flocos

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Pedro Tófani, point of view,
São Paulo.

Após tudo aquilo, no processo de fechar a sorveteria eu estava avoado. Me sentindo um péssimo amigo por simplesmente não conseguir ouvir uma só palavra do que Malu falava sobre Alana, mas eu não conseguia focar em uma só palavra do que ela dizia, repassando em minha cabeça cada cena do diálogo que tive com Romania hoje.

— Ei, Peu, cê tá me ouvindo?! — A morena me perguntou, fazendo-me olhar pra ela.

— Desculpa, eu só... Tô meio perdido hoje... — Assumi e a mesma me olhou com carinho.

— Vamos pra sua casa hoje, ok?! Amanhã abriremos tarde mesmo, então tudo bem! Vou chamar a Mari e o Bu, ok?! — Balancei a cabeça positivamente, suspirando enquanto ia em direção ao carro.

Dirigi para minha casa olhando a estrada e viajando em meus pensamentos. Quando chego em meu apartamento, Mari e Zebu já estão esperando com dois engradados de cerveja e uma bolsa que eu conheço bem.

— Quem quer falar dos homens e mulheres bonitas e ficar chapadooooooo?! — Brincou Marília enquanto entramos em minha casa, Quito já foi aos braços de Malu, e Santiago rodava os pés de todos, até chegar até mim e pedir um afago na cabeça.

— Vamos lá, galera, mulheres! Enquanto a cerveja gela mais, vou fazer uns petiscos! — Afirmou Zebu indo para a cozinha. Malu pegou meu vinho e serviu todo mundo.

— Ao sexo que farei daqui dois dias! — Quase engasguei com a afirmação da morena.

— Conta essa porra direito! — Pedi e a mesma, antes de me responder, rodou a sala uma vez.

— Na minha pausa fiquei conversando com a Alana, e na vinda pra cá continuei nossa conversa, então eu e ela marcamos de sair daqui dois dias, na minha folga!

— Você vai sair numa segunda feira?! — Questionou o produtor musical, confuso como todos nós.

— Segunda é minha folga e quem vai abrir de manhã é o Pedro, nada melhor sabe?! — Disse a mesma rindo enquanto tomava mais um pouco do seu vinho.

— Cada louco com sua loucura, boa sorte diva! E você, Tófani, já tomou coragem e chamou o Jão pra sair?! — Engasguei de verdade nesse momento.

— Porque eu faria isso?! — Falei com a voz meio rouca pelo recente engasgo.

— Ué, e aquele flerte era só piada?! Seu olhar pro Jão era "me come, me come, me come". — Joguei uma pantufa nela, que se desviou rapidamente, fazendo o objeto bater na parede.

— Só assume de uma vez, Pedro, vocês querem um ao outro. Se você não tomar coragem, vai acabar perdendo! — Exclamou Guilherme, terminando o primeiro de petiscos, e se eu não estivesse curioso com sua afirmação, questionaria a rapidez do homem.

— E ele tem outra pessoa pela qual está interessado, pra você dizer isso?!

— Amor, ele não precisa estar interessado, ele é o Jão Romania, tudo que ele quer, ele consegue! — Respondeu Malu, revirei meus olhos e retornei o olhar a Zebu.

— Não Pedro, ele não está, mas pretendente, de todos os tipos, não falta! Você é o tipo dele, ele é o seu tipo, por que não tentar?! — Falou o músico, na metade já do outro prato. Ok, a Marília tem sorte.

— Eu não sei não gente...

— Pelo menos pensa no que estamos falando, Peu! Ele com certeza quer você também, se ele aparecer no próximo sábado, é real e você não ter pra onde correr! — Disse Mari, e então seguiram para outro assunto, me deixando refletir sobre isso.

[...]

— Sabe quem tá vindo pra cá hoje?! — Perguntou Malu enquanto eu produzia os sorvetes que faltam.

— Quem, besta?! — Misturava os ingredientes com delicadeza para a textura não se ficar grossa.

— O João idiota! Sabe o que você poderia fazer?! Aquela sua receita especial de sorvete de flocos pro menino! — Teve uma ideia a morena, saltitando como uma criança e batendo palminhas.

— E a sua mulher vai vir?! — Brinquei enquanto colocava a mistura na máquina de sorvete.

— Não, seu ridículo! Vou encontrar ela saindo daqui, ela vai tocar em um show de bossa nova aqui perto e depois vamos pra minha casa tomar vinho e ela conhecer minhas filhas. — Afirmou a mulher com um sorriso no rosto.

— Quero muito que dê certo, só toma cuidado, tente ler bastante as intenções dela, pra não acontecer o que aconteceu com o Lucca! — Pedi, ela me abraçou e dei um beijinho em sua testa.

— Te amo, Pedro! — Exclamou a mesma enquanto saia da cozinha.

— Te amo, Malu! — Devolvi e continuei a produção.

E sim, eu fiz o sorvete de flocos.

[...]

Estava mais uma vez no caixa quando avisto João entrando na sorveteria, usava uma calça moletom azul bem escura, uma camisa branca, um cordão de ouro e seus cachos estavam levemente definidos. Sua boca como sempre vermelha linda. Ele estava todo lindo.

— Oi, Peu! — Antes mesmo de ir até o freezer ele veio falar comigo.

— Peu é?! — Provoquei levemente, fazendo o moreno arregalar os olhos.

— P-posso te chamar assim, né?! Aí meu deus, desculpa mesmo! Eu só...

— Cala boquinha querido, já temos intimidade pelo visto! Você pode me chamar assim, ok?! Aliás queria te dar um negócio, pera aí! — Sem ao menos deixá-lo responder para não perder a coragem, fui até a cozinha e peguei o potinho que deixei cheio de sorvete de flocos no refrigerador. — Toma, por conta da casa.

— Pedro, cê sabe que tá me dando sorvete de graça, né?! E quase quinhentos mililitros aqui, de graça, né?! — O moreno me olhava vermelho, completamente fofo.

— Só aproveite homem, você é gostoso e merece ser mimado! — Malu apareceu batendo duas vezes no ombro do homem, fazendo ele dar um pulinho assustado.

— Vai matar o garoto de susto, mulher! — Afirmei puxando o mesmo para se sentar, após pegar uma colherzinha para o mesmo.

Sento na frente do cantor, entrego a colher e ele sorri pra mim, abrindo o pote.

— Nossa, isso parece incrível! — Exclamou com um enorme sorriso.

— O gosto é melhor ainda! Minha avó que criou a receita, minha mãe também não pode leite e essas coisas, sabe?! — Falei de forma tímida, me culpando por isso.

Ele provou e um fechou os olhos se "derretendo" um pouco na cadeira.

— Isso aqui é muito bom! Toma! — Tento recusar, mas seus olhos pidões me convencem, então abro minha boca e ele põe a colher. Realmente, muito bom. — Obrigado, Peu!

— De nada, Jão! — Respondo e conversamos mais um pouco antes dele dizer que precisa ir.

Volto ao caixa e quando a freguesia se dissipa, Malu para ao meu lado.

— Eu disse que vocês fazem um casal fofo! — Me entregou o celular com a galeria aberta em uma foto minha com o João, me olhando de forma meiga enquanto me ouvia falar.

Talvez não dê errado...

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Capítulo Revisado
Palavras: 1116

ᴍᴇ ʟᴀᴍʙᴇ, au pejão Onde histórias criam vida. Descubra agora