Laços de Sangue - Legado & Ruína

- Capítulo Dez -

- Seria muita falta de educação perguntar que ser sobrenatural você é? - perguntou Eloá, a timidez era cada vez menor quando ela estava perto dele.

Elliot havia dito que eles já estavam perto da Academia e o jogo da primeira caminhada, se repetiu. Para o alívio da jovem, nenhuma pergunta foi feita sobre a loucura que havia acontecido no casamento. E a cavalgada realmente a cansou menos do que no dia anterior.

- Sim, isso definitivamente seria muita falta de educação - respondeu seriamente, fazendo a jovem arregalar os olhos.

- Me desculpe, eu não quis - começou se perdendo em um mar de palavras confusas - Eu só fiquei um pouco curiosa - completou desviando o olhar para o campo de plantas rasteiras.

A academia já podia ser vista, mesmo que ainda estivesse um pouco longe.

- É uma brincadeira Eloá - começou em uma tentativa de deixar a jovem menos envergonhada - Eu sou um anjo - disse simplesmente, adiantando-se com seu cavalo, ultrapassando a jovem, que percebeu que o assunto não era algo que o jovem gostava de falar sobre, já que desviou do assunto logo quando ela o alcançou.

- Minha vez de perguntar - começou Elliot - Realmente me desculpe pela pergunta, mas porque tem medo do seu poder? - perguntou baixamente.

Eloá novamente tinha ficado paralisada, ela não podia negar que era verdade, mas não é como se soubesse o motivo.

— Pergunto, porque reparei em suas luvas e como se recua ao contato - explicou-se devido a expressão da jovem - mas não precisa me responder, se não se sentir a vontade para - terminou gentilmente.

— Eu cresci sem conhecer meus pais, meu poder não era escrito em livros humanos, eu ainda não sei nada sobre mim - começou, escolhendo ser sincera - eu quero conhecer, mas tenho medo do que posso descobrir - terminou tristemente.

— Tem medo de descobrir que seus pais não a quiseram e simplesmente te abandonaram? - começou gentilmente - e tem medo de não se achar o suficiente para estar aqui, porque não foi suficiente para eles - completou, novamente como se lesse os pensamentos da jovem mestiça.

— Eu achei que seu Sein era criar aquela espada, não conseguir ler mentes - disse, tentando, sem sucesso, dar uma risada.

— Eu te entendo. Nós anjos vivemos todas as nossas vidas em treinamento, a partir do momento que completamos 10 anos, já começamos nosso treino. Somos os guerreiros desse mundo. Poucos de nós são mandados para a Academia. Eu cometi um erro e então me expulsaram do meu lar. Fui renegado. Não posso voltar para lá sob nenhuma circunstância ou hipótese. Minhas asas foram arrancadas como punição. Já fazem cem anos que estou aqui, fui aceito pelos povos da floresta, quando não fui pelo meu próprio povo - começou novamente, com a mesma tristeza que a jovem - Eu sei que é diferente de você, eu errei para ser expulso, você não fez nada, ou seja, a culpa não é sua. Não se preocupe em ser sucfiente para os outros, vai ter sempre alguém para quem você não vai ser. Você precisa ser um pouquinho egoísta e ser o suficiente para você - terminou apressando o cavalo que montava, fazendo com que sua velocidade aumentasse.

A academia Speculo já estava a frente, Eloá nem havia percebido, com a conversa que teve com Elliot, ela queria poder perguntar mais, mas não conseguia imaginar a dor que seria ter suas asas arrancadas, ser expulso de seu mundo, ou qual a grandiosidade do erro para que tais medidas fosse tomadas.

— Essa é a parte de trás da Speculo, onde o Lago das Lágrimas fica - disse Elliot metodicamente, sem o sorriso que a jovem já se acostumara - Ele tem esse nome, porque alguns de nossos enterros e memoriais acontecem aqui, com a essência sendo devolvida ao lago ou seja ao nosso mundo, regando-nos novamente com seu poder - finalizou, desmontando do cavalo, sendo seguido por Eloá.