- Capítulo Seis -

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A dor de cabeça havia passado quando ela acordou. A noite ainda persistia, então Eloá imaginou que teria passado uma ou duas horas, mas poderia estar errada de novo. Antes de sair, percebeu o bilhete deixado em cima da cômoda, onde o copo e jarra de água ainda estavam.

Como eu disse, você já está liberada, pedi que deixassem alguma comida em seu quarto, mesmo que não esteja com apetite, peço que coma um pouco, não gostaria de te ver na enfermaria novamente. — Nayvimnn

A jovem não conseguiu não lembrar dos bilhetes da Dara, e seu olhos rapidamente lacrimejaram. Ela se permitiu derrubar algumas lágrimas, já que a enfermaria parecia estar vazia.

Colocou a mão na superficie gelada do espelho, depois de esfregar e limpar os olhos. Focou seus pensamentos como o professor havia instruído. Rapidamente sua mão atravessou a parte refletora. A sensação de frio atingiu sua pele novamente, o fluído escorregou por seu corpo, não o molhando. Depois de mais algumas vezes, ela se acostumaria com a sensação de sufocamento que aquilo causava.

O quarto em que entrou não era muito diferente do que tinha no orfanato. A diferença, era a segunda cama no outro canto do cômodo. Duas camas de dossel brancas, cortinas beges que estavam abertas assim como as janelas, o que deixava uma leve brisa gelada entrar, assoviando e convidando Eloá a adentrar mais o quarto.

Suas malas estavam sobre a cama da direita, como a comida que o professor falara sobre a cômoda. Ela não se preocupou em arrumar as malas, quando sua barriga roncava pedindo urgente um alimento.

Alguns sanduíches e um suco de laranja depois, Eloá estava pronta para finalmente tomar um banho e novamente poder repassar tudo que havia acontecido em seu primeiro dia.

— Então é você minha colega de quarto? - perguntou uma voz feminina e alegre atrás dela - prazer, Melisande, mas a maioria dos meus amigos me chama de Meli - completou estendendo a mão animada, quando Eloá virou para encarar a jovem de cabelos loiros, pele bronzeada, e olhos negros como a noite.

— Prazer Eloá - falou apertando a mão da jovem que lhe lançou um sorriso caloroso.

— Sim, eu sei. Você já é assunto aqui na Speculo - comentou direncionando para sua cama, sentando-se desajeitadamente - Falando nisso, você está bem? - perguntou. 

— Tirando o susto e o desmaio, sim, posso dizer que estou bem - respondeu sinceramente. 

— Que bom - começou se levantando, diminuindo a distância entre as duas - Isso significa que pode ir a comemoração de hoje - respondeu voltando com animação de antes. 

— Comemoração? - perguntou cautelosa.

— É uma tradição, desde do inicio da Academia, no primeiro dia de um novo ano de ensino, uma festa é feita perto da floresta de Schattem'ald, como uma fogueira, sabe? - falou Meli com entusiasmo - a maioria dos alunos vão. E nós duas com certeza iremos também - terminou.

— Não sei não - falou Elóa, com a mesma cautela e medo - não sei se serei bem vinda nessa comemoração e acho que poderia aproveitar para descansar melhor, para recuperar as aulas - terminou, arrumando desculpas.

— As aulas amanhã vão começar depois das bodas da tarde, o que significa que teremos tempo para descansar, o Conselho faz isso, como permição para que essa tradição continue. Você precisa ir, se por acaso, você se cansar ou quiser ir embora, eu mesma te trago - insistiu sem se desvestir da animação.

— Eu não sei - respondeu. Por dentro ela gostaria de ir, ela gostava da sensação de ter a chance de fazer uma amiga - talvez uma breve passadinha - essa talvez pudesse ser uma chance de conseguir fazer uma amiga.

Laços de Sangue - Legado & RuínaOnde histórias criam vida. Descubra agora