eles apareciam na porta, ela puxava a coberta cobrindo a cabeça e fechava bem os olhos para fingir que estava dormindo.

— Lyz, meu amor. — Bill se senta ao lado dela na cama e vai tirando a coberta lentamente fazendo ela gargalhar mais ainda. — É hora de estar dormindo.

A menininha que ainda sorri largo, encara Bill e depois olha por cima do seu ombro, levando o seu dedo até a boca e fazendo um shhhhh!

— Tudo bem, papi. — Ela fecha os olhos com força novamente. — A gente já vai dormir.

— A gente? — Bill questiona enquanto acariciava o cabelo dela.

— Boa noite, papi. — Ela se vira de lado, respirando fundo como se fosse dormir imediatamente.

Quando a porta é fechada Lyz se vira e encara o pé da cama.

— O papi quase bligou comigo. — Ela se senta na cama. — Tem que fazer Shhhh! — Ela repetia o gesto de levar o dedinho até a boca.

Tom sorria e a imitava fazendo o shhhh!

— O que? — Ela puxa a coberta mais para cima. — Papi tem razão? Mas eu não to com sono Tito. —

Ela faz um pequeno bico e depois começa a sorrir, enquanto se deita abraçando um ursinho de pelúcia.

— Tito. — Ela abre apenas um olho encarando Tom que agora estava ao lado da sua cama. — Cantalora a música de ninar?

Tom sorri, de forma suave e passa os dedos pelo cabelo da garotinha que fecha os dois olhos e sorri ao escutar o cantarolar a melodia, a mesma melodia que um dia Tom tinha feito para Giulia.

A garotinha acompanha o cantarolar, até a sua voz ficar mais lenta, mais baixa, até ela pegar no sono.

E o espírito do Tom continua ali, acariciando o cabelo da menininha enquanto admirava o rosto tranquilo dela, o rosto sem saudade, sem culpa. Um rosto somente com boas lembranças, embora ele não saberia dizer até quando ela iria se lembrar desses momentos com ele.

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⏰ Última atualização: Jun 24 ⏰

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