Capítulo Treze

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×°×

Yoongi passou a semana revezando do quarto, para a sala de música e a biblioteca, como fazia antigamente.
Mas, diferente das outras vezes, tudo parecia ainda mais entediante do que já era.

Sua mente parecia não parar de trabalhar e, na maior parte do tempo, quando trabalhava, era em função da médica.

Era ridículo perceber as sensações que sua mente fazia seu corpo sentir.
O coração estava apertado de arrependimento por não ter aproveitado o tempo que teve. Além da sensação de impotência de entender que não havia jeito algum de aproveitar, de qualquer forma, dentro daquele lugar... Estava de mãos atadas.

Era ridículo perceber o quanto aquele lugar não pareceu tão infernal por um tempo. Por menos de um mês, não se sentiu sufocado pelos muros e quase se esqueceu que ficaria ali pra sempre.

Foi mais ridículo também admitir para si próprio que se apaixonou pela doutora.

O dia que percebeu – cerca de três dias após a partida da médica –, precisou falar em voz alta para externar o quão idiota era. Logo após se ouvir, teve uma crise de riso, desacreditado, que quase fez com os enfermeiros que passavam pelo local lhe dessem remédios para controlar o surto.

A que ponto a falta de sexo em sua vida havia o levado? Estava se tornando o coringa por ter interagido com uma pessoa consciente do sexo oposto? Só podia ser isso, pois se recusou a acreditar aquilo passava de desejo carnal.

Entretanto, nos dias que seguiram, já não parecia tão engraçado pensar nisso. Na verdade, sentia uma agonia enorme, como se tivesse perdido algo necessário.
Mas como perderia algo que não teve? E era pouco tempo, de qualquer modo, para sentir essa perda. Não era?

Independente do que sentia, Yoongi decidiu desfocar e deixar que a irritação consigo mesmo tomasse conta. Melhor irritado, do que envolvido em um sentimento que jamais se tornaria real. E que sentia que nem merecia sentir.

Sentado em frente ao piano, olhou o relógio de parede vendo o horário de sua sessão chegar e ultrapassar alguns minutos.

Sabia que Dr. Eunji não tinha culpa da sua irritação, mas decidiu não se esforçar para demonstrar qualquer outro sentimento. Quanto mais irritado, mais calado e menor a chance de dar com a língua nos dentes sobre o que sentia.
Ela já estava acostumada com seu jeito, além de que também estava acostumada a buscá-lo na sala de música, então nem se moveu enquanto a aguardava.

"De volta aos velhos tempos." pensou.

Continuou tocando a melodia que havia criado naqueles dias, enquanto pensava na letra que, quem sabe um dia, transformaria em música.

"Eu preciso de você, garota, por que eu amo sozinho e termino sozinho?
Eu preciso de você, garota, porque sabendo que vou me machucar, toda hora preciso de você?"

- Essa melodia eu nunca ouvi. Quem toca? - Imediatamente, parou de tocar, pensando que estava alucinando ao ouvir a voz da mulher que não saia da sua cabeça, e preferiu não olhar para trás e perceber que não tinha ninguém. - É sério que voltamos à fase de ter que vir te buscar? Achei que já tínhamos superado isso, Min Yoongi.

Sentiu os pelos do seu corpo se arrepiarem e o coração paralisar quando ouviu passos se aproximando e a médica se fez presente em seu campo de visão.
Se aquilo fosse uma alucinação, nunca mais tomaria remédio algum, pois era a melhor que já havia tido.

Yunah, por sua vez, com os braços cruzados e olhar desafiador, observava o rapaz com os olhos arregalados, paralisado à sua frente.
Sabia que ele pensava que ela havia saído do hospital, inclusive, fez o possível para não estar no mesmo lugar que o rapaz para que não notasse sua presença.

Era difícil entender o porquê, mas sentiu vontade de ver a surpresa em seu rosto. E lá estava ela. Segurou o riso e continuou:

- O que foi? Também voltamos à fase em que você não fala?

