Depois de ter chegado tão tarde naquele dia, eu fiquei de castigo por duas semanas; foi a maior tortura da minha vida. Não fiquei sem celular, mas a minha vida foi 89% limitada. Fiquei sem poder faltar às aulas durante esse castigo, não podia mais sair nem levar ninguém em casa. Foi uma coisa muito complicada, me comunicando apenas pela internet. Mas o pior de tudo foi que, nesse tempo todo, eu não recebi nenhuma mensagem do garoto moreno. Ele tinha meu número, meu Instagram e não me mandou nada.
Numa manhã, eu acordo cedo para ir à escola onde ele estuda e, inclusive, estuda na minha sala, para piorar toda aquela situação.
Faço toda a minha rotina de manhã e abro minha conversa com Jess.
Amanda: Será que ele vai hoje?
Jess: Não sei, amiga. Faz tempo que ele não vai, né?
Amanda: Pois é... Seu amor não tem como perguntar isso?
Jess: Ah, não, Amanda! Eu não vou perguntar pro Victor se ele vai hoje. Se você quer saber, manda mensagem você mesma!
Amanda: Mais nem morta!
Jogo o celular na cama e coloco meu uniforme. Desço as escadas e pego um pacote de biscoito que estava em cima da bancada da cozinha. Meus pais, como sempre, não estavam em casa. Acho curioso ouvir algum barulho, pois aparentemente Pedro ainda não tinha saído do quarto. Vou com cautela ver quem estava na cozinha e tomo um grande susto ao ver:
— Letícia, meu Deus, quanto tempo! — vou até a senhora que tem a estatura mais baixa que a minha, a pele parda e o cabelo preso em dois coques na parte de baixo da cabeça, beirando a nuca.
— Oi, Amanda, filha, quanto tempo mesmo! — ela me abraça de volta e sorri, fechando um pouco os olhos. — Menina, vai logo terminar de se arrumar, já está quase na hora de você e Pedro irem para a aula — diz, por fim, me arrastando suavemente para fora da cozinha.
Quando termino de me arrumar, bato na porta do quarto do meu irmão, que parecia estar no banheiro. Com a porta do quarto dele encostada, me sinto curiosa para entrar, mas ignoro essa vontade repentina.
— Pedro, anda logo, não quero me atrasar por sua culpa! — grito na porta do quarto dele, obtendo um "já tô indo" como resposta. Desço para a sala, onde Letícia estava colocando algumas coisas em ordem.
— Por que você sumiu por tanto tempo, Lele? — pergunto, sentando no sofá, apoiando minha cabeça ao braço do mesmo e olhando para ela.
— Você sabe que seus pais me deram a conta, né? — Ela se senta na poltrona ao meu lado, colocando a cabeça sob a mão.
— Como assim? Eles me falaram que você foi cuidar da sua neta lá em Minas Gerais e que não tinha previsão de volta! —Digo indignada com a cara de pau dos meus pais de mandar embora a mulher que me criou quase a vida toda enquanto eles estavam viajando para todos os lugares.
— Vamos, Amanda... —
— LETÍCIA! — Pedro grita de alegria ao ver a mulher e vai correndo até ela.
— Oi, Pedrinho lindo da minha vida! — Ela o abraça, tentando arrumar seu cabelo.
— Nossa, comigo você não fala assim! — cruzo os braços e olho com o cenho franzido para os dois.
— A senhorita não está merecendo muitos elogios ultimamente, não, dona Amanda — ela também me abraça e cochicha no meu ouvido. — E essa é a única forma de tentar arrumar o cabelo desse menino.
Rimos juntas e Pedro fica sem entender.
Nos despedimos de Letícia e vamos até onde o carro estava esperando por nós. Seguimos o caminho até a escola, mas evito comentar que nossos pais mandaram Letícia embora e ainda mentiram para nós. Pedro provavelmente iria arrumar o maior barraco com meu pai por uma atitude dessas.
Chegamos na escola e, como sempre, Jess me esperava na porta de entrada com alguma coisa para comer para dividir comigo. Mas, justo nesse dia, havia algo diferente. Victor estava com ela. Percebi uma aproximação muito grande e repentina deles desde o show. Eles já estavam ficando há um tempo, aproximadamente uns três meses, mas isso nunca teve uma mudança tão brusca na nossa rotina. Desde o início desta semana, Victor começou a passar os intervalos com a gente, passou a sentar perto de Jess na sala de aula e começou a realmente estudar para chamar a atenção da garota.
Era nítido como Jess ficava com uma mistura de sentimentos quando estava perto dele: felicidade, vergonha e paixonite. Nunca tinha visto Jess ficar assim perto de alguém, exceto um menino no nono ano. César era o menino mais canalha de toda a cidade. Mesmo ficando com Jess, ele deu em cima de mim e de Celine na mesma época, época em que ela estava um pouco afastada da gente por problemas particulares e não comentava muito das coisas que estavam acontecendo.
— Bom diaaaa! — Como sempre, ela com o mesmo tom arrastado e cantado ao dar seu bom dia diário e vem saltitando até mim, deixando o menino que a acompanhava encostado no muro.
— Bom dia, Jess — meu tom de desânimo de cada dia. Não dava para entender como ela quase sempre estava de bom humor às 7 da manhã.
Fomos até a sala de aula, coloquei minhas coisas na mesa e fiquei no aguardo de Celine. Quando, de repente, vejo Danilo na porta da sala. Só de ver o garoto, meu coração deu um duplo mortal. Não sabia que corações podiam fazer isso. Quando vejo a ex-namorada dele, conversando com o garoto e ainda olhando para mim. Evito trocar contato visual com a garota, que por algum motivo parecia saber de algo. Me sinto uma burra por ter ficado com ele, ou pior, por ter esperado que ele me mandasse mensagem no dia seguinte.
— Amiga do céu! — Com as mãos tampando um pouco a boca, Jess me cutuca com um tapa nada discreto quando se depara com a cena.
— Eu sei, já vi — volto a olhar para o meu telefone, tentando não surtar com isso. Coloco uma música no volume máximo e fico assim até Celine chegar. A mesma chega alguns minutos depois, vendo a triste cena de Danilo e Emanuele.
— Bom dia, gente! — A garota joga sua mochila sobre a minha, coloca a cadeira ao meu lado e encosta sua cabeça no meu ombro. Seguimos a aula daquele jeito: Celine dormindo, eu e Jess copiando a matéria.
— Chegou bem em casa naquele dia? — Danilo se senta na cadeira que Celine estava sentada anteriormente.
— Cheguei sim.
— Que bom. — Ele se levanta e eu volto a guardar meus materiais.
— Amiga, lembra que hoje eu vou para a sua casa depois da aula, né? — Jess, ainda abraçada com Victor, vira seu rosto para falar comigo.
— Quer que a gente vá com vocês até lá? — Victor pergunta a mim e à garota que estava em seus braços.
— Como assim, "a gente"? — Faço um sinal de aspas com a mão, em dúvida.
— Eu e Moreira, ué.
Mas nem ferrando que esse ridículo ia comigo até em casa, ainda mais depois de tudo que ele fez.
— Vamos querer sim — Jess diz por fim, dando um selinho em Victor.
Nossa, essa garota me paga.
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Confusões
FanfictionNessa história, conhecemos Amanda e a vida caótica dessa garota. Mesmo tendo tudo o que toda adolescente quer, esperamos que ela consiga se desenvolver. Espero que vocês gostem. bjao morecos