Capítulo Quinze

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Ao chegarem no pátio, se sentaram em um nos bancos que ficavam de frente para uma das melhores vistas do hospital que, por ser alto, tinha uma visão privilegiada na cidade.

O céu estava incrivelmente azul, depois das tempestades que caíram nos últimos dias. Algumas poucas nuvens brancas coloriam o céu para dar um contraste e fazer o cenário se tornar perfeito aos olhos de Yunah. Era seu clima favorito. Quase sentia vontade de sorrir apenas por sentir o calor tocando sua pele.

Em compensação, ao olhar levemente para o lado, viu seu paciente praticamente refletindo o sol na pele extremamente branca.
O rosto franzido com os olhos miúdos, tentando se livrar da luz forte, junto da expressão claramente insatisfeita de estar ali, fez com que fosse inevitável o riso soprado.
"Fofo." Não conseguiu evitar o pensamento.

Imediatamente, ele a olhou, tentando entender o motivo daquilo.

- Sabe quem também odeia o sol, Sr. Min? Vampiros. Seria você um membro da família Cullen? - Tentou quebrar o gelo, mas o paciente apenas continuou encarando, sem mudar a expressão ou dizer qualquer coisa. Não podia negar que esperou alguma piadinha maliciosa sobre o que tinha dito ou alguma reação típica do rapaz, mas quando não houve, entendeu que ele realmente não estava no clima de conversar. - Quando eu tinha cinco anos, meu pai construiu um balanço para mim no quintal da nossa casa. Tínhamos uma árvore enorme e isso fazia com que o balanço fosse super alto. - Yoongi a observava atentamente, enquanto falava. - Eu amava quando o céu estava azul assim, e passava horas vendo as nuvens, esperando que elas formassem desenhos de animais. Um dia, elas formaram um coelho e a Yunah de cinco anos resolveu tentar pegá-lo. - A médica riu, nostálgica, se antecipando nas memórias e olhando para o nada. - Fiz o maior impulso que consegui, para o balanço ir para o alto. E quando ele foi alto o suficiente, soltei as mãos das cordas para pegar o coelhinho... Acabei ficando sem o coelho e sem os dois dentes da frente até os sete anos.

A imagem que formou na sua mente com a cena que a mulher descrevia e forma cômica como falava, arrancaram um riso sincero de Yoongi.
Ele quase conseguiu imaginar uma mini Yunah, com semblante decidido, tentando alcançar a nuvem.

- Mesmo com essa péssima memória, continuei gostando de ver o céu assim. Às vezes até procurava nuvens com o formato dos meus dentes, achando que iriam zombar de mim. - Riu novamente, notando o olhar do paciente fixo sobre si e sombra de um sorriso que tomava sua boca a pouco.

Sempre que ela falava, o coração de Yoongi sentia calma e, em sua mente, só havia a sua voz.
Queria poder pedir para que ela se mantivesse falando sobre qualquer coisa que não fosse sua própria história, para tentar se livrar do peso que ainda apertava seu peito.

- Você também via formas nas nuvens, Sr. Min? - Ambos desviaram o olhar para o céu e, quando percebeu que o rapaz não responderia, continuou.- Depois de adulta, nunca mais vi. Às vezes é meio tedioso ser adulto. O céu é só o céu, as nuvens são só nuvens... Tudo só é o que é e basta a gente aceitar, já que não dá para mudar. Não dá para passar o resto da vida se culpando por um dia ter sido criança e ter tido a oportunidade de ver o mundo de uma forma diferente. A gente só precisa continuar com o que tem e fazer o melhor possível com isso.


Yoongi entendeu o que ela estava tentando dizer. E já não era mais sobre as nuvens.

Ele queria saber o que fazer com o que tinha sobrado, mas não tinha nada. Não sobrou nada para que pudesse "fazer o melhor".
Também não conseguia não se culpar por tudo e apenas seguir; não se sentia merecedor disso.

- Às vezes nós damos muito poder aos pensamentos, como se eles sempre tivessem total razão de tudo. Mas, vamos lá... - A médica disse em tom de deboche. - Meu pensamento um dia achou que eu ia ser capaz de pegar uma nuvem. Como eu poderia deixar isso me dominar e definir quem ou como eu vou ser?

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