Confusões

capítulo 3

Acordei já no outro dia de manhã ouvindo barulhos na cozinha. Imaginei que poderia ser a moça que faz faxina aqui em casa de vez em quando. Quando terminei de descer as escadas, me surpreendi ao ver minha mãe e meu pai juntos na cozinha. Era algo raro vê-los em casa juntos e ainda fazendo algo na cozinha. Decidi não interromper esse momento, então fui até meu banheiro para escovar meus dentes e lavar meu rosto. Passei pelo quarto onde Jessica e Celina ainda estavam dormindo profundamente, tentando não fazer muito barulho para não acordá-las.

Saí do banheiro e fui realmente para a cozinha, pois estava morta de fome e curiosa para saber o motivo de meus pais estarem em casa. Desci as escadas e senti o aroma de café fresco e pão quente. Observei de longe meus pais bem próximos. Ele tocou no ombro dela e cochichou algo que não consegui identificar. Ela sorriu levemente enquanto continuava o que estava fazendo. Ele colocou as mãos em sua cintura e a puxou a para si. Percebi que se eu não dissesse nada, viraria algo que nenhum filho gostaria de ver.

Antes que eu pudesse falar alguma coisa, escutei passos atrás de mim e uma voz:

Bom dia, família! - disse Pedro, como sempre sua voz educada e não muito alta.

Bom dia, crianças - respondeu minha mãe, afastando-se um pouco do meu pai, que se inclinou para me abraçar, junto com Pedro.

Meu Deus, quanto tempo que não te vejo, pai - disse com um tom de decepção, mas ainda feliz por ele estar em casa.

Eu estava morrendo de saudades, meu broto - ele disse, bagunçando meu cabelo e abrçando Pedro logo em seguida. - Então, vá acordar as meninas, o café já está pronto - continuou, ajudando minha mãe a colocar as coisas na mesa principal.

Pode deixar que eu subo lá - disse Pedro com seu tom açucarado, mas obviamente irônico.

Cala a boca, Pedro - coloquei minha mão sobre o rosto dele e fui em direção ao meu quarto. Consegui escutar eles conversando: "Temos um assunto sério para falar com vocês", minha mãe disse.

Bom dia, amoras - abri as janelas para uma boa iluminação do quarto. Jessica já estava meio acordada com o celular na mão.

Bom dia, que animação é essa? - ela perguntou, deixando o celular de lado e levantando.

Meus pais estão em casa, você acredita? - exclamei, vendo Jessica franzir o cenho em surpresa.

Ah, que legal, estava morrendo de saudade da sua mãe - disse ela, indo colocar uma blusa de frio.

Celina acordou com nossa barulheira.

Bom dia, gente - disse ela, com os olhos ainda um pouco fechados.

Bom dia, moreco - vi a mesma se levantar da cama com o rosto todo amassado, e pegando o celular. - Nossa, o Borges me mandou mensagem ontem e eu nem vi - também deixando o celular de lado. - Cadê a Jess? - perguntou olhando para mim com os olhos meio fechados ainda

Ela tá no banheiro, o que ele te mandou, hein? - provoco a mesma sentada do lado dela.

Ah, nada de mais, só falou para eu dormir bem e sonhar com ele - ela mostra o telefone.

Ai, meu Deus, que romântico, Celi - coloquei a mão na boca e dei um leve surtinho de felicidade. É muito bom ver todas as minhas amigas realmente tendo algum cara para conversar.

Jessica por fim saiu do banheiro e descemos até a cozinha, onde se encontravam meus pais, Pedro e Augusto, obviamente. Nunca entendi por que Augusto passava tanto tempo lá em casa; ele não tinha nenhum problema familiar, aliás, a família dele era muito legal e eles são podres de ricos. O pai dele é dono do hospital particular mais chique de Curitiba e a mãe dele é uma médica cardiologista e socialite.

Meu Deus, gente, vendo vocês assim me lembra de quando vocês eram quatro pitucas, que pena que a Evellyn foi embora, né? - minha mãe, que já estava sentada à mesa, falou.

Sim tia, sentimos muita falta dela- Jess, eu e Celi sentamos a mesa para comer -Mas ela está se adaptando muito bem na nova cidade dela. 

Fico feliz em saber disso, sempre vejo a mãe dela postando foto na praia- minha mãe responde a Jess com um sorriso leve no rosto.