Os olhos do rapaz, fixos na doutora, pareciam querer gravar cada pedacinho da imagem projetada à sua frente.
O olhar percorria da cabeça aos pés, se certificando que não era uma miragem. Ela realmente estava ali. E da mesma forma que havia feito seu coração parar de bater por alguns segundos, também foi o motivo para trazê-lo de volta à vida. Ele batia como se quisesse sair do peito e ir andando até a médica.
E ao contrário do seu interior, que não parava de se remexer, estava completamente congelado por fora, de boca aberta.

- Ok, eu tô começando a ficar assustada. - Yunah começou a se aproximar, na intenção de cutucá-lo, para receber alguma reação, mas parou ao ouvir a voz baixa do rapaz.

- O que você tá fazendo aqui?

- Eu vim te buscar para nossa consulta. Você demorou para aparecer na sala e eu achei melhor vir atrás de vo... - Foi interrompida.

- O que você está fazendo no hospital? Cadê a doutora Eun-ji? - A médica observou o rosto assustado de Yoongi enquanto a questionava. Não era aquela reação que esperava ao anunciar que permaneceria por ali. Pensou que ele pudesse ficar irritado ou até indiferente, mas jamais esperou vê-lo assustado.

- Ela vai ficar mais um tempo fora. Enquanto isso, continuo como substituta. Achei que tivesse comentado. - Mentiu.

"É claro que não comentou!" O rapaz quis gritar. Se Yunah tivesse falado algo, ele não teria se sentido tão mal achando que ela iria embora. Também não teria feito um discurso ridículo de despedida, esperando que ela nunca mais o veria para julgar sua atitude de fraqueza. E, pior ainda, se tivesse falado, ele teria esperado mais para admitir. Agora, aquela sensação parecia querer engoli-lo e não tinha nada que pudesse fazer.

Yoongi fechou a boca e os olhos, tentando se recompor. Engoliu a saliva, enquanto sentia a garganta seca se hidratar novamente. Mais uma, duas, três respirações profundas, até abrir novamente os olhos e sabia que tudo sumiria.

Porém, quando o fez e encarou novamente o olhar da doutora sobre si, soltou um riso desacreditado, sem a menor graça, e precisou apoiar o cotovelo no teclado do piano enquanto levava ambas as mãos em seu rosto, escondendo a risada silenciosa, porém um tanto descontrolada, que havia tomado conta de si.

- Eu só posso ser um grande fodido mesmo. - Murmurou, negando com a cabeça, ainda com o rosto entre as mãos, deixando Yunah confusa. - Não... Quer saber? - Ergueu a cabeça, olhando para a médica, ainda com vestígios da risada desacreditada em sua boca. - Eu mereço isso. É isso, isso é parte do meu castigo, tenho certeza. - Se levantou, indo em direção à porta, mas parou e olhou para trás quando notou que Yunah não havia seguido. - Não veio me buscar para o consultório? Te espero lá, então.

A médica ficou parada observando o paciente sumir de vista.
Ao decidir não contar sobre sua volta, imaginou que Yoongi pudesse se irritar, mas não a ponto de achar que ela era um castigo.

E aquilo doeu de uma forma que não deveria doer.

Será que era tão ruim assim? Será que todo o discurso que tinha ouvido em seu suposto "último dia" era apenas da boca pra fora?
Seu coração que, até entrar na sala, bombeava estranhamente nervoso, sem saber qual seria a reação dele, agora parecia murcho. Se sentiu uma idiota por ter planejado todo aquele teatro, até havia colocado um vestido para seu retorno triunfal.

"O que esperava? Que ele fosse te parabenizar por ficar? Agradecer por ter sido a melhor médica que algum paciente poderia ter? Idiota!" pensou antes de revirar os olhos em frustração e seguir os passos feitos mais cedo por seu paciente.

Era isso que ele era.
Seu paciente.
Não havia espaço para joguinhos.

Dali em diante, voltaria a ser o que jamais deveria ter deixado de ser: profissional.
Sem mais euforias ou expectativas e neutra frente a qualquer tipo de emoção com relação ao caso do seu paciente, assim como era com os demais.

AshesOnde histórias criam vida. Descubra agora