No mais profundo sono

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Summer after highschool when we firts met
We'd make out in your Mustang to Radiohead
And on my 18th birthday we got matching tattoos
[...]
Talk about our future like we had a clue
Never planned that one day I'd be losing you
[...]

The One That Got Away | Katy Perry

────── 𖤐 ──────

Luxanna não conseguia respirar. Seu nervosismo a atrapalhava; sua voz parecia não querer sair; e, acima de tudo, seu choro entalado lhe apertava o coração. Ela não conseguia nem ao menos se mexer, causando-lhe um sentimento de insuficiência que já havia experienciado antes.

Ali, parada, com os braços e pernas amarrados, sentia-se impotente; não havia nada que pudesse fazer. Não conseguia.
Aqueles estranhos musgos arroxeados lhe puxavam cada vez mais para baixo, fazendo-a afundar em uma lama de cor igual. Sua cintura já estava praticamente toda presa abaixo da lama, quando, novamente, ela a viu.

Lux tentou chamar por seu nome. Fazê-la sair daquele transe. Não, não podia deixar acontecer de novo. Seus lábios formularam a palavra, mas sua voz se negou a sair. Debatia-se incontrolavelmente, almejando sair dali a todo e qualquer custo para correr aos braços de sua amiga. Novamente, sua boca gesticulou o que sua voz não pôde. Seus braços já estavam enlameados por completo, quando, num último suspiro, sua voz saíra em uma trovejada.

"Jinx!"

Lux se sentou. Não enxergava nada, tudo ao seu redor estava um breu. Sentia-se molhada, a boca seca, e, apesar do suor, tremia de frio. Demorou pouco mais de alguns segundos para que ela percebesse que ainda estava em seu quarto, na sua cama. Acendeu o abajur e tornou a olhar para frente, na certeza de que ainda estava segura em sua cama, e não sendo puxada para uma lama, enquanto via a melhor amiga morrer em sua frente.

Jinx. Fora seu primeiro pensamento. Levou a mão ao peito, sentindo a camiseta encharcada de suor frio. Seu cabelo grudara na testa, e de repente, o quarto parecera bem menos confortável e agradável. Jogou as cobertas para o lado e encostou os pés descalços no chão gelado. Ela estava bem, não estava em um sonho estúpido.
Àquela fora a terceira vez em uma semana; sonhava com coisas absurdas e improváveis desde que... bem, desde que Jinx se fora. Abandonara o time.
Lux balançou a cabeça e se pôs de volta ao mundo.

Lenta e silenciosamente, seguiu para a cozinha, tomando cuidado ao passar pelos desenhos espalhados pelo corredor. Lulu conseguira fazer uma bagunça e tanto. Pé ante pé, Lux alcançou a geladeira; encheu um copo de água e entornou-o com gosto. E mesmo após isso, sua boca continuava seca. Ela sabia que não conseguiria dormir. Tinha medo de ter mais pesadelos. Tinha medo de falhar como líder do grupo; Lux não era perfeita. Ela sabia disso. Mas não deixava de se cobrar tanto quanto necessário.

Em um longo suspiro, Lux mal pode ouvir alguém se aproximando. Se fosse qualquer mostro, ela com certeza já estaria morta, pois não mexera um músculo para fazer algo. No final de contas, não passava de uma silhueta fina e posturada.

— Janna? — indagou Lux, afiando os olhos para a sombra.

— O que faz acordada uma hora dessas? — saindo das sombras, uma mulher alta de cabelos roxos esvoaçantes e aparência séria surgiu. — São duas e vinte e quatro da manhã, Lux.

— Eu sei. — retorquiu a menina. — Desculpe.

Janna continuou parada no corredor, observando a garota atentamente. Suspirou pesadamente e abaixou os olhos.

— Pesadelos? — perguntou.

Lux assentiu.

— De novo. Eu não... eu não sei o que são. Ou o que devem representar. Você me disse uma vez que eles servem de aviso, não?

— Às vezes, sim. Às vezes, não. Não se baseie somente nisso, Lux. Às vezes..., bom, às vezes pode ser só seu subconsciente mesmo. — disse Janna, distraída. — Desde Jinx foi embora, você tem reclamado de estar dormindo mal.

— Ah, Janna, por favor, precisamos mesmo discutir isso agora? — Lux amarrou a cara na mesma hora, não estava gostando de citar o nome da antiga companheira depois de ela se fora.

Já tivera essa discussão com Janna; não precisava de mais um sermão sobre como ela deveria agir. Ainda mais agora, que perdera a melhor amiga.

— Não precisaríamos discutir se você não sofresse tanto com a partida dela. — respondeu Janna, como se lesse seus pensamentos.

— Ela não morreu, Janna! Sei que parece que estou sofrendo... — começou Lux.

— Você está. — interviu a amiga.

— ... Mas não estou! Jinx sabe se virar muito bem. E nós também.

— Você sabe muito bem o que eu quero dizer, Lux. — rebateu Janna.

Lux abaixou a cabeça quase imediatamente. Ela sabia que Janna não estava errada. Sua preocupação não era com um membro do time ter saído. Sua preocupação era Jinx ter ido embora. Ela, Lux, odiava a teimosia da amiga; a síndrome de protagonista; a cabeça dura dela; a incansável vontade de não falhar.

— Lux. — chamou-lhe Janna. — Está tudo bem. É normal você ficar assim. Você não perdeu um membro do time. Você perdeu sua amiga.

Lux não respondeu. Era como se tivesse acabado de tomar um tremendo choque. Seu ponto fraco tinha sido atingido em cheio.
Aturdida — e agora irritada —, Lux balançou a cabeça.

— Eu vou dormir. — anunciou, deixando o copo de lado sem se importar com o barulho.

Janna não a impediu de sair da cozinha, na verdade, nada disse. Lux passou pelo corredor sem nem ligar para os desenhos de Lulu, amassando-os.

Quando chegou ao quarto, fechou a porta com um baque surdo e sentou na beira da cama. Estava com raiva. De Jinx; de si mesma. Gemeu de raiva e se jogou para trás. Não queria voltar a dormir, pois sabia que teria outro pesadelo. Mas queria poder ver Jinx; vê-la ali, mesmo que em um sonho ruim. Sentia-se culpada por querer isso. Por querer tê-la por perto de novo.

E com mais de mil pensamentos correndo-lhe a cabeça, Lux adormeceu. No final de contas, ela acordaria em sua cama, estaria segura. E Jinx não estaria morta.

Mas agora, desejava voltar no tempo. Queria que tudo o que lhe acontecera fosse de fato um sonho ruim.

— Jinx? — disse baixinho, na esperança de que ela fosse responder.

Seus olhos estavam entreabertos. Sem vida. Não havia brilho algum. Da sua boca, um fio vermelho escorreria pela bochecha.

— Você não devia ter feito isso. — gemeu Lux, a voz esganiçada.

Os cabelos vermelhos da garota mesclavam-se com o sangue que lhe escorria; Lux devia ter previsto. Devia ter feito algo. Talvez impedido-a de se pôr na frente daquele maldito disparo. Devia tê-la empurrado para longe. Agora era tarde demais.

Metade de sua cintura fora atingida, fumegava, enquanto partículas alaranjadas voavam aos céus. Estavam somente elas. Janna se encarregara de tirar Poppy e Lulu para algum lugar longe dali. Mas Lux não ligava nem um pouco. A única coisa que devia ser alentada era a melhor amiga inerte em seus braços. Não importava quantas vezes ela lhe chamasse. Dessa vez, ela não iria acordar.
E Lux também não iria.

Written down for u - oneshots Onde histórias criam vida. Descubra agora