Tomamos nosso café com a maior tranquilidade, pela primeira vez em muito tempo eu conversava com meus pais sem eles estarem com a cara enfiada no celular ou no computador. Terminei meu café e subi até meu quarto para tomar um banho. Iria levar a Celina até a casa dela e tomar um milkshake com a Jess. Me arrumei colocando uma roupa nem de calor nem tão de frio. Descemos até a portaria onde o irmão mais velho de Celina estava a esperando.

Tchau, meninas, até amanhã na escola - Celina se despediu com um abraço apertado em mim e em Jess. Observamos o carro dele virar a esquina e aos poucos se perder entre os outros carros. Jess e eu vamos em direção a nossa sorveteria favorita desde que éramos crianças. Chegando na porta vejo Victor com um amigo dele, na mesma hora cutuco Jess que estava perdida em seus pensamentos olhando a diversidade de sabores novos em um freezer.

Ela vira os olhos até encontrarem com os dele, vejo um brilho surgindo nos olhos da garota assim que o ve, ela começa a ficar um pouco nervosa mas enfrenta sua vergonha e acena para o garoto que está a metros de distância dela. Ele se levanta e vem em nossa direção.

Oi, Amanda - ele me cumprimenta com um aperto de mão. - Oi, Jessica, tudo bem? - ele a cumprimenta com um abraço meio desajeitado mas confiante (ou pelo menos tentando parecer confiante).

Oi, Victor, tô sim e você - ela responde se afastando do abraço e eles começam a conversar, eu vou em direção a atendente fazer meu pedido.

Oi, tia, me vê um casquinha de morango com doce de leite, cobertura de caramelo, por favor - peço para a atendente, que eu conheço desde que era criança.

Claro, nanda, mais o que... - a mesma pergunta me trazendo meu pedido.

Por enquanto é só isso, agora esperar a Jess pedir o dela - eu me viro e vejo minha amiga rindo ao do lado do garoto. - Mas talvez ela demore um pouco - dou uma leve risada -O querida, você vai pedir? - pergunto e ela cai na real.

Oi, tia, vou querer um sorvete de chocolate com chocomenta, o de sempre mesmo - ela solta um leve riso enquanto o garoto coloca o braço sobre o ombro dela. De todos esses anos que eu conheço a Jess, nunca vi ela ficar assim com ninguém. Nem parecia a mesma Jess que reclamava quando eu a chamava para sair com o Matheus.

Nos sentamos à mesa onde o amigo de Victor estava sentado também. Logo abro meu telefone e tiro uma foto muito bonitinha dos dois, sem eles notarem, obviamente. Encaminho a foto diretamente para o grupo das meninas como visualização única. Tinha certeza que Celina iria me zoar por estar segurando vela para eles.

chat on

Celina- Nem acredito que isso tá acontecendo kkkkkkkkkkkkkk

Amanda- Pois é né, amiga ela tá toda rizonha aqui nem parece a Jess AKAKAKA

chat off

Victor, tô indo nessa, a mulher tá me esperando- o Jonathan se levanta da mesa, despedindo-se do garoto com um aperto de mão e de nós com um aceno de cabeça. A namorada dele o esperava na porta da sorveteria. Ele vai até o caixa, paga a sua parte da conta e segue em direção à garota baixa de cabelos vermelhos que chegavam até seus ombros. Ela o recebe com um tapa nas costas.

Por que você estava do lado dela?- deu para escutar a garota repreendendo-o logo após o tapa.

Meu Deus, coitada dela, com ciúmes desse menino feio- eu falo em tom de brincadeira, mesmo sabendo que o companheiro da minha amiga talvez não entendesse o sarcasmo na minha voz. Jess solta uma risada um pouco mais contida; eu sabia que, no fundo, ela estaria pensando "né, sem or". Ficamos o resto da tarde lá, até Jess receber uma ligação de sua mãe mandando ela voltar para casa.

Vou em direção ao caixa para pagar meu sorvete e deixo o casalzinho sentado. O mínimo que ele poderia fazer era se oferecer para pagar a conta dela, né? É o esperado, pelo menos. Eles se levantam ainda meio abraçados e saem.

Ué, você não vai pagar não?- pergunto à garota que está com um sorriso de orelha a orelha.

Victor falou que iria pagar pra mim, então eu deixei, não saiu do meu bolso, que mal tem, né?- ela sai da sorveteria dando pequenos pulinhos de felicidade enquanto seu cabelo balança com o vento daquele fim de tarde.