Capítulo 6

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Voltamos para o local onde Victor e Danilo estavam. O melhor artista do mundo ia começar a tocar, e meu copo estava quase na metade. Antes de anunciarem a chegada dele, eu fui conversar com o garoto que estava atrás de mim. Ele parecia entretido com o lugar e não parava de tirar fotos.

— Danilo, né? — eu pergunto, vendo ele virar os olhos até mim.

— Sim, mas pode me chamar de Moreira. Danilo é muito formal. — Ele dá uma risada e eu rio junto. — Sua amiga tá doida para fechar uma quatro é par, né? — Ele fala bem perto do meu ouvido, virado para Jess e Victor, que estavam olhando um para o outro como dois apaixonados.

— Nossa, total! Ela ficou falando disso desde a hora que a gente saiu para pegar a bebida. — Eu me aproximo do rosto dele.

— Pois é, o Victor não parou de falar disso desde que saímos de casa. — Ele continua dando umas risadinhas.

Trocamos um papo até o show começar e descobri que ele gostava muito desse mesmo artista, mas só sabia as músicas não autorais cantadas por ele. Ficamos rindo e, em um momento, ele passou a mão no meu cabelo e colocou seu braço sobre meus ombros. Rimos mais um pouco e, de longe, consigo ver meu irmão conversando com um menino que não tirava os olhos de mim, com um olhar que parecia perfurar minha alma de tanta raiva. Puxo a Emilly para falar sobre a situação.

— Amiga, ele me trata igual um lixo e, quando estou com outro, fica olhando com cara de raiva para mim. — Consigo perceber a expressão de Jess mudar na hora. A garota que estava com dúvida ficou com um olhar pior que o de Marcos, que, mesmo depois de um tempo, ainda me olhava.

— Quando esse show acabar, eu vou resolver toda essa situação. — Ela diz isso e, finalmente, o show começa. Depois de tantos anos sendo fã dele e nunca ter tido a oportunidade de ir a um evento como esse.

Estamos anos-luz daquele lugar; nem sei como vim parar aqui. Tua língua eu não entendo.

Ele começa e a única coisa que eu sabia fazer era gritar. Foi quando Moreira me puxou para ele e me virou, de forma que eu ficasse de frente para ele. Conseguia sentir sua respiração sob meu rosto. Quando chegou no refrão da primeira música, ele me beijou. Um beijo doce e, ao mesmo tempo, pesado. Conseguia sentir o coração dele acelerar a cada toque que minha boca fazia na dele. O beijo encaixou muito bem e, talvez, tenha sido o melhor beijo que eu já tinha dado. Tanto é que eu não senti o tempo passar e parece que ele também não.

Me separei do beijo, pois a minha música favorita estava prestes a tocar. Fui andando, me entrosando no meio da multidão em busca de chegar até a pista, onde eu estava torcendo para que o artista passasse perto. Antes de fazer isso, deixei minha bolsa com Jess e pedi para que ela ficasse ali. Continuei até finalmente chegar lá. Quando a música começou, eu já estava chorando de emoção.

— Nossa, amiga, você tá bem? — Sinto um toque suave no meu ombro enquanto olho para o palco. O garoto que estava me cutucando vestia um vermelho vibrante e tinha as unhas mais lindas que eu já vi na vida.

— Tô sim, amigo, até de mais. — Volto a olhar para o palco e começo a cantar:

Já não sei pra onde ir, sinto um vazio por dentro. Me escondo pra fugir, desse sentimento. Guardei meus segredos, repeti meus erros, mas ainda estou aqui...

Depois da última música, volto para procurar Jess ou Pedro. Encontro Jess conversando com meu irmão, mas não entendo o que estão falando. Também observo Victor olhando torto para Marcos, que estava afastado de todos com o resto do grupo. Eu realmente não queria continuar naquele lugar. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para Jess:

— Amiga, eu não tô me sentindo legal. Vou voltar para casa. Relaxa que eu mando mensagem pro Pedro e depois pego minhas coisas na sua casa. Obrigada por tudo, te amo.

Mudei o contato para o meu irmão e mandei um texto parecido, depois saí do lugar do show. Sentia um desconforto profundo quando outras pessoas se intrometiam nos meus assuntos pessoais. Isso me deixava totalmente desconfortável, mesmo que fosse minha melhor amiga e meu irmão. Eu queria resolver isso sozinha e deletar esse menino da minha vida. Quanto mais eu andava, mais pensava nisso e era difícil não sentir vontade de chorar. Aquele nó na minha garganta só crescia.

— Amanda! — Escuto uma voz familiar vindo por trás de mim. Meu soluço estava tão alto que eu quase não conseguia escutar nada além da minha própria respiração. No mesmo instante, olho para trás e vejo ele. O mesmo menino que eu tinha beijado durante uma das melhores músicas do show.

— Moreira? — Eu não consigo não demonstrar meu espanto enquanto o menino parecia meio ofegante.

— O que você tá fazendo aqui, garoto? — Eu pergunto, e o garoto continua mudo tentando recuperar o fôlego. Vou parando de chorar e me acalmando junto com ele.

— Eu que te pergunto, meteu o louco e saiu do nada, doidona. — Ele finalmente responde, se sentando em um banquinho na praça. Me sento ao lado dele e começamos a conversar. Conto quase todos os acontecimentos e ele segue escutando. Fico com medo dele estar me achando meio louca, mas eu precisava desabafar para alguém, já que minha terapeuta estava de licença à maternidade.

Depois de ouvir tudo, ele só me dá um abraço e continua quieto. Achei uma reação bem incomum, mas não falei nada. Ele deita no meu colo e fica olhando para o céu. Por incrível que pareça, isso me trouxe uma paz muito boa. Tirando o frio que estava fazendo e que estávamos em um banco de praça às 4 da manhã, eu realmente não vi o tempo passar e, quando me toquei, já eram 4:20.

— Tá na hora da famosa. — Ele se levanta e tira algo da bolsa.

— Não sabia que você era maconheiro nesse nível. — Dou uma leve risada enquanto o garoto acende o baseado que estava entre seus dedos. Ele entrega o isqueiro na minha mão e me pede para acender.

— Isso aqui é mais íntimo que sexo, hein. — Ele, com o baseado já na boca, solta um sorriso de canto e eu concordo com a cabeça. Na luz, posso observar que ele é realmente bonito. Seus cabelos enrolados e um pouco curtos, sua pele bronzeada; deduzi que ele ia muito para a praia, já que quase não fazia sol onde a gente morava.

Ele me passa o baseado e ficamos conversando até o final dele. Me aproximo dele e toco sua boca, selando as duas. O que era para ser só um beijinho foi esquentando cada vez mais até sermos interrompidos por uma vibração vinda do meu celular. Era Pedro.

— Oi.

— Amanda, porra, cadê você? Já já minha mãe acorda e nada de você chegar, caralho!

— Tô subindo. — Desligo.

— Vou subir já, maconheirinho. — Dou um beijo na bochecha dele enquanto me levanto.

— E aí, doidona, eu sou bandido. — Ele cruza os braços ainda sentado, me olhando com o cenho arqueado.

Não consigo prender a risada.

— Ah, é? Tá mais para um bandidinho. — Dou as costas e vou em direção à rua do meu condomínio. Chego em casa com minha mãe já acordada e me esperando na porta, junto com meu pai.

Fodeu.

